O PS retirou Helena Roseta do grupo de trabalho sobre a habitação, depois da deputada se ter demitido do cargo de coordenadora. Roseta admite ao i que ficou surpreendida com a decisão do grupo parlamentar socialista. “Ninguém me avisou”, garante. A deputada soube do veredicto através de um email geral – assinado pelo chefe de gabinete do grupo parlamentar do PS – que foi enviado a todos os deputados. Apesar da surpresa, desvaloriza a decisão do grupo parlamentar socialista, afirmando que é apenas mais “uma peripécia no meio disto tudo”.
A deputada independente do PS demitiu-se do cargo de coordenadora do grupo de trabalho para a Habitação, Reabilitação Urbana e Políticas de Cidades em divergência com a direção do partido. Em causa está o terceiro adiamento – feito a pedido dos socialistas – das votações sobre as novas regras da habitação, que incluem o arrendamento acessível e redução do IRS para senhorios. A demissão do cargo de coordenadora não implicava a saída grupo de trabalho. Mas o PS optou por retirá-la.
“Era mesmo uma questão de condução dos trabalhos. Eu não posso conduzir os trabalhos contra a vontade do partido que me indicou para esse fim. Isto é elementar. Agora, a partir do momento que o partido me quer fora, está no seu direito”, explica.
Mesmo com a decisão do PS, a deputada afirma que continua “disponível para trabalhar com o grupo de trabalho”. O regulamento da Assembleia da República permite que os deputados participem nos exercícios dos grupos de trabalho mesmo que não sejam membros. E Helena Roseta promete continuar a fazê-lo. “O meu objetivo é resolver as questões da habitação, não é saber se tenho ou não lugar”, defende.
A deputada independente do PS garante ainda que este episódio lhe deu “ainda mais vontade para batalhar”. “As dificuldades desafiam-nos. Quanto mais difícil mais gozo dá”, acrescenta.
Carlos César culpa Helena Roseta O adiamento das votações das novas regras de arrendamento estava previsto há semanas, uma vez que os socialistas não conseguiram chegar a acordo com a esquerda para aprovar as propostas. Mas para Helena Roseta, o erro é do PS e do governo e não é de agora. A deputada afirmou ontem que, apesar de ter insistido no assunto, “nas negociações do Orçamento ninguém falou de habitação”.
A deputada lamentou também que os socialistas apenas tenham decidido olhar para o tema quando a proposta de Orçamento do Estado para 2019 já estava terminada, para depois afirmarem que já não havia tempo para negociar o pacote com os outros partidos. Helena Roseta acusou mesmo o PS de falta de coragem política e bom senso.
Quem não concordou com as afirmações foi Carlos César. No programa da TSF “Almoços Grátis”, o presidente do PS defendeu que “há aqui um equívoco”. “Quem até agora dirigiu toda a negociação e representação do PS no plano parlamentar, no grupo de trabalho e na comissão tem sido precisamente Helena Roseta”, atirou o socialista.
O líder da bancada parlamentar socialista reconheceu, contudo, que há um “impasse” no grupo de trabalho dedicado às questões da habitação que é preciso “quebrar”.
Nesse sentido, já foi escolhido o novo coordenador: o deputado socialista Hugo Pires. É arquiteto de profissão, secretário nacional do PS para a Organização e antigo presidente da concelhia de Braga.
Além de Hugo Pires, vão integrar ainda o grupo de trabalho os deputados Nuno Sá e Luís Vilhena.
Novo coordenador tem imobiliárias O substituto de Helena Roseta na coordenação do grupo de trabalho dedicado à habitação está ligado a empresas do setor imobiliário. Segundo o DN, é proprietário da CRIAT, uma empresa de Braga que trabalha no setor da “Arquitetura, Engenharia e Construção”. E detém 50% do capital social de uma outra empresa, a CRIAT Imobiliária, com sede em Amares e especializada em “investimentos Imobiliários”.
Estas informações estão incluídas na declaração de interesses do deputado, que foi entregue na Assembleia da República. Segundo o documento, Hugo Pires é titular da totalidade do capital social da CRIAT e foi sócio-gerente da empresa entre 2014 e 2015, onde era remunerado. No entanto, o mesmo registo indica que, a partir de 1 de abril deste ano, o deputado passou a ser gerente não remunerado.
A empresa de que Hugo Pires é proprietário, a CRIAT, declara, entre outras atividades, o alojamento turístico. Ao DN, o socialista afirmou que, apesar desse ser o registo das atividades económicas, a empresa nunca se dedicou nem ao arrendamento, nem ao alojamento turístico.
Em declarações ao mesmo jornal, Hugo Pires afirmou que julga não haver incompatibilidade entre ter participações sociais em empresas do setor imobiliário e coordenar o grupo de trabalho sobre habitação. Ainda assim, o socialista garantiu que vai solicitar um parecer para esclarecer a situação.