Valores recorde levam a que seja “cada vez mais difícil a compra de casa”

Valores recorde levam a que seja “cada vez mais difícil a compra de casa”


Primeiro foram os alertas da Comissão Europeia a falar nessa dificuldade, agora o cenário já é reconhecido pela associação do setor. E os preços vão continuar a subir


As casas estão caras e vão continuar a subir. A Comissão Europeia está preocupada com os preços especulativos do mercado imobiliário português e com a crescente dificuldade das famílias no acesso à compra de imóvel. Bruxelas culpa, em parte, o turismo por este cenário. “[O boom turístico está] a puxar pelos preços não só nas zonas mais turísticas, mas também nos bairros residenciais, com impacto na capacidade de as famílias comprarem casa, particularmente as que têm menores rendimentos”, disse na oitava avaliação pós-programa. O alarme voltou a soar com o alerta da agência de rating Standard & Poor’s ao admitir que os preços devem subir 9,5% este ano impulsionados pelo aumento da procura – tanto interna como externa – perante uma oferta escassa.

Esta dificuldade no acesso à habitação já é reconhecida pela Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP). Ao i, Luís Lima garante que “é efetivamente cada vez mais difícil a compra de casa”. E justifica os vários motivos: “o setor financeiro é mais conservador na atribuição de crédito à habitação, obrigando as famílias a terem uma maior percentagem do valor total dos imóveis para dar de entrada, o que nem sempre conseguem e o valor dos ativos nos centros das grandes cidades tem crescido devido à ausência de stock, começando a estar desadequado da realidade da generalidade dos salários das famílias”. Ainda assim, a APEMIP prevê um aumento de transações imobiliárias até ao final do ano na ordem dos 15%.

Esse cenário também já tinha sido admitido pelo CEO da Century 21 ao garantir que a oferta existente continua desajustada à procura, sobretudo em termos das reais capacidades financeiras da classe média portuguesa, que é o principal segmento do mercado imobiliário em Portugal.

Segundo Ricardo Sousa, são vários os aspetos que caracterizam este desajustamento. “Em primeiro lugar, surge a questão do preço dos imóveis: os portugueses procuram adquirir habitação por um valor médio, a nível nacional, de 138.623 euros, enquanto a oferta se situa numa média nacional de 173.252 euros”, refere ao i. 

Também o presidente da Remax Portugal lembra que, quando a procura é superior à oferta, assiste-se inevitavelmente a uma subida de preços, assim como a uma maior dificuldade na sua aquisição. “Se a este fator acrescentarmos o facto do poder de compra de uma família não crescer tanto quanto os preços dos produtos que adquire, naturalmente será mais difícil adquiri-los”, diz Manuel Alvarez ao i. 

Ainda assim, refere que, até final do ano prevê aumentos cada vez menos acentuados. “A dificuldade de uma família portuguesa em comprar uma casa será menor por esta via, mas muito dependerá das políticas governamentais que vierem a ser adotadas, assim como de mercados coadjuvantes como o da construção/reabilitação”. 

 

Mercado ao rubro

Apesar destes alertas, a S&P admite que as pressões vão abrandar com o crescimento económico mais lento, os crescentes custos do endividamento e a deterioração da acessibilidade. 

No primeiro trimestre deste ano, os preços das casas subiram 12,2% em Portugal, depois de já terem aumentado 10,5% em 2017. A subida foi superior nas casas usadas (13%), face às habitações novas (9,7%).

E os números falam por si. A Remax e a Century 21 transacionaram mais de 35 mil imóveis nos primeiros seis meses do ano, o que dá uma média de cerca de 196 imóveis vendidos por dia. A este número há que juntar as operações realizadas por outras mediadoras, nomeadamente a ERA que ainda não apresentou resultados e por particulares. 

Também a concessão de crédito à habitação continua a crescer. Só em junho, segundo os últimos dados divulgados, foram concedidos perto de mil milhões de euros, elevando para mais de 4,5 mil milhões o montante concedido em empréstimos para a compra de casa nos primeiros seis meses do ano, indicam dados do Banco de Portugal. É necessário recuar até ao mesmo período de 2010 para ver um nível de concessão mais elevado.

Estes ocorreram no mês anterior à entrada em vigor do conjunto de recomendações da entidade liderada por Carlos Costa aos bancos, no sentido de respeitarem um conjunto de limitações nos critérios para a atribuição de empréstimos com vista a prevenir riscos de sobre-endividamento das famílias.