Nas últimas décadas é indiscutível que a política portuguesa, tal como a política mundial, tem vindo progressivamente a estagnar, fruto, por um lado, do momento complicado que as sociedades na generalidade vivem, mas também dos infrutíferos resultados práticos que as medidas tomadas revelam na resolução dos problemas em causa. Ouço dizer que, de certa forma, grande parte dos políticos se tornaram de plástico e, em certa medida, compreendo e partilho deste sentimento. Neste momento, em Portugal, talvez o nome que mais tem abanado este paradigma seja André Ventura, com o qual devo, em nome da honestidade intelectual, dizer que tenho uma relação de grande proximidade. Defendendo bandeiras que até então a nossa sociedade tem evitado trazer à colação, tal como seria de esperar, André Ventura tem vindo a pagar o preço, nestes meandros sempre natural, em que por um lado se colhem amores e, de outro, ódios e ataques intelectuais fortíssimos. É compreensível que tal aconteça. Diria mais, nunca poderia ser sequer expetável que a tal não viesse a assistir-se. Aqui chegados, mais que dissertar sobre as bandeiras políticas defendidas, com as quais obviamente se pode concordar e discordar, ou até que divagar sobre traços de personalidade pessoal, com os quais podem as pessoas sentir maior ou menor identificação, há, isso sim, que travar o caminho de menorização e ataque puramente pessoal que tem vindo a cavalgar-se. Dir-me-ão alguns: bem, este está a dizer isto porque é amigo dele! É um facto, sou, e já atrás o clarifiquei. Mas quero deixar claro que este artigo não é um exercício de litigação de defesa. Tenho para mim, e é nesse âmbito que a democracia se afirmou, que numa sociedade livre, concordando-se mais ou menos com o que alguém diga, se deve permitir inequivocamente que essa pessoa fale, explane as suas ideias com serenidade e, depois, será a população a decidir sobre a viabilidade das matérias em debate através do voto ou da ausência dele. Quando assim não é, surge então a badalada censura. Deve ser a população o grande julgador. É por isso que acompanho, neste caso, com alguma surpresa a forma como nos meandros da política tradicional se tem vindo a desclassificar a postura de André Ventura. Dentro do PSD dizem alguns que a sua posição contra Rui Rio é uma traição à liderança. Ora, desculpem-me, mas o que não falta são sociais-democratas a quererem fazê-lo. No levantamento de algumas questões passa o homem por racista ou xenófobo, mas que tem sido só ele a tocar nalguns problemas reais para os quais outros assobiam, lá isso tem. Por fim, é caracterizado por populista dizendo-se que tudo isto é uma busca do voto fácil e a qualquer preço. Eu, por mim, quando ouço o primeiro-ministro dizer que se devolvem rendimentos às pessoas e não o vejo baixar o imposto sobre os combustíveis como prometido, julgo também isso ser populismo. Isto para dizer que há dois pesos e duas medidas. Não pode ser. Quase dá a sensação que estão todos com medo de André Ventura. Se estão, enfrentem-no, debatam abertamente e, por fim, o povo, esse sim, decidirá. Golpes de secretaria é que, em democracia, não me parecem admissíveis.
Escreve à sexta-feira