Morandi. “Caí com a ponte e não sei o que me salvou”

Morandi. “Caí com a ponte e não sei o que me salvou”


Houve quem escapasse por pouco à tragédia e quem lhe conseguisse sobreviver por pouco


Era mais um dia como outro qualquer e passar a ponte Morandi, em Génova, Itália, uma das principais artérias rodoviárias da cidade, fazia parte do percurso para se chegar ao destino pretendido. Uns iam para o trabalho e outros de férias, mas ninguém chegou ao seu destino e, hoje, sabe-se que pelo menos 39 pessoas morreram. 

A ponte Morandi, inaugurada em 1967, desabou subitamente quando dezenas de carros e três camiões passavam por ela. Nos seus interiores, mães, pais, namorados, jovens e crianças perderam as suas vidas. E algumas das vítimas estavam debaixo da ponte a trabalhar. 

Entre o choque, a raiva e o luto, os relatos espelham uma tragédia de quem viu acontecer ou lhe escapou por poucos minutos, e nunca esquecerá. Um dos casais que sobreviveram por pouco foi Sara e Luca, que passaram pela infraestrutura no primeiro dia de férias juntos. “Havia muito trânsito, carros e especialmente camiões. Estava a chover, mas não notámos nada de estranho”, contou Sara. Já com a ponte para trás das costas, o casal tomou conhecimento da tragédia quando amigos e familiares os contactavam sem parar. Aí, ficaram sem fala, garantiu. 

Houve quem ficasse a poucos metros do abismo. Foi o caso de um motorista de um camião da empresa Basko, que apenas ouviu um estrondo enorme antes de ser cuspido do camião. Ficou apenas com ferimentos ligeiros na anca e no ombro, com camião que conduzia a ficar a apenas poucos metros do novo fim da ponte. E, para surpresa das equipas de socorro, houve até quem tivesse caído da ponte dentro do carro e sobrevivido com ferimentos ligeiros. “Caí com a ponte e não sei o que me salvou. Estou bem, saí do carro pelas minhas próprias pernas”, disse Davide Capello, antigo guarda-redes do Cagliari e que joga agora no clube amador Legino, pelo Whatsapp. “Tenho apenas uma imagem na minha cabeça: a estrada a descer”. 

Entre as inúmeras vítimas mortais, a história de uma família de três pessoas, entre as quais uma criança, está a causar enorme comoção em Itália. Ersilia Piccinino, Roberto Robbiano e Samuele avançaram juntos pela ponte quando esta desabou. Caíram de uma altura de 40 metros e tiveram morte imediata. Quando as equipas de resgate os encontraram depararam-se com o telemóvel de uma dos membros da família a receber uma chamada de “mamma” (mãe). Provavelmente queria saber se a família estava são e salvo. No carro, entre os escombros, os socorristas encontraram um chapéu de praia, um balde e uma pá. Talvez estivessem a ir para um destino de férias com praias. 

Nas férias é comum vários amigos juntarem-se para passarem alguns dias juntos. Foi isso que fizeram quatro jovens, na casa dos 20 anos – Matteo Bentornati, Giovanni Battiloro, Geraro Esposito e Antonio Stanzione. Juntaram-se num pequeno carro e rumaram a Nice, desejando depois chegar a Barcelona. Mas antes tinham de chegar a Génova e atravessar a ponte. Ao fazerem-no foram quatro das 39 vítimas mortais conhecidas até ao momento