A noite de sábado foi de aflição para os moradores das localidades da Biscaia, da Figueira do Guincho, de Almoinhas-Velhas, da Malveira da Serra e da Charneca (concelhos de Sintra e Cascais) devido à gravidade das chamas de um incêndio que deflagrou no Santuário da Peninha, em plena serra de Sintra, às 22h50. O fogo provocou ferimentos em 21 pessoas, afirmou André Fernandes, comandante distrital da Autoridade Nacional da Proteção Civil (ANPC).
O comandante das operações explicou que entre as vítimas estão “10 operacionais e um civil” que foram levados a uma unidade hospitalar. Os outros dez são bombeiros que acabaram por ser assistidos no local, regressando de seguida ao combate às chamas. Todas as vítimas apresentaram “ferimentos ligeiros relacionados com traumas oculares e nos membros inferiores” como “entorses e algumas luxações”.
O incêndio obrigou à evacuação de cerca de 300 pessoas do parque de campismo de Cascais e de 47 das várias localidades ameaçadas pelas chamas, avançou a ANPC. Ainda que as operações estejam “numa fase complicada” de rescaldo, uma vez que os ventos podem reacender o fogo, as autoridades deram ordens para que os moradores e pessoas retiradas do parque de campismo regressassem aos alojamentos.
PJ JÁ ESTAVA A INVESTIGAR As causas do incêndio ainda são desconhecidas, mas o i sabe que antes do fogo ter deflagrado na zona da Peninha, na Serra de Sintra, a Polícia Judiciária (PJ) já estava a investigar a possibilidade de uma terceira ocorrência na área do parque natural.
No mesmo dia do incêndio da Peninha, um outro fogo atingiu a zona de Murches (concelho de Cascais) a meio da tarde. Esta foi a terceira ocorrência naquela zona num curto espaço de tempo. Mas as chamas foram rapidamente dominadas pelos 99 operacionais que estavam no local, apoiados por 26 veículos.
No entanto, devido à frequência dos últimos incêndios naquela zona (em poucos dias, foram quatro os fogos registados), as autoridades começaram a desconfiar. O i sabe que as vigílias à área protegida teriam sido reforçadas e que as autoridades chegaram mesmo a fazer a patrulha ao Parque Natural Sintra-Cascais num veículo descaracterizado.
O presidente da Câmara Municipal de Cascais (CMC), Carlos Carreiras, garantiu em conferência que a autarquia respeitou a limpeza do parque e que as denúncias feitas não correspondem à realidade dos factos.
O PATRIMÓNIO O incêndio teve início numa área protegida e reconhecida pela UNESCO como Património Mundial, mas devido à força do vento acabou por alastrar para o concelho de Cascais, para uma zona mais urbana e fora do Parque Natural de Sintra-Cascais.
De acordo com as estimativas de Paulo Fernandes, professor do Departamento de Ciências Florestais da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), citado pelo Público, as chamas queimaram mais de 600 hectares do parque.
O professor analisou as imagens de satélite disponibilizadas pelo Sistema de Informação Europeu de Incêndios Florestais e verificou que o incêndio poderá ter destruído uma área de cedros centenários, situado junto ao Santuário da Peninha. As chamaras engoliram também vários hectares de espécies de arbustos, como o tojo e o zimbro. Contudo, o especialista reconhece que a “grande mancha florestal do Parque Natural de Sintra-Cascais escapou”.
Até ao momento, não existem dados que confirmem danos ao património cultural, mas sabe-se que o incêndio começou junto de um edifício com mais de 100 anos de história. O comandante distrital da ANPC realçou ainda que alguns apoios de madeira perto das habitações ficaram destruídas e que um veículo ligeiro acabou por arder.
André Fernandes adiantou também que o trabalho de validação dos danos ao Parque Natural Sintra-Cascais está a ser feito pelas equipas da GNR, da PSP e das polícias municipais dos concelhos de Cascais e Sintra.
Ainda sobre as consequências do sinistro, o presidente da CMC relembrou o facto de não existirem vítimas em estado grave e de não haver outros incidentes de maior perda para o edificado urbano.
O autarca assegurou ainda que não vão ser realizadas construções nas áreas ardidas do parque. “Independentemente de ter havido este incidente ou este acidente, são áreas onde já não era permitido construir e, portanto, também continuará a não ser permitido”, afirmou Carlos Carreiras.
A última frente ativa estava virada para a Charneca e a Malveira da Serra, mas até à hora de fecho desta edição e de acordo com a ANPC estava “controlada”. No entanto, os meios mobilizados para combater as chamas do incêndio que deflagrou em Sintra ainda permanecem no local, de modo a prevenir algum reacendimento.
De acordo com a página oficial da ANPC, no terreno estiveram cerca de 800 operacionais, acompanhados por mais de 200 meios terrestres e sete aéreos. O fogo foi considerado dominado na manhã de ontem.