Quando o vício homenageia a virtude


Cristas, a “Feiticeira do Caldas”, que já anda a merecer um retrato no melhor estilo camiliano, chegou-se à frente com os seus modos de virago e botou esta grave sentença: “o BE ficou desmascarado e já não poderá continuar a querer ser o pendor moral do regime”


Pois admitamos que sim, que o “caso Ricardo Robles” – apesar de rapidamente resolvido pelo próprio Robles com a sua demissão do cargo de vereador da CML, onde representava o Bloco de Esquerda – foi sentido pela tão reacionária direita lusitana como um terramoto moral cujo eco atroador convulsionou Lisboa, mais concretamente a Rua da Palma, onde se situa a sede do BE. E então?

Espanta-me que a direita lusitana, tanto a política como a jornalística, seja tão estúpida que ainda não tenha percebido que, com o seu regozijo folgazão – de gaita, berimbau e trompões fortes – pelo passo em falso que deu o ex-edil do BE, está, afinal, a fazer o papel do vício que presta homenagem à virtude. 

É que, para a direita que não se cansa de dar vivas, com hiperbólico estrondo, ao “pecado” de Robles (politicamente censurável mas não ilegal, saliente–se!), o BE terá passado a situar-se no mesmo inferno em que ardem os partidos da direita, a arcarem com os escândalos do BPN, do BPP, do BES, do Banif, da Tecnoforma, dos swaps, dos canudos falsos e outras falcatruas (marca indelével do PPD-PSD), mas também com as suspeitas, nunca realmente esclarecidas, acerca das negociatas dos submarinos, do arranque de sobreiros, dos depósitos do misterioso Jacinto Leite Capelo Rego, dos vistos gold e outras trapalhadas (marca indelével do CDS-PP, antes a mando do “irrevogável” Portas e agora da “intragável” Cristas). Cito Camilo: “Ai dos ímpios, cujas entranhas estão afistuladas de herpes!”
Os partidos da direita lusitana – católica, apostólica, romana e beata – sentiam-se de tal modo mergulhados em vícios que terão porventura rogado a Deus Nosso Senhor Jesus Cristo que lançasse uma valente praga capaz de macular o partido da Catarina Martins, da Marisa Matias, da Mariana e da Joana Mortágua, assim como de tantas e tantos outros militantes do BE, cuja tão badalada “virgindade ética e política” – pobre direita, que assim criou retroactivamente o mito! – seria motivo de grande irritação para as Cristas, os Montenegros, os Júdices e outros avocats d’affaires, os jornalistas e comentadores ao serviço da direita.

Cristas, a “Feiticeira do Caldas”, que já anda a merecer um retrato no melhor estilo camiliano, chegou-se à frente com os seus modos de virago e botou esta grave sentença: “O BE ficou desmascarado e já não poderá continuar a querer ser o pendor moral do regime”! O que quererá dizer “pendor moral do regime”? E onde é que Cristas foi achar, dito ou escrito, esse propósito porventura programático do Bloco de Esquerda?! Mas ela anda tão satisfeita, a Assunção Cristas, por agora se achar comparável à Catarina Martins, que nem percebe que está a homenagear a coordenadora do BE – e, do mesmo passo, a desempenhar o papel do vício que, de vez em quando, se curva para prestar respeitosa homenagem à virtude…

A imprensa da capital – já o dizia Camilo – tem nervosismos de retórica, e a certos jornalistas e comentadores só lhes falta, para terem as virtudes dos incrédulos, a dignidade da razão. Já se sabe que a estupidez é livre e que o disparate se reproduz como os cogumelos. Mas eles estão felizes e são bem pagos. Para quê, então, tentar abrir-lhes os olhos com a crueldade com que Stanley Kubrick mandou abrir os de Malcolm MacDowell numa famosa cena do filme “A Clockwork Orange” (“A Laranja Mecânica”)? Se quisermos “desentupi-los”, mais vale empregar os meios ordinários do canalizador. E que Deus lhes perdoe os pecados e aleivosias.

É sabido que na minha escrita recorro – metaforicamente, está claro! – ao forte pau de carvalho ou lódão argolado. Nasci em Roma, de mãe italiana, mas os avoengos de meu pai, nascido em Montes de Alvor, eram das terras de Barroso. E sobre elas escreveu Camilo: “O Barrosão, quando quer bater ou evitar que lhe batam, estona um esgalho de cerquinho ou marmeleiro, põe–o de molho três dias e três noites em uma poça e depois experimenta-lhe a elasticidade nos joelhos próprios, e, se é forçoso, nas costas alheias.” Nunca tive vocação para praticar a “justiça de Fafe” manejando fisicamente o varapau, mas sempre o fiz metaforicamente, quer na minha velhíssima Hermes Baby quer agora no meu computador HP…

Há já alguns anos que a direita portuguesa se apresenta ao país com uma curiosa duplicidade de feitios: por um lado, um chefe de uma delicadeza suspeita (dantes Paulo Portas, do CDS, agora Rui Rio, do PPD); por outro lado, um chefe de uma brutalidade histérica (dantes Passos Coelho, do PPD, agora Assunção Cristas, do CDS, esta última assaz provocadora e malcriada). Claro que todos prometeram a restauração dos costumes desbaratados, fazendo reformas e remoçando as leis. Mas o certo é que não estudam as matérias perfunctoriamente e acabam sempre a aliviar os ricos e a sobrecarregar os pobres. Exemplo: as virtuosas parvoiçadas de Cristas quando foi ministra, com políticas deploráveis quer na vertente agrícola quer na imobiliária, sacrificando nesta muitos inquilinos mais pobres. 

Os discursos políticos e textos jornalísticos com que a direita se tem armado nos últimos anos põem bem a nu quão fraca é esta sua geração de chefes!

Escreve sem adopção das regras 
do acordo ortográfico de 1990


Quando o vício homenageia a virtude


Cristas, a “Feiticeira do Caldas”, que já anda a merecer um retrato no melhor estilo camiliano, chegou-se à frente com os seus modos de virago e botou esta grave sentença: “o BE ficou desmascarado e já não poderá continuar a querer ser o pendor moral do regime”


Pois admitamos que sim, que o “caso Ricardo Robles” – apesar de rapidamente resolvido pelo próprio Robles com a sua demissão do cargo de vereador da CML, onde representava o Bloco de Esquerda – foi sentido pela tão reacionária direita lusitana como um terramoto moral cujo eco atroador convulsionou Lisboa, mais concretamente a Rua da Palma, onde se situa a sede do BE. E então?

Espanta-me que a direita lusitana, tanto a política como a jornalística, seja tão estúpida que ainda não tenha percebido que, com o seu regozijo folgazão – de gaita, berimbau e trompões fortes – pelo passo em falso que deu o ex-edil do BE, está, afinal, a fazer o papel do vício que presta homenagem à virtude. 

É que, para a direita que não se cansa de dar vivas, com hiperbólico estrondo, ao “pecado” de Robles (politicamente censurável mas não ilegal, saliente–se!), o BE terá passado a situar-se no mesmo inferno em que ardem os partidos da direita, a arcarem com os escândalos do BPN, do BPP, do BES, do Banif, da Tecnoforma, dos swaps, dos canudos falsos e outras falcatruas (marca indelével do PPD-PSD), mas também com as suspeitas, nunca realmente esclarecidas, acerca das negociatas dos submarinos, do arranque de sobreiros, dos depósitos do misterioso Jacinto Leite Capelo Rego, dos vistos gold e outras trapalhadas (marca indelével do CDS-PP, antes a mando do “irrevogável” Portas e agora da “intragável” Cristas). Cito Camilo: “Ai dos ímpios, cujas entranhas estão afistuladas de herpes!”
Os partidos da direita lusitana – católica, apostólica, romana e beata – sentiam-se de tal modo mergulhados em vícios que terão porventura rogado a Deus Nosso Senhor Jesus Cristo que lançasse uma valente praga capaz de macular o partido da Catarina Martins, da Marisa Matias, da Mariana e da Joana Mortágua, assim como de tantas e tantos outros militantes do BE, cuja tão badalada “virgindade ética e política” – pobre direita, que assim criou retroactivamente o mito! – seria motivo de grande irritação para as Cristas, os Montenegros, os Júdices e outros avocats d’affaires, os jornalistas e comentadores ao serviço da direita.

Cristas, a “Feiticeira do Caldas”, que já anda a merecer um retrato no melhor estilo camiliano, chegou-se à frente com os seus modos de virago e botou esta grave sentença: “O BE ficou desmascarado e já não poderá continuar a querer ser o pendor moral do regime”! O que quererá dizer “pendor moral do regime”? E onde é que Cristas foi achar, dito ou escrito, esse propósito porventura programático do Bloco de Esquerda?! Mas ela anda tão satisfeita, a Assunção Cristas, por agora se achar comparável à Catarina Martins, que nem percebe que está a homenagear a coordenadora do BE – e, do mesmo passo, a desempenhar o papel do vício que, de vez em quando, se curva para prestar respeitosa homenagem à virtude…

A imprensa da capital – já o dizia Camilo – tem nervosismos de retórica, e a certos jornalistas e comentadores só lhes falta, para terem as virtudes dos incrédulos, a dignidade da razão. Já se sabe que a estupidez é livre e que o disparate se reproduz como os cogumelos. Mas eles estão felizes e são bem pagos. Para quê, então, tentar abrir-lhes os olhos com a crueldade com que Stanley Kubrick mandou abrir os de Malcolm MacDowell numa famosa cena do filme “A Clockwork Orange” (“A Laranja Mecânica”)? Se quisermos “desentupi-los”, mais vale empregar os meios ordinários do canalizador. E que Deus lhes perdoe os pecados e aleivosias.

É sabido que na minha escrita recorro – metaforicamente, está claro! – ao forte pau de carvalho ou lódão argolado. Nasci em Roma, de mãe italiana, mas os avoengos de meu pai, nascido em Montes de Alvor, eram das terras de Barroso. E sobre elas escreveu Camilo: “O Barrosão, quando quer bater ou evitar que lhe batam, estona um esgalho de cerquinho ou marmeleiro, põe–o de molho três dias e três noites em uma poça e depois experimenta-lhe a elasticidade nos joelhos próprios, e, se é forçoso, nas costas alheias.” Nunca tive vocação para praticar a “justiça de Fafe” manejando fisicamente o varapau, mas sempre o fiz metaforicamente, quer na minha velhíssima Hermes Baby quer agora no meu computador HP…

Há já alguns anos que a direita portuguesa se apresenta ao país com uma curiosa duplicidade de feitios: por um lado, um chefe de uma delicadeza suspeita (dantes Paulo Portas, do CDS, agora Rui Rio, do PPD); por outro lado, um chefe de uma brutalidade histérica (dantes Passos Coelho, do PPD, agora Assunção Cristas, do CDS, esta última assaz provocadora e malcriada). Claro que todos prometeram a restauração dos costumes desbaratados, fazendo reformas e remoçando as leis. Mas o certo é que não estudam as matérias perfunctoriamente e acabam sempre a aliviar os ricos e a sobrecarregar os pobres. Exemplo: as virtuosas parvoiçadas de Cristas quando foi ministra, com políticas deploráveis quer na vertente agrícola quer na imobiliária, sacrificando nesta muitos inquilinos mais pobres. 

Os discursos políticos e textos jornalísticos com que a direita se tem armado nos últimos anos põem bem a nu quão fraca é esta sua geração de chefes!

Escreve sem adopção das regras 
do acordo ortográfico de 1990