Gilberto Benetton. A costura do império

Gilberto Benetton. A costura do império


Morreu o homem que fez da Benetton um gigante. Gilberto, um dos quatro fundadores, tinha 77 anos e parte após um verão negro


No império Benetton, os quatro irmãos fundadores tinham papéis bem definidos. Luciano era o criativo, Giuliana e Carlo (morto este verão), responsáveis por toda a produção do grupo, e Gilberto cuidava dos números.

O responsável por ter feito da marca um império morreu aos 77 anos em casa, vítima de doença súbita que se seguiu a um período de grande agitação. A saúde de Gilberto Benetton agravou-se este verão após a queda da Ponte Morandi, em Génova, a 15 de agosto, que fez mais de 40 mortos, já que a concessionária que fazia a manutenção da estrutura era propriedade da família. Isto pouco mais de um mês depois de o irmão Carlo ter partido, aos 74 anos, devido a doença descoberta já este ano. 

A Benetton foi fundada pelos irmãos Luciano, Carlo e Gilberto, com a irmã Giuliana, em 1965, em Ponzano Veneto, uma vila perto de Veneza. Nasceu como empresa familiar de pequena produção, vendendo camisolas de lã para o comércio local. O tecido e os tons coloridos da coleção deram-lhe o reconhecimento de uma marca visual que se transformaria num grande império à escala mundial e uma das bandeiras da exportação de produtos italianos, comparável ao grupo Fiat nos automóveis. 

É aqui que Gilberto afirma a sua importância, sobretudo na década de 80, quando abre lojas em cem países e fábricas em territórios de mão-de-obra barata. A Benetton revoluciona o mercado de vestuário a preços acessíveis (low-cost) e é precursora de futuras multinacionais como a Zara, a Pull & Bear e a H&M. 

Em 1986 tem quatro mil lojas espalhadas por 57 países e, na entrada em bolsa, a cotação das ações começa nas dez mil liras e dispara para as 17 mil – uma valorização inédita em Itália. É Gilberto Benetton quem decide diversificar o negócio, investindo lucros em infraestruturas e no setor alimentar. No grande boom de privatizações em Itália, a Benetton adquire os aeroportos de Roma, Nice e Cannes, e a Autogrill, um gigante da alimentação, que hoje fatura qualquer coisa como quatro mil milhões de euros.

É o apogeu da Benetton, com a publicidade a ser substituída pelas famosas campanhas de sensibilização universal para a igualdade e direitos. As campanhas são assinadas pelo fotógrafo italiano Oliviero Toscani e deixam o mundo a pensar na imagem da mulher negra a amamentar o bebé ou no grupo de jovens de todas as etnias, lado a lado, sem fronteiras. 

A Benetton vive o seu auge até à mudança de século, quando a concorrência aperta e as campanhas pioneiras passam não só a ser replicadas como ultrapassadas. Normalizada a mensagem da democracia social e do multiculturalismo, as vendas da Benetton caem a pique.

Gilberto Benetton não sai de cena mas dá um passo atrás, reposicionando-se como vice-presidente e entregando a linha da frente das decisões a Fabio Cerchiai. 

Em Itália, os meios de comunicação descrevem-no como o típico empresário do norte de Itália. Reservado e sério, não dava entrevistas. O tempo livre guardava-o para a família. Os irmãos Benetton ficaram órfãos muito cedo e Gilberto foi obrigado a deixar os estudos com apenas 14 anos. No entanto, a vocação de empresário era inata e costumava queixar-se de não poder trabalhar mais ao fim de semana. 

Gilberto Benetton morreu acompanhado pela mulher Lalla e pelas filhas Bárbara e Sabrina. Deixa uma fortuna avaliada em 2,34 mil milhões de euros, em que se incluem luxos como um iate e o complexo desportivo La Ghirada, centro da antiga equipa de Fórmula 1 pela qual Michael Schumacher foi bicampeão mundial, construído pela família em Treviso.

A morte é uma forte machadada no império, que assim fica reduzido a Luciano e Giuliana. No entanto, apesar da quebra comercial da Benetton, a Edizione, holding que detém todos os títulos do grupo, faturou mais de dez mil milhões de euros no ano passado.