As férias são o momento em que descansamos de toda uma rotina anual que nos leva ao cansaço, carregada de preocupações diárias que se refletem no desempenho da atividade cerebral e física. Por esta altura, sentimo-nos mais pesados, mais lentos, menos vivaços e até mesmo mais de-satentos ao que se vai passando à nossa volta. Tudo se leva ou vai levando do jeito que conseguimos.
Por isso, tiramos uns dias, interrompemos aquela rotina que se instalou, quebramos hábitos que se apoderaram de nós sub-repticiamente e contra a nossa vontade e, durante uns dias, recuperamos a vitalidade e a energia para mais um ano que se quer melhor que o anterior.
Mas não é só isto que acontece nas férias. Nas férias estamos 24 horas com os nossos filhos, os mesmos que trouxemos no carro, de nossa casa até ao destino final. Aqueles que estão todos os dias do ano connosco a partilhar e a fazer parte da tal rotina, que, coitados!, tal como nós, andam a correr de um lado para o outro para cumprirem as suas obrigações e responsabilidades, e só no final do dia é que todos nos juntamos para simplesmente estar.
Dito isto assim, as férias não deveriam trazer muitas surpresas, até porque estamos todos os dias juntos. Agora só aumenta o número de horas por dia e num registo totalmente diferente – mais descontraído, mais intenso, e todos nós temos mais para dar uns aos outros.
Cada verão tem uma história para contar. E este não é exceção. Este foi o verão em que senti que dois dos meus filhos cresceram demasiado, numa só noite! Tal e qual um pé de feijão mágico que trepa pela calada da noite, tentando alcançar as nuvens tão desejadas no céu. Foi um choque porque, como comecei por dizer, estamos juntos todos os dias e, portanto, todo o desenvolvimento é testemunhado diariamente – testemunhado e, às vezes, sofrendo serenamente, sentindo saudade do que já foram.
Para os pais, a fase da adolescência só tem espanto equivalente à primeira infância, principalmente até aos três anos. Quando assistimos paralisados àquele crescimento abrupto diário em que saltam do colo e começam a correr, em que balbuciam a primeira palavra e em seguida estão a declamar o dicionário completo, em que do peito ou do biberão apontam para uma peça de sushi com uma curiosidade gastronómica de quem está preparado para degustar um prato do chefe Avillez, ou quando nos interrogam com uma astúcia e frontalidade que nos deixam mudos, tal é a nossa incredulidade.
Voltamos a passar por tudo isto quando eles entram na adolescência. O ritmo alucinante repete-se, só que, desta vez, pesa sobre nós a contagem decrescente de os termos só para nós. Parece egoísmo, mas não, é muito amor por quem é parte de nós e por quem sabemos que, mais cedo ou mais tarde, temos de encontrar forças tal e qual o pinguim-imperador que fica a ver a sua cria a lançar-se sobre o mar revolto, num voo solitário, desejando que consiga escapar aos ataques das focas e de outros predadores, para prosseguir a sua viagem.
Entre o que queremos e idealizamos como pais e o que os nossos filhos desejam e consideram importante para eles pode criar-se um abismo. O choque destas duas vontades pode ser colossal, principalmente quando há um desfasamento acentuado entre o mundo dos filhos e a visão que os pais têm do que deve ser o mundo dos seus filhos.
Mais dramático se torna quando não nos apercebemos das suas mudanças e continuamos a insistir nas rotinas passadas, tendo dificuldade em adaptar-nos à sua personalidade em formação e ao mundo que eles próprios vão construindo, com outras relações que se estabelecem por si mesmas, sem a nossa interferência.
Este ano estou a sentir falta do meu filho mais velho, que já não passa o dia de praia ao meu lado, na conversa ou lendo, mas sempre ali. Em vez disso, vejo-o no meu horizonte rodeado dos seus amigos, sempre em grandes conversas, jogos de bola, etc… e ali está ele, a uns escassos metros, a construir o seu mundo, as suas relações, as suas histórias. Por outro lado, tenho dias em que acrescento mais crias à minha ninhada, com os amigos dos mais pequenos, mas sempre com o olhar pousado no horizonte, onde está uma parte de mim.
Escreve quinzenalmente