O terceiro dia do festival Paredes de Coura começou de forma muito monótona. Kevin Morby, nome conhecido pelo público português e que já passou por terras lusitanas algumas vezes, deixou um pouco em dúvida todos aqueles que o viram pela primeira vez e tinham ouvido falar maravilhas. O começo com ‘City Music’ não conseguiu catapultar o norte-americano para um concerto interessante ou mexido, como algumas das suas músicas conseguem ser. Kevin Morby lá ia interagindo com os membros da banda e público, mas a reação era pouca. A atuação foi marcada pela monotonia, da qual não se salvou mesmo a falar de futebol – visto que tirou uma foto com uma camisola do FC do Porto – e a elogiar todo o país. Mesmo a fechar com ‘Dorothy’, talvez o tema mais conhecido, este foi um concerto que deixou muito a desejar.
De seguida, os DIIV vieram diretamente de Los Angeles para encantarem Paredes de Coura, com o Dream Pop e Shoegaze. A banda nova-iorquina deu inicio à digressão europeia no ‘Couraíso’. Apesar de longas pausas entre as músicas, discursos um pouco à toa sobre a Vodafone e a Super Bock, uma corda a saltar logo na primeira música e a invenção de um novo movimento “Make DIIV Cool Again”, a banda guiada por Zachary Cole conseguiu despertar um pouco aqueles que se tinham deixado adormecer com Kevin Morby e, também, proporcionar uma espécie de ‘teenage daydream’ a todos os presentes, com temas como ‘Under The Sun’ e ‘Is This Is Are’. Assim, os DIIV (lêndo-se dive , que significa mergulho em inglês) deram uma rampa de lançamento para os artista que se seguiam, dos quais mostraram ser fãs: os Slowdive.
Fomos assim ao segundo mergulho, mas agora – tal como indica o nome – um pouco mais lento e também melancólico. A banda dos anos 90 lá trouxe o seu jeito carinhoso e mostrou-se muito cúmplice durante a sua atuação. Rachel Goswell irradiava amor e espalhava carinho, sempre com um doce sorriso na cara em cada música que cantava, que conseguiu fazer com que Coura flutuasse e se sentisse em paz por breves momentos… Até chegar Skepta.
O nome do rapper apareceu assim como uma miragem neste cartaz. Não é muito comum ver-se um nome ligado ao Hip Hop no Vodafone Paredes de Coura e, de facto, desviou-se um pouco das atuações anteriores. De repente, Coura saiu do sonho e acordou para a realidade com a fúria e as criticas sociais tão distintas de Skepta. O concerto, no entanto, sofreu uma breve pausa devido a toda a agitação causada; de repente, o rapper saiu de cena e ouviu-se a organização a pedir que o público parar de atirar objetos para o palco, sob pena de o rapper cancelar a sua atuação. A festa continuou pela plateia, mas mais contida. A música de Skepta serviu de alarme para a violência policial e racismo, com temas como ‘It Ain’t Safe’ e ‘That’s not Me’. Uma atuação genial que fez a terra estremecer.
Para acabar a noite de forma perfeita, as Pussy Riot subiram ao palco e deixaram-nos com uma atuação única e com vontade de calçar as botas de combate, vestir as balaclavas e lutar ao lado do grupo punk ativista. Antes de entrarem em palco, deixaram-nos 25 fatos pelos quais estão envolvidas numa luta constante contra o regime de Putin: desigualdade de género, totalitarismo e as desigualdades económicas foram alguns dos fatores expostos no ecrã.
Nadya Tolokno, uma das cofundadoras e membro constante da banda, aproveitou para falar da detenção do ucraniano Oleg Sentov na Rússia, que está há três meses em greve de fome, e sobre duas adolescentes de 17 anos que foram presas por estarem a falar no Messenger sobre o regime russo. As músicas em russo, como ‘Organs’ e ‘КОШМАРЫ’ (pesadelos, em russo), eram maioritariamente sobre a detenção em 2012, após a atuação numa igreja em Moscovo onde Putin estava presente. Nadya ainda demonstra, claramente, algumas feridas e cicatrizes do tempo que passou na prisão. Quando se cantou em inglês, a história já foi outra. No público, ‘Straight Outta Vagina’ e ‘Pimples’ fizeram furor entre os festivaleiros; o punk sentiu-se e conseguiram que toda a gente gritasse “Fuck Putin” no final da atuação.
*Texto editado por Joana Marques Alves