Este ano tem sido conturbado em matéria de greves realizadas pelo setor da administração pública. Professores, médicos enfermeiros, entre outras profissões têm expressado o seu descontentamento através de várias paralisações.
A saúde é o setor onde o descontentamento se tem tornado mais evidente. Só este ano, os enfermeiros já paralisaram mais de 100 dias devido a greves – podendo algumas greves ter afetado dias inteiros de trabalho ou apenas alguns períodos do dia.
De acordo com o site da Direção-Geral da Administração e do Emprego Público, onde são registados os pré-avisos de greve, em março foram convocados dois dias de greve, pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), para os dias 22 e 23; a 19 de maio, realizou-se um novo protesto marcado pelo Sindicato dos Enfermeiros (SE) e pelo Sindicato Independente dos Profissionais de Enfermagem (SIPE); a 28 de junho, o SEP organizou mais um dia de paralisação; em agosto, entre os dias 13 e 17, o SIPE e SE convocaram mais cinco dias de greve; nos dias 20 e 21 de setembro, o SEP, o Sindicato dos Enfermeiros da Região Autónoma da Madeira (SERAM), o Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal e a Associação Sindical dos Enfermeiros, realizaram outros dois dias de protesto. Por fim, este mês os enfermeiros voltaram em força aos protestos, numa greve que durou seis dias.
Este ano, os médicos acalmaram na contestação. Desde janeiro até ontem, segundo dados do Sindicato Independente dos Médicos e da Federação Nacional dos Médicos, fizeram apenas uma greve de três dias em maio. Já no ano passado, de acordo com dados da CGTP, os médicos fizeram três greves.
De acordo com os números divulgados no portal da transparência do Serviço Nacional de Saúde, entre janeiro e julho de 2018 os médicos, enfermeiros, assistentes operacionais e técnicos operacionais, já tinham perdido 84 mil dias de trabalho. Mais 37 mil dias do que no período homólogo.
Outro dos setores que mais tem contestado é o da educação. O braço-de-ferro traçado entre os professores e o governo já se estende por largos meses, mas só nestes dez meses de 2018, os professores já pararam 50 dias.
De acordo com a Fenprof, a primeira greve dos professores deste ano decorreu em março – entre 13 e 16 de março. Já a segundo paralisação foi mais longa: decorreu entre 4 de junho de 31 de julho, com os professores a fazerem greve às avaliações. Contudo, os sindicatos deram o protesto como terminada a 13 de julho, prometendo voltar às ruas no início do ano letivo. Mas esta só terminou no final do mês de julho porque o Sindicato de Todos os Professores (STOP) decidiu prolongar a greve até ao final do mês.
Já com o ano letivo a decorrer, os professores voltaram aos protestos por mais quatro dias – entre 1 e 4 de outubro e ainda realizaram uma manifestação a 5 de outubro.
Mas, as reivindicações não se ficam por aqui. Este ano, os estivadores decidiram levar a cabo uma greve ao trabalho suplementar que acabou por se prolongar duas vezes: inicialmente a greve iria durar quatro semanas (entre 13 de agosto e 10 de setembro), mas foi prolongada para 8 de outubro. Nesse dia, os estivadores anunciaram que vão prolongar a greve até ao primeiro dia de 2019.
Os guardas prisionais também têm mostrado descontentamento. Na terça-feira, o setor iniciou uma greve nacional com duração de três dias, sendo que depois se irão juntar à greve de hoje da função pública.
Greve na função pública irá fechar escolas e adiar consultas
A greve dos funcionários públicos, agendada para hoje, vai afetar todos os setores da administração pública. Escolas fechadas, adiamento de consultas e algumas autarquias sem recolha de lixo. É este o cenário descrito por José Abraão, secretário-geral da Federação dos Sindicatos da Administração Pública (FESAP).
De acordo com o responsável, o pré-aviso de greve engloba todas as áreas da função pública – desde a educação, justiça, segurança social, saúde, finanças, entre outras – à exceção dos transportes. Por esse motivo, o secretário-geral da FESAP considera que “os setores onde se sentirão mais os efeitos da greve é na área da educação porque as escolas vão ser fechadas; na saúde haverá problemas nas consultas e nos blocos operatórios; nas autarquias desde a recolha do lixo até aos setor dos serviços”.
José Abraão disse à Lusa que espera que a adesão à greve seja forte: “Dos contactos que tivemos com os trabalhadores pudemos concluir que esta vai ser uma grande greve nacional na administração pública, com repercussões em todos os setores”.
Ana Voila, coordenadora da Frente Comum também está com expectativas altas para a greve de hoje. “A expectativa relativamente à greve é cada vez maior, pois os trabalhadores estão cada vez mais determinados”, disse.
Os funcionários públicos exigem melhores condições salariais, que o descongelamento das carreiras deixe de ser feito de forma faseada, entre outros. Segundo José Abraão, estes motivos “apontam no sentido de que a greve tenha impacto. Esperamos que o governo tire ilações e rapidamente volte à mesa das negociações, porque dizem que vão aumentar os salários da função pública e não temos uma única proposta em concreto”.
A greve foi convocada pela Frente Comum, onde se juntou a FESAP e o Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado.