Já tive, neste mesmo espaço de opinião, a possibilidade de me manifestar contra aquilo que considero ser um fenómeno inadmissível, caracterizado pela influência, neste caso, a má influência que o futebol tem na atual sociedade. Nela se incluem sobretudo as ditas paixões clubísticas assolapadas que, na verdade, tanto têm de assolapadas como de irracionais, e que os clubes parecem, também eles, utilizar e inflamar cada vez mais até às últimas consequências, em sua defesa. Logo aqui, triste país este em que o Estado permite que tal aconteça.
Não obstante já esta triste realidade, se pararmos um pouco para pensar, nos últimos anos não houve dia neste país em que não tenha surgido algum conflito pessoal, jurídico ou institucional cuja proveniência não fosse o mundo do futebol ou a opacidade dos seus meandros. Basta. Não se pode admitir que uma modalidade desportiva que é na sua essência, como todas as outras, uma festa, se transforme numa quase guerra civil que como outra põe em causa a serenidade nacional e até o bom nome do país no estrangeiro. Por outro lado, é ainda chocante o facto de, perante casos como os que se viveram, a exemplo, no Sporting Clube de Portugal ou, agora, no Sport Lisboa e Benfica, os seus dirigentes máximos pareçam não ter o bom senso de perceber que a única atitude digna seria a saída dos cargos que representam. No Sporting foi a pouca-vergonha que se viu, e sinto-me à vontade para o dizer porque, além de ser sportinguista, também neste espaço em tempo útil o disse, e defendendo até que, no contexto vivido, a última Taça de Portugal nem se deveria ter realizado. Daí para a frente e até esta semana, foi tudo uma verdadeira loucura pegada.
No Benfica, com os desenvolvimentos a que vamos assistindo, parece surgir o mesmo caminho. Não se pode admitir tal possibilidade. E aqui não está sequer em causa um qualquer juízo de caráter jurídico face ao que alegadamente está a ser imputado a certas pessoas. Para todos os efeitos, ainda não há objetivos culpados do que quer que seja, uma vez que a justiça ainda está a fazer o seu caminho. O importante seria, contudo, neste contexto como noutros já mencionados, a direção do Benfica perceber que não tem condições para continuar em atividade. A direção do Benfica, obviamente na pessoa do seu presidente, tem imediatamente de renunciar ao seu atual mandato e marcar eleições antecipadas. Não o fazendo, colocará o nome da instituição Benfica na lama, tal como por algum tempo aconteceu no Sporting pelas mãos de um ex-presidente de que já nem me lembro bem como se escreve o nome.
Por último, apenas fazer mais uma consideração afeta à importância que o Estado deveria ter no controlo destas áreas e que pura e simplesmente tem negligenciado. O futebol não é um microcosmo espacial. Tem de ter regras, tem de ter controlo, tem de ter escrutínio e, sobretudo, tem de ser submetido à autoridade governativa em todos estes domínios. Não é o futebol e não são os homens do futebol que mandam neste país. É bom que o governo e o Estado ganhem de uma vez por todas a coragem necessária para o demonstrar.
Escreve à sexta-feira