“Polícia!” O grito com uma Glock 9mm em punho foi dado ao final de um domingo, 26 de agosto, em plena rua Augusta, em Lisboa. De seguida um homem deitou-se no chão e o agente da PSP algemou-o perante os turistas que passeavam nesta artéria da capital e os que saíam do trabalho. Quando minutos antes aquele polícia foi chamado ao local por quem assistiu às agressões desde o início estava longe de imaginar que o caso metia um dos mais conhecidos carteiristas da cidade e negócios em torno de um Bentley Continental GT.
As autoridades acreditam que tudo não passou de um ajuste de contas que tinha no centro o carro de luxo. O suspeito algemado, Pedro Soares, tinha consigo um revolver calibre 22 mm e oito munições na cintura, além de uma faca escondida. Com ele estava um dos filhos do homem que acabou por apresentar queixa de agressões e que é um dos mais conhecidos carteiristas da capital.
José Cardoso, o carteirista que também ficou conhecido por explorar um restaurante na Rua dos Correeiros que cobrava preços astronómicos a turistas, acabaria por confirmar mais tarde aos agentes da PSP que no início de 2018 apresentou uma queixa contra Pedro Soares e Sandro Cardoso – seu filho que foi testemunha de tudo naquele dia – acusando-os de lhe terem roubado um carro: o tal Bentley Continental GT, que por ser usado tinha um valor aproximado de 50 mil euros.
Na versão de José Cardoso, o encontro marcado naquele dia era, segundo revelaram ao i fontes conhecedoras do caso, para o pressionarem a desistir da queixa apresentada às autoridades e que entretanto deu origem a um inquérito-crime que corre na 5.ª secção do Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa. Contou ainda que após uma discussão em plena Rua Augusta, junto à Rua de São Nicolau, os ânimos aqueceram e que chegou a ser ameaçado pelo homem detido e pelo filho com o revólver. Segundo a versão do conhecido carteirista, o suspeito detido terá dito sempre que o mandante das ameaças era o dono do stand.
Mas a versão que o seu filho tem apresentado em pouco ou nada coincide com a do carteirista, também conhecido como ‘Xula’. Sandro Cardoso queixa-se inclusivamente de ter sido ele vítima de agressões do pai e defende ainda que nem sequer sabia que Pedro Soares trazia consigo uma arma – muito menos que a mesma tivesse sido apontada ao seu pai.
O encontro, nas suas palavras, terá acontecido para tentar, de forma tranquila e sem qualquer violência, pôr fim aos problemas que estavam a surgir em torno do negócio com o carro, que diz esta testemunha, foi entregue a um stand pelo seu pai com o objetivo de fazer uma burla.
O momento de tensão na Rua Augusta terminou com a chegada de reforços, mas antes quem assistiu ao aparato ainda teve tempo para ver um outro elemento agredir o suspeito que estava manietado no chão. Segundo fontes da PSP que preferiram não se identificar as suspeitas destas agressões recaem sobre um outro filho de José Cardoso. O carteirista já terá mesmo confessado às autoridades que sente a sua vida em risco.
O negócio do Bentley e novo alerta de arma de fogo
O carro de luxo foi roubado em meados de janeiro, mas só mais de vinte dias depois foi apresentada queixa à polícia. Segundo o “CM”, quando a participação deu entrada na PSP já tinha mudado de dono duas vezes, inicialmente passando para as mãos de uma mulher e depois de um stand. Enquanto esteve na esfera desta particular, logo após o alegado furto, o carro foi levado à Bentley para ser arranjado – a despesa ascendeu aos 1200 euros, montante que terá sido pago em dinheiro.
O negócio com o stand foi feito pelo filho de José Cardoso, que agora surge como testemunha neste ajuste de contas e que é acusado pelo pai de ser um dos seus agressores.
Mas os desacatos não se ficaram por aí: no dia seguinte a PSP recebeu a meio da tarde um alerta que dava conta de que Sandro Cardoso estava com uma arma de fogo na Rua dos Correeiros, a mesma onde fica o restaurante ligado ao seu pai.
O alerta, porém, acabou por se revelar falso, uma vez que, segundo o i apurou, este não tinha na sua posse qualquer arma, nem estava a fazer ameaças aos presentes.
Alvo de 40 processos em 13 anos
José Cardoso é conhecido desde há muito pelas autoridades, devido aos diversos crimes que cometeu nos transportes públicos da capital. Segundo o “CM”, nos últimos 13 anos foi alvo de mais de quatro dezenas de processos por furto qualificado em autocarros e elétricos da Carris.
Depois disso ganhou protagonismo com o restaurante Made in Correeiros, que cobrava quantias avultadas aos clientes, sobretudo estrangeiros, por refeições normais – um caso que foi notícia durante vários dias.