Robles dos Bosques


O caso de Robles será, para muitos, uma desilusão, mas não uma novidade. Aqui ao lado, em Espanha, já assistimos ao episódio Pablo Iglesias


Nunca é fácil perceber a sobranceria da chamada esquerda radical. E o Bloco de Esquerda, sendo o partido que em Portugal melhor representa este quadrante, ilustra na perfeição o que se acabou de escrever. Sem querer ofender ninguém mas, de facto, chega por vezes a dar a sensação que alguns elementos deste partido se consideram a última coca-cola no deserto, tal não é a irascibilidade do seu discurso e o aparente neoiluminismo da sua postura. É estranha a forma como a extrema-esquerda sempre se apresenta como o baluarte dos grandes valores, a personificação na terra da imaculada sabedoria e, sobretudo, a reencarnação no mundo das supostas forças do bem quando, na prática, não é difícil perceber que tal não passa de show-off mediático. 

Ora, esta semana fomos todos surpreendidos com a notícia de que um vereador da Câmara de Lisboa teria feito um negócio da China ou, pelo menos, estaria a tentar fazê-lo, comprando um prédio por uma pechincha e vendendo-o depois por um balúrdio. Tudo normal, diria qualquer pessoa. Nos negócios, o ponto fundamental é fazer dinheiro; nunca perder e apenas pontualmente voltar a ganhar no estrito valor do que se empatou.

O grande problema é que, ao que parece, o hipotético beneficiário deste avolumado negócio foi, veja-se bem, um representante do Bloco de Esquerda que pública e veementemente se manifestava, sempre, contra aquilo que se catalogou como especulação imobiliária. Que grande incoerência. Então querem ver que no Bloco também há capitalistas? Esses grandes malandros! Meu Deus, que desilusão! Enfim, sejamos objetivos, uma desilusão, mas não uma novidade. Afinal de contas, já aqui ao lado, em Espanha, assistimos ao episódio Pablo Iglesias, em que mais uma vez um representante da esquerda libertadora anticapitalismo selvagem comprou uma casa num valor igual ao que anteriormente tinha considerado indecente quando pago por um político de outro quadrante ideológico. Enfim, nada demais, é apenas de novo incoerente e, sobretudo, ridículo. Voltando ao nosso Portugal, apenas terminar com aquilo que de entre tudo o que se passou demonstrou algum laivo de objetividade e que, por isso, se aplaude: a renúncia de Robles ao seu mandato.

Cheguei a pensar, pelas palavras de Catarina Martins e, sobretudo, pelas do próprio, que nada se verificaria. Fiquei agradado de nessa ideia me ter enganado. Em jeito de conclusão e porque nos encaminhamos para novas eleições não tarda, deixar uma sugestão. “Aqui podia morar gente” é um dos slogans do Bloco. Pessoalmente, nada contra slogans! Ainda assim, para futuro poderiam fazer um upgrade, sei lá, qualquer coisa do género “Aqui no Bloco podia morar gente, gente mais coerente”. Era bonito e até rimava!

 

Escreve à sexta-feira


Robles dos Bosques


O caso de Robles será, para muitos, uma desilusão, mas não uma novidade. Aqui ao lado, em Espanha, já assistimos ao episódio Pablo Iglesias


Nunca é fácil perceber a sobranceria da chamada esquerda radical. E o Bloco de Esquerda, sendo o partido que em Portugal melhor representa este quadrante, ilustra na perfeição o que se acabou de escrever. Sem querer ofender ninguém mas, de facto, chega por vezes a dar a sensação que alguns elementos deste partido se consideram a última coca-cola no deserto, tal não é a irascibilidade do seu discurso e o aparente neoiluminismo da sua postura. É estranha a forma como a extrema-esquerda sempre se apresenta como o baluarte dos grandes valores, a personificação na terra da imaculada sabedoria e, sobretudo, a reencarnação no mundo das supostas forças do bem quando, na prática, não é difícil perceber que tal não passa de show-off mediático. 

Ora, esta semana fomos todos surpreendidos com a notícia de que um vereador da Câmara de Lisboa teria feito um negócio da China ou, pelo menos, estaria a tentar fazê-lo, comprando um prédio por uma pechincha e vendendo-o depois por um balúrdio. Tudo normal, diria qualquer pessoa. Nos negócios, o ponto fundamental é fazer dinheiro; nunca perder e apenas pontualmente voltar a ganhar no estrito valor do que se empatou.

O grande problema é que, ao que parece, o hipotético beneficiário deste avolumado negócio foi, veja-se bem, um representante do Bloco de Esquerda que pública e veementemente se manifestava, sempre, contra aquilo que se catalogou como especulação imobiliária. Que grande incoerência. Então querem ver que no Bloco também há capitalistas? Esses grandes malandros! Meu Deus, que desilusão! Enfim, sejamos objetivos, uma desilusão, mas não uma novidade. Afinal de contas, já aqui ao lado, em Espanha, assistimos ao episódio Pablo Iglesias, em que mais uma vez um representante da esquerda libertadora anticapitalismo selvagem comprou uma casa num valor igual ao que anteriormente tinha considerado indecente quando pago por um político de outro quadrante ideológico. Enfim, nada demais, é apenas de novo incoerente e, sobretudo, ridículo. Voltando ao nosso Portugal, apenas terminar com aquilo que de entre tudo o que se passou demonstrou algum laivo de objetividade e que, por isso, se aplaude: a renúncia de Robles ao seu mandato.

Cheguei a pensar, pelas palavras de Catarina Martins e, sobretudo, pelas do próprio, que nada se verificaria. Fiquei agradado de nessa ideia me ter enganado. Em jeito de conclusão e porque nos encaminhamos para novas eleições não tarda, deixar uma sugestão. “Aqui podia morar gente” é um dos slogans do Bloco. Pessoalmente, nada contra slogans! Ainda assim, para futuro poderiam fazer um upgrade, sei lá, qualquer coisa do género “Aqui no Bloco podia morar gente, gente mais coerente”. Era bonito e até rimava!

 

Escreve à sexta-feira