Madrid acordou na expetativa de uma demissão: a de Julen Lopetegui. E teve-a. Jornalistas não faltaram ao treino matinal em Valdebebas na curiosidade de perceberem qual iria ser a posição do presidente Florentino Pérez em relação à goleada de 5-1 sofrida domingo em Camp Nou, frente ao Barcelona. Ainda por cima porque o resultado pesado vem na sequência de muitas exibições impróprias para quem ostenta três Ligas dos Campeões consecutivas. Mas Lopetegui dirigiu a sessão de treino como habitualmente, preparando o confronto com o Melilla de amanhã. De pouco lhe serviu.
O antigo treinador do FCPorto nunca foi consensual em Chamartín. Até porque a forma como foi apresentado aos adeptos madrilenos, na véspera do início da fase final do Campeonato do Mundo da Rússia, para o qual apurara a seleção espanhola, tornou inevitável a sua destituição do cargo de selecionador. É bem verdade que bons começos é coisa que os espanhóis não gostam de ver aos filhos, mas o início do campeonato do Real não foi mau. À quinta jornada, apenas um empate cedido. No entanto, esse empate teve lugar emSan Mamés, terreno sempre complicado do Athletic Bilbau. Depois, Sevilha marcou o aparecimento de um fantasma branco que vagueia penosamente pelos campos de Espanha. Derrota pesada: 0-3. Os sinos tocaram a rebate, mas de pouco serviu.
O Santiago Bernabéu também perdeu a chama. Empate com o rival Atlético (0-0) e derrota com o Levante (1-2).Pelo meio, outra derrota, no campo do Leganés (0-1). O público chora pelos golos de Ronaldo, Gareth Bale não prova ser de verdadeira classe, Benzema raramente chuta à baliza, o meio-campo e a defesa debatem-se com equívocos evidentes, próprios de um estilo de jogo que queria à força privilegiar a posse de bola, deixando cair as cavalgadas de contragolpe que eram imagem de marca de uma equipa voraz. Para ajudar à festa, Valdano, que é uma espécie de senador do clube, ou uma consciência atenta, se preferirem, não teve papas na língua: “Bale julga que pode fazer tudo o que lhe apetece.”
No final da tarde de anteontem, nenhum dos nossos colegas espanhóis tinha dúvidas quanto ao futuro de Lopetegui: “La Directiva lo distituirá pronto!”, mas o pronto tornou-se mais lento do que se supunha. Sobretudo porque o técnico desejado por FlorentinoPérez para devolver ânimo aos jogadores – Antonio Conte – provoca desânimo nalguns deles, como é o caso do guarda-redes belga Courtois, que não teve pejo em afirmar: “Não posso acreditar! Sou o único aqui que já trabalhou com o Conte e com o Mourinho. Deixei Londres para não ter de passar por algo assim novamente e agora dizem que vem Conte ou, se não, o Mourinho…”
Conte e Solari A forma como Conte geriu a sua relação com vários jogadores do Chelsea põe alguns dos diretores do Real de pé atrás, embora toda a gente saiba que a palavra de Florentino é a única que vale. Além disso, as suas exigências não estão a ser bem encaradas: contrato até 2021 e cinco adjuntos da sua confiança, entre técnico de guarda-redes e nutricionistas. O italiano é de opinião que muitos jogadores têm excesso de peso. Após a demissão de Lopetegui, o argentino Santiago Solari foi a solução imediata. Solari era o treinador do Castilla, a equipa B do Real, e aguentará segurar o barco até que um nome mais agregador estiver disponível para entrar em campo. Embora só possa fazê-lo nos próximos quatro jogos. Depois o Real tem de o entronizar como técnico principal ou apresentar outro.
Um pouco por todo lado discute-se a real crise. E a dificuldade que o presidente dos merengues teve em responder às saídas (previsíveis) de Zidane e Ronaldo. As tentativas falhadas de contratar Pochettino, do Tottenham, e Allegri, da Juventus, empurraram-no para um beco sem saída. Lopetegui aceitou a situação sem queixumes e isso fragilizou-o. Florentino é acusado de deixar empobrecer o plantel de há dois anos a esta parte e de fazer promessas pouco críveis. “Os golos que Ronaldo marcava serão marcados por Bale e Benzema.” Viste-los… A política económica do clube está marcada pela decisão de renovar o estádio e a dívida poderá aumentar até ao exagero de 575 milhões de euros. Apesar disso, foram gastos 45 milhões na contratação do jovem avançado brasileiro Vinicius, do Flamengo, jogador que Lopetegui considerou ainda muito verde e sem estrutura para as exigências do campeão da Europa.
Claro que uma queda como a que envolve neste momento o maior clube do mundo não se prende somente a um culpado. Há muitas justificações para o desastre, mas a solução passou, como é costume, pela saída do treinador. Contra ele, o facto de o futebol do Real ser pobre e dececionante, a despeito de continuar a ter por intérpretes algumas das mais brilhantes estrelas do futebol universal. A partir de ontem novo rumo se abre.