NATO: afinal havia outra!


Depois de tentar acabar com a NATO original, Trump está empenhado na criação de uma “NATO árabe”, na versão cruzada árabe contra o Irão


O sucesso da NATO fez com que por diversas vezes tenham sido ensaiadas cópias em versão reduzida noutras geografias, sempre com os EUA como promotores e garantes da última linha de defesa (ou seja, como guarda-chuva nuclear) e com a URSS a servir de elemento motivador dos esforços comuns de defesa. Mas, mesmo durante a Guerra Fria, a maioria dos Estados preferiram apostar em acordos bilaterais com os EUA, temendo as dificuldades da multilateralização de uma relação com o amigo americano. Na Ásia-Pacífico, ainda é este o modelo preferido (Japão, Coreia do Sul, Austrália, Nova Zelândia e, no passado, Filipinas). O mesmo acontece no Médio Oriente, com graus muito diversos de juridificação dos acordos (Israel, Arábia Saudita, Jordânia, Qatar e Kuwait e, com intermitências, o Egipto). Mais difusas são as situações de protecção armada que resultam das bases americanas no estrangeiro e que acabam por se traduzir em garantias “de facto” de defesa do território em que se encontram.

A par do modelo bilateral têm surgido por Washington vários apóstolos de um modelo reforçado das “coalitions of the willing”, com estruturas permanentes. A região do Médio Oriente é o campo de eleição para o apostolado de uma NATO árabe que se ocuparia da luta contra o terrorismo e coordenaria os esforços militares de dissuasão do Irão e dos grupos armados apoiados por Teerão. A ideia não é nova e teve uma componente política de sucesso a seguir à revolução iraniana de 1979, com a criação do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC na sigla inglesa). Em tempos recentes, o conflito aberto entre a Arábia Saudita e o Qatar, entre o Golias tradicional e conservador e o ambicioso e “revolucionário” (para os critérios do Golfo…) David, reduziu dramaticamente a eficácia do GCC.

A ideia de fomentar uma aliança militar árabe permanente (que não o pan--arabismo anti-israelita do século passado) foi activamente prosseguida dentro da administração Obama e nela combatida pelos que temiam um extremar dos conflitos entre xiitas e sunitas, persas e árabes, grandes e pequenos, tudo aquilo que já existe em abundância no Médio Oriente. Com Trump na Casa Branca, a coisa ganhou nome (MESA, Middle East Strategic Alliance) e será objecto de uma cimeira fundadora já em Outubro. Na região há já uma “Força Islâmica” financiada pela Arábia Saudita e uma “Força Árabe” promovida pelo Egipto, ambas com o apoio de Washington, já no tempo de Obama, na esperança de poupar a Washington “blood and treasure”. 

Com Trump sentado à MESA corre-se o risco de um novo conflito armado em larga escala no Médio Oriente, numa frente sunita liderada por Riade para esmagar militarmente o Irão. Trump quererá que sejam os membros da MESA a começar as hostilidades e a pagar o preço pelo conflito com Teerão. As divergências políticas entre os membros da MESA não permitem prever uma frente unida, em particular no campo de batalha, numa operação sob comando integrado. A única coisa que, para além do ódio ao Irão, parece unir os membros da MESA é a sua dependência da protecção militar de Washington.

A MESA, se alguma vez vier a ser criada, nascerá coxa e estará a anos-luz da integração político-militar existente na NATO. Ao apelar à cruzada árabe contra o Irão, Trump torna evidentes as fraquezas da “Aliança Estratégica” que pretende promover. Mostrar a fraca força nunca foi uma boa forma de dissuadir os inimigos. E pode fazê-los querer testar os limites da fraqueza.

 

Escreve à sexta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990
 


NATO: afinal havia outra!


Depois de tentar acabar com a NATO original, Trump está empenhado na criação de uma “NATO árabe”, na versão cruzada árabe contra o Irão


O sucesso da NATO fez com que por diversas vezes tenham sido ensaiadas cópias em versão reduzida noutras geografias, sempre com os EUA como promotores e garantes da última linha de defesa (ou seja, como guarda-chuva nuclear) e com a URSS a servir de elemento motivador dos esforços comuns de defesa. Mas, mesmo durante a Guerra Fria, a maioria dos Estados preferiram apostar em acordos bilaterais com os EUA, temendo as dificuldades da multilateralização de uma relação com o amigo americano. Na Ásia-Pacífico, ainda é este o modelo preferido (Japão, Coreia do Sul, Austrália, Nova Zelândia e, no passado, Filipinas). O mesmo acontece no Médio Oriente, com graus muito diversos de juridificação dos acordos (Israel, Arábia Saudita, Jordânia, Qatar e Kuwait e, com intermitências, o Egipto). Mais difusas são as situações de protecção armada que resultam das bases americanas no estrangeiro e que acabam por se traduzir em garantias “de facto” de defesa do território em que se encontram.

A par do modelo bilateral têm surgido por Washington vários apóstolos de um modelo reforçado das “coalitions of the willing”, com estruturas permanentes. A região do Médio Oriente é o campo de eleição para o apostolado de uma NATO árabe que se ocuparia da luta contra o terrorismo e coordenaria os esforços militares de dissuasão do Irão e dos grupos armados apoiados por Teerão. A ideia não é nova e teve uma componente política de sucesso a seguir à revolução iraniana de 1979, com a criação do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC na sigla inglesa). Em tempos recentes, o conflito aberto entre a Arábia Saudita e o Qatar, entre o Golias tradicional e conservador e o ambicioso e “revolucionário” (para os critérios do Golfo…) David, reduziu dramaticamente a eficácia do GCC.

A ideia de fomentar uma aliança militar árabe permanente (que não o pan--arabismo anti-israelita do século passado) foi activamente prosseguida dentro da administração Obama e nela combatida pelos que temiam um extremar dos conflitos entre xiitas e sunitas, persas e árabes, grandes e pequenos, tudo aquilo que já existe em abundância no Médio Oriente. Com Trump na Casa Branca, a coisa ganhou nome (MESA, Middle East Strategic Alliance) e será objecto de uma cimeira fundadora já em Outubro. Na região há já uma “Força Islâmica” financiada pela Arábia Saudita e uma “Força Árabe” promovida pelo Egipto, ambas com o apoio de Washington, já no tempo de Obama, na esperança de poupar a Washington “blood and treasure”. 

Com Trump sentado à MESA corre-se o risco de um novo conflito armado em larga escala no Médio Oriente, numa frente sunita liderada por Riade para esmagar militarmente o Irão. Trump quererá que sejam os membros da MESA a começar as hostilidades e a pagar o preço pelo conflito com Teerão. As divergências políticas entre os membros da MESA não permitem prever uma frente unida, em particular no campo de batalha, numa operação sob comando integrado. A única coisa que, para além do ódio ao Irão, parece unir os membros da MESA é a sua dependência da protecção militar de Washington.

A MESA, se alguma vez vier a ser criada, nascerá coxa e estará a anos-luz da integração político-militar existente na NATO. Ao apelar à cruzada árabe contra o Irão, Trump torna evidentes as fraquezas da “Aliança Estratégica” que pretende promover. Mostrar a fraca força nunca foi uma boa forma de dissuadir os inimigos. E pode fazê-los querer testar os limites da fraqueza.

 

Escreve à sexta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990