Quem passa por Mirandela, no distrito de Bragança, conhece bem as tradições das festas da cidade e sabe que música e animação não faltam. Mas as Festas de Mirandela e de Nossa Senhora do Amparo não se resumem a isso: o i foi conhecer a história desta festa, que é organizada pelo povo… para o povo.
Temos de recuar alguns anos para perceber como surgiram estas comemorações. Em 1794, um juiz de fora nomeado pelo rei D. João vi ordena a realização de uma festa em honra de Nossa Senhora do Amparo – festa essa que foi composta, na altura, pela celebração de uma missa solene, um sermão e uma procissão. Mas as comemorações não ficaram por aqui: na véspera, a cidade teve direito a fogo-de-artifício, mandado vir expressamente do Porto, uma tradição que ainda hoje se mantém.
Passados 67 anos realizou-se aquela que foi considerada a primeira grande festa da cidade. Foi celebrada no primeiro domingo de agosto de 1861, há 157 anos e, já nessa altura, as festas atraíram milhares de fiéis e devotos, ou não fosse esta uma festa religiosa. Ainda hoje assim é, mas com algumas modernices à mistura: este ano há festa de 25 de julho a 5 de agosto. Toda a gente entra no espírito e ajuda a preparar e a organizar as celebrações.
Sílvio Santos – juiz da Confraria de Nossa Senhora do Amparo – diz que há várias décadas que assim é. “Os confrades trabalham de forma altruísta e voluntária ao longo do ano para que no dia 25 de julho se iniciem mais umas festas da cidade”, conta ao i o principal responsável pelas festividades.
Mas, afinal, o que é um juiz da Confraria de Nossa Senhora do Amparo? “É o principal responsável pela equipa que organiza estas festas, além de zelar e manter o santuário da Padroeira da Cidade, ao longo dos 365 dias do ano”, explica Sílvio, acrescentando que, para um mirandelense, assumir esta função é uma “honra enorme”.
Tradições Todas as festas têm o seu quê de música popular, mas a abertura de uma celebração requer um espetáculo cheio de pompa e circunstância. Por isso, este ano, as festas da cidade arrancaram com um espetáculo da orquestra Esproarte – Escola Profissional de Arte e com a presença da soprano Dora Rodrigues e do maestro Jan Wierzba.
O responsável máximo pelas festas conta ao i que há quatro pontos importantes das mesmas que são já tradição há muitos e longos anos. Um deles é a Marcha Luminosa, uma das principais atrações destas festividades. Este momento, que decorre na última sexta-feira das festas, dia 3 de agosto, tem “uma espécie de corso carnavalesco, com carros alegóricos, vários elementos de entretenimento, escolas de samba e grupos de bombos”. Este ano, a marcha começa às 22h30.
Assim que termina a Marcha Luminosa arranca a Noite dos Bombos, uma das tradições mais engraçadas das festas de Mirandela: mais de 1500 pessoas vestem batas brancas e percorrem as principais zonas da cidade ao ritmo de milhares de bombos. Quem não gosta de barulho prepare-se: há “música” até ao nascer do sol.
Outro dos momentos mais aguardados das festas é a procissão. Realiza-se no dia 4 de agosto, pelas 18h00, em honra de Nossa Senhora do Amparo, padroeira de Mirandela. Trata-se de uma “homenagem de grande dimensão com direito a muita animação: fanfarra, bandas filarmónicas, 13 andores e centenas de peregrinos.”, conta Sílvio Santos.
O último ponto alto da festa em Mirandela é o fogo-de-artifício, que acontece no final das comemorações. Para Sílvio, é dos momentos mais bonitos das festas: “É um espetáculo de grande dimensão e qualidade. Dura cerca de 40 minutos e é realizado por empresas de renome internacional.”
Há praticamente 200 anos que se realizam as festas com artistas da cidade mas, hoje, as comemorações têm concertos e atuações que incluem vários nomes conhecidos da música popular… E não só: este ano, Mirandela recebe Mishlawai, Ana Bacalhau, Élvio Santiago e os First Breath After Coma (ver cartaz ao lado), além dos muitos DJ que vão animar a cidade pela madrugada dentro. “Em 2016 tivemos artistas como o Boss AC, em 2017 veio cá a Cuca Roseta e este ano temos a atuação de Ana Bacalhau”, recorda Sílvio Santos. E este é um cartaz que agrada a todos: segundo o juiz da festa, “até os mais velhos já se renderam aos tempos modernos”… E às batidas mais mexidas.
Melhor e maior romaria da região Sílvio Santos conta ao i que esta romaria “se trata, sem dúvida, daquela que tem maior dimensão no concelho de Mirandela: envolve cerca de 30 voluntários da sociedade civil que ao longo do tempo preparam o evento nas suas mais diversas vertentes: religiosa, cultural e desportiva, entre outras”.
E esta festa tem uma particularidade: aqueles que a organizam são também aqueles que a gozam. Sílvio Santos explica que estas comemorações são das poucas que são realizadas por “civis, e não pela câmara municipal diretamente”.
E expetativas para este ano? “Os últimos estudos mostram que, no principal fim de semana das festas, a população circulante na cidade é cinco vezes superior aos residentes”, diz ao i. “Portanto, este ano esperamos que se cumpra a tradição e que Mirandela receba cerca de 65 mil a 70 mil visitantes ao longo do fim de semana”, conta Sílvio.
Romaria que é romaria tem muita festa e animação e, como tal, quem passar por Mirandela até ao próximo fim de semana já sabe com o que vai poder contar: muita música, participar nas procissões e apreciar o fogo-de-artifício que é, segundo Sílvio, “um dos melhores momentos das festas”.
Se este verão quer fazer o roteiro das festas, na próxima semana o i mostra-lhe qual o destino que deve colocar no GPS.