Apesar de a moda das silent parties – em português, festas silenciosas – já existir há alguns anos pelo mundo fora, em Portugal, só agora é que as pessoas começam a dançar através dos famosos headphones luminosos. Nestas festas não há barulho que incomode os vizinhos, não fosse esse um dos objetivos do projeto que surgiu há quase 13 anos na Holanda. Mas a verdade é que, quando a diversão começa a dominar a pista de dança, as pessoas não param de cantar em voz alta – por causa do volume dos auscultadores -, sendo esse o único barulho que se ouve pela noite fora.
Nas festas silenciosas não é apenas o DJ que utiliza headphones: cada pessoa recebe, individualmente, um dos muitos aparelhos sem fios para ouvir música e tem a liberdade de escolher, na mesma festa, que música pretende ouvir, mediante os estilos musicais da noite. Isto acontece porque existem sempre, pelo menos, dois DJ que disputam entre si a atenção do público.
Humberto Martins, diretor da empresa Silent Portugal, garante que “esse é mesmo o grande segredo do evento”. Mediante a oferta musical, “os DJ têm de passar sempre a música de que o público gosta para cativar os ouvintes”, esclarece. E chega mesmo a existir uma batalha para apurar quem consegue ter mais pessoas na sua estação: “Através das reações e movimentos do corpo do público” é possível ver quem chega a mais pessoas, mas também pela cor dos headphones, pois “cada DJ tem direito a uma cor”.
O diretor da Silent Portugal confessa que a “necessidade de conteúdos diferenciadores” levou a que a empresa adaptasse o conceito das festas à realidade do país e dos portugueses: por cá, as festas ocorrem sobretudo em locais ao ar livre e são gratuitas. Mas também há casos em que uma noite normal numa discoteca é dominada pelo conceito do silêncio.
A Silent Portugal conta com “2500 headphones” por festa e “os utilizadores têm total controlo” tanto no estilo de música como no volume e na iluminação dos próprios headphones.
Festas silenciosas em Portugal Joana Meco vive em Bragança e revela que, por lá, a silent party já existe há cinco anos. Sempre que acontece, aproveita para ir porque é a sua “festa favorita”. Como justificação, afirma que a iniciativa “é diferente do normal” e que nunca se cansa da música “porque há sempre dois DJ ou, às vezes, até mais”.
Em Arcos de Valdevez, o município divulgou este ano a quarta edição da festa dominada pelo silêncio. O evento decorreu na Rua 25 de Abril, no centro histórico da vila, com atuações dos DJ Ricardo Rego e Miguel Cruz.
Esposende, Vizela, Felgueiras e Santo Tirso são outras localidades onde a Silent Portugal já esteve presente para animar as noites dos portugueses.
Na cidade de Águeda, no distrito de Aveiro, já é habitual o festival AgitÁgueda receber a festa mais silenciosa de Portugal no dia da abertura do evento. Humberto Martins confessa que por lá passam sempre muitas pessoas para aproveitar o conceito inovador, por baixo dos famosos guarda-chuvas coloridos.
As próximas festas com headphones luminosos vão acontecer em Faro, no Baixa Street Fest (24 de agosto) e no Festival F (30 e 31 de agosto e 1 de setembro); em Portalegre, no Festival do Crato (no dia 26 de agosto); e na Noite Branca de Oliveira de Azeméis (dia 15 de setembro).
Onde começou? O conceito surgiu na Holanda, em 2005, face às inúmeras festas que não podiam ser realizadas por causa das leis do barulho noturno. O objetivo era combater a poluição sonora, mas as festas silenciosas tornaram–se rapidamente conhecidas nas capitais europeias e, posteriormente, no mundo.
Os exemplos a nível internacional são muitos: o famoso festival Coachella, na cidade de Indio, na Califórnia, oferece um espaço silent em todas as edições desde 2013. Mas não é o único festival a aderir: o iLight Marina Bay (em Singapura), o Sonic Bang (em Banguecoque) e o Summer Sonic (no Japão) são outros palcos das festas silenciosas.
Este novo conceito tem vindo a espalhar-se pelo mundo e toma conta da diversão noturna no estrangeiro: Sara Pinto, estudante, confessa que já tinha ouvido falar da iniciativa, mas nunca soube da existência da Silent Portugal. Quando esteve de férias em Menorca ficou “superentusiasmada” por descobrir que a atividade de uma das noites envolvia headphones.
Sara Pinto foi a uma das festas silenciosas espalhadas pelo mundo, com a sua família, e afirma: “No início ficámos todos um pouco reticentes, mas rapidamente nos deixámos contagiar pelas boas energias.” E se no início pareceu estranho, Sara confessa que passados alguns minutos, quando olhou em seu redor, “todas as pessoas dançavam e saltavam como se estivessem numa discoteca normal”. Para a família de Sara, foi uma experiência que deixou vontade de repetir: “Apercebi-me do quão divertido estávamos quando, a meio da música ‘I Got a Feeling’, tirei os auscultadores e ouvi todas as pessoas a cantarem no compasso certo, mas sem qualquer instrumental por trás.”
Há ainda lugares emblemáticos como o Museu de História Natural de Londres, a estação ferroviária Gare du Nord, em Paris, e o Jardim Zoológico de Paris que também receberam pessoas para dançar apenas com headphones.
Outras vertentes Silent Fitness Experience, Silent Open Cinema, Silent Concerts e Silent Wedding são outros projetos que estão a ser desenvolvidos no Brasil, com a mesma ideia do som transmitido através dos auscultadores.
Em Portugal já existe o cinema ao ar livre silencioso e o teatro silencioso, onde é possível ter experiências antigas com recurso a um novo elemento: o headphone individual. Nestes casos, Humberto Martins explica que “o conceito é adaptado consoante o evento”, mas garante que a experiência é a mesma.