“Sousa Cintra foi a pessoa que mais sofrimento me causou” | VÍDEO

“Sousa Cintra foi a pessoa que mais sofrimento me causou” | VÍDEO


Carlos Carreiras fala da sua infância e adolescência e recorda os tempos da JSD, onde Paulo Portas e Carlos Pimenta sobressaíam. Sobre o trabalho, vê-se que os seus anos ao lado de Sousa Cintra continuam muito presentes


O presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, nasceu na Praça do Chile, Lisboa, há 57 anos, mas viveu quase sempre em São Domingos de Rana e em Cascais. Começou a trabalhar cedo porque não gostava de estudar, e trabalhou com Sousa Cintra até se zangar definitivamente como ex-presidente do Sporting.

Como foi trabalhar com Sousa Cintra? Era fácil?

Tive sete bons anos, mas depois acabámos zangados. Quando a Vidago foi vendida, trabalhei ainda três meses para o grupo Jerónimo Martins. E tive das melhores relações com o Sr. Alexandre Soares dos Santos e ainda hoje tenho uma grande admiração por ele. Depois decidi seguir com José Sousa Cintra que tinha o objetivo de ir para o Brasil desenvolver os seus projetos.

Mas por que se zangaram?

Depois lancei com ele todo o projeto do Brasil. Lancei também com ele o projeto de Portugal, mesmo eu não o aconselhando a investir cá.

Está a falar do negócio das cervejas?

Sim. José Sousa Cintra é um homem superperspicaz, sobretudo na compra. Na área dos negócios divide-se muitas as pessoas entre os caçadores e os agricultores. E ele é um caçador. E, portanto, há coisas que nós agricultores temos de ir mantendo, temos de ir investindo e desenvolvendo. No Brasil, na altura, o mercado estava em grande crescimento. Tudo correu bem. Em Portugal, as coisas já não foram assim. E, por isso, ao fim de seis anos, tive uma conversa com José Sousa Cintra e disse-lhe que o caminho que ele estava a seguir eu não acreditava. Além disso, tinha com ele uma boa amizade e queria preservá-la e, por isso, anunciei que ia embora. Ele tentou por todos os meios que eu não o fizesse, mas eu estava determinado e saí. Passados seis meses, ele começou a insistir comigo para voltar, admitindo que tudo o que eu lhe tinha proposto de facto fazia sentido. Demorou seis meses a convencer-me, mas conseguiu e eu voltei. Foi aí que a coisa depois não funcionou, porque tudo o que ele se tinha comprometido a corrigir não corrigiu. As coisas acabaram mal.

Hoje já se falam?

Falamos, mas foi, para todo os efeitos, a pessoa que me causou mais sofrimento. Guardo dos outros sete anos belíssimas recordações, mas desses últimos tempos guardo as piores recordações e aquelas que mais me fizeram sofrer na vida.

De que sofrimento está a falar?

Fiquei desempregado com cinco filhas por não ceder contra aquilo que eram os meus valores e os meus princípios. Na altura, com quarenta e poucos anos. De um momento para o outro, senti que estava desamparado e isso fez-me sofrer bastante.

Mas ficou muito tempo desempregado?

Não, depois tive também a sorte, o privilégio e a amizade de o próprio filho de Sousa Cintra me ter convidado para trabalhar com ele. Depois, quando António Capucho se candidatou pela primeira vez à Câmara de Cascais, eu estava a gerir a construção de fábricas no Brasil e não pude aceitar ir para a Câmara, acabando por ir para a Assembleia Municipal. No segundo mandato de António Capucho, venho para a Câmara, como vice-presidente e tenho estado na Câmara desde essa altura.

 

Leia na íntegra a primeira parte da entrevista na edição impressa do i, já nas bancas

A segunda parte da entrevista será publicada no i de segunda-feira