Caminhos subterrâneos. Descobrir os encantos debaixo do solo

Caminhos subterrâneos. Descobrir os encantos debaixo do solo


Apesar de os próximos passeios já estarem esgotados, o i foi conhecer a Lisboa subterrânea e mostra o que está por debaixo do coração da capital portuguesa


Ainda era cedo (9h30 da manhã) e já se sentia o calor extremo na cidade de Lisboa. Mas isso não foi impedimento para as 33 pessoas que, aos poucos, começaram a juntar-se aos guias José Dias Pereira e Sofia Henriques, da Lynx Travel, no Elevador da Glória, em Lisboa, para conhecerem a Lisboa subterrânea.

Apesar de nem todos os caminhos estarem abertos ao público, ao todo são 14 quilómetros debaixo do solo lisboeta que ligam as principais artérias do coração da cidade. O i visitou a Galeria do Loreto, que começa no Jardim das Amoreiras e termina no Miradouro de São Pedro de Alcântara, com 1200 metros de túneis.

O ponto de encontro é uma estratégia dos organizadores: antes da visita são feitas algumas recomendações e, desde o início, José e Sofia esforçam-se por deixar os participantes o mais à vontade possível com o resto do grupo. O primeiro passo é a “fotografia da praxe”: juntar todas as pessoas num retrato com a mascote da empresa – um lince de peluche. 

A seguir ao ponto de partida e até à entrada subterrânea, o caminho é todo feito a pé, com direito a três paragens obrigatórias – no Miradouro de São Pedro de Alcântara, no Jardim do Príncipe Real e no Chafariz do Largo do Rato – até se chegar ao destino final: o Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras. O percurso é realizado por várias etapas, para as pessoas descansarem e também para os monitores contarem histórias e lendas da antiga Lisboa – mais uma forma de integração, assumem os guias turísticos.

Durante o percurso até às Amoreiras, Pedro Rodrigues e Mira Novakova – visitantes – confessam que estavam muito ansiosos por descer à Galeria do Loreto. É a primeira vez que o casal tem oportunidade de conhecer o que existe por baixo da cidade e consideram-se sortudos porque “estas visitas estão sempre esgotadas”.

As irmãs Helena Sousa e Vanda Sousa, ambas de Campo de Ourique, pensam que a Lisboa subterrânea é um meio para atrair os turistas. Mas, além deles, também os próprios alfacinhas podem conhecer um pouco mais da história da cidade. Aliás, Vanda Sousa convidou a irmã, que já tinha ido a todos os percursos abertos ao público, mas Helena não pensou duas vezes em dizer que sim por reconhecer que “em cada visita há sempre algo novo para aprender” e “imaginar que existe um mundo subterrâneo é muito fascinante”.

 

Galeria do Loreto

Quando se começa a descer para os caminhos subterrâneos, a temperatura diminui e a escuridão obriga a que os túneis sejam iluminados por várias lâmpadas espalhadas no chão. Quem guia as visitas debaixo da terra é Isabel Pitta – que faz parte da equipa do Museu da Água -, que enumera as principais vantagens para quem anda debaixo do solo: “Não há trânsito, é fresco e ir para qualquer lado da cidade é muito mais rápido por aqui.”

O percurso debaixo do solo foi o inverso do caminho feito a pé até ao Reservatório da Mãe d’Água. Isabel alerta que nos túneis as pessoas perdem a noção de onde estão e que, por isso, as paredes contêm várias informações como fotografias, mapas, placas com a altura máxima – muitas vezes chega aos 160 cm – e a localização exata do que está acima.

Lá dentro também há algumas paragens, onde as pessoas podem estar na parte de trás do chafariz do Largo do Rato, por exemplo. Isto porque a Galeria do Loreto está inserida no antigo trajeto que as águas faziam para abastecer a cidade de Lisboa.

Isabel Pitta garante que as pessoas têm muito interesse em saber por onde corria a água, “uma vez que não se vêm os tubos”. A especialista explica que a água se deslocava até às fontes e chafarizes da antiga Lisboa pelos tubos que estão dentro das paredes.

Já no fim da visita, Maria João e Maria Pereira – também visitantes – admitem que, para elas, o mais engraçado foi ver o antigo caminho das águas de Lisboa. As amigas aconselham o passeio a todas as pessoas, mas não revelam muito porque “tudo é uma surpresa” e “o mais fascinante é vir cá sem conhecer o que há aqui em baixo”.

 

Planear a visita

Encontrar empresas que proporcionam uma viagem à Lisboa subterrânea não é tarefa difícil. Complicado será conseguir uma vaga. José Pereira revela que até ao final do ano já tem todas as visitas com a capacidade máxima e que não vê as suas iniciativas como “turismo comum” porque, nos passeios subterrâneos, a estratégia passa por “criar uma empatia com o grupo” de modo a deixar os visitantes mais próximos da experiência.

*Editado por Vítor Rainho