Arranca hoje, a partir das 18h20, a caminhada dos clubes portugueses nas competições europeias em 2018/19. Tem a palavra o renovado Rio Ave, praticamente uma equipa nova em relação ao conjunto que na época passada encantou pelos relvados portugueses sob o comando de Miguel Cardoso, terminando o campeonato em quinto – ainda assim, é preciso lembrar que só está na prova porque o Aves, vencedor da Taça de Portugal, não efetuou a pré-inscrição nas provas europeias em tempo útil. Os vila-condenses perderam Cássio, Lionn, Marcelo, Marcão, Yuri Ribeiro, Pelé, João Novais, Francisco Geraldes, Barreto e Guedes, além de Rúben Ribeiro, transferido em janeiro para o Sporting. Tudo somado, dá 11 habituais titulares!
O próprio técnico, de resto, abandonou o projeto, seduzido pelo convite dos franceses do Nantes. Para o seu lugar chegou José Gomes, de regresso a Portugal após um périplo pelo mundo que durou oito anos, e é o antigo adjunto de Jesualdo Ferreira que terá de tentar levar a nau rioavista a bom porto. O primeiro obstáculo que terá pela frente chama-se Jagiellonia Bialystok, segundo classificado no último campeonato polaco. Por cá, é uma equipa quase totalmente desconhecida, e por essa razão o i resolveu ouvir dois portugueses que podem explicar ao Rio Ave, com perfeito conhecimento de causa, como superar este adversário “obscuro”.
O matador português Há menos de uma semana (sexta-feira), o Jagiellonia entrou na nova edição do campeonato polaco com uma derrota caseira: 0-1. E o causador desse desaire… adivinhou, caro leitor: é português. Chama-se Flávio Paixão, tem 33 anos e vai na sexta temporada a jogar na Polónia – inicia a terceira no Lechia Gdansk, para onde se transferiu em janeiro de 2016 depois de dois anos e meio no Slask Wroclaw.
O avançado, que passou pela equipa B do FC Porto em 2005/06 e depois jogou no futebol espanhol, escocês e iraniano até chegar à Polónia, acredita que a chave do encontro pode passar por um momento específico do jogo: o contra-ataque. Para o bem e para o mal. “A grande qualidade do Jagiellonia é o contra-ataque, têm alas muito rápidos e são muito perigosos nesse momento do jogo. Se o Rio Ave pressionar muito alto pode acabar por sofrer. Eles sabem jogar bem, têm alguns jogadores de muita qualidade, como o 26 (Pospisil, médio checo). Nós conseguimos tapar os contra-ataques deles, baixámos as linhas, com mais pressão na zona do meio-campo, e resultou em cheio. Mas também mostraram muitos problemas com bolas nas costas dos defesas e no contra-ataque também, porque metem tanta gente na frente que acaba por faltar depois ajuda lá atrás. O Rio Ave pode aproveitar esse facto”, explica Flávio Paixão ao nosso jornal, destacando ainda Sheridan, um ponta-de-lança “tipicamente britânico, que gosta de bola no ar, para receber e passar aos colegas que vêm de trás ou guardá-la e aguentar a posse”.
Sobre o golo que derrotou o Jagiellonia, o atacante luso explica como aconteceu. “Foi um cruzamento do extremo-esquerdo, só tive de encostar. Agora estou a jogar a ponta-de-lança, comecei nos últimos sete jogos da época passada, quando o meu irmão [o gémeo Marco Paixão, agora no Altay da Turquia] foi afastado da equipa, e marquei cinco golos! Nunca pensei sentir-me tão bem nesta posição, nunca gostei de jogar a 9 e agora estou a adorar! São movimentos diferentes, mas estou sempre mais perto do golo”, realça.
Salientando não conhecer a valia do plantel atual do Rio Ave, devido às inúmeras mudanças no plantel vila-condense, Flávio Paixão acredita que a equipa portuguesa irá sentir algumas dificuldades. “O Jagiellonia é uma equipa muito agressiva, joga com muita intensidade. Cresceu muito nos últimos dois anos e conseguiu manter 80 ou 90 por cento da base da equipa. Vai ser difícil para o Rio Ave”, vaticina, destacando ainda o ambiente que espera hoje os vila-condenses em Byalistok: “O estádio leva normalmente 15, 20 mil pessoas, que criam um ambiente fantástico. Se será positivo ou negativo para o Rio Ave já vai depender da forma como cada jogador reage. E o relvado está espetacular.”
um espião antigo Recuando três anos, encontramos o último jogador português a representar o Jagiellonia: Alvarinho. Hoje no Farense, histórico clube algarvio onde se formou e para o qual voltou na época passada, o extremo português passou três temporadas e meia na Polónia, tendo sido contratado pelo Jagiellonia em 2015/16, depois de vencer uma Taça e uma Supertaça (além de jogar na Liga Europa) pelo Zawisza Bydgoszcz. Ao i, fala de uma equipa “forte fisicamente, de uma intensidade muito grande e com três jogadores muito rápidos na frente”.
“Tentam jogar, mas vão muito no esforço. Quando apertados praticam um futebol mais direto e ganham muitas segundas bolas”, revela Alvarinho, destacando cinco elementos do Jagiellonia: “O extremo-direito, Frankowski, que é internacional polaco; o número 10 (Lazarevic, internacional esloveno); o lateral-esquerdo, o Guilherme, um brasileiro que defrontei algumas vezes; o ponta-de-lança (Sheridan); e o Romanchuk, que nasceu na Ucrânia mas é internacional polaco.” O extremo luso de 27 anos lembra que o Jagiellonia esteve “muito perto” do título o ano passado – ficou a três pontos do Legia, que tem “um poderio financeiro maior que as outras equipas todas: em janeiro, se a época não estiver a correr como esperado, reforça-se muito bem e acaba sempre por vencer no fim”. No entender de Alvarinho, o Legia (que ainda em 2016/17 derrotou o Sporting na Liga dos Campeões) “é uma equipa ao nível do Braga e o Jagiellonia estará no patamar imediatamente a seguir”. Assim sendo, o atacante considera que o Rio Ave “irá passar a eliminatória, apesar de ter perdido jogadores importantes”.
Medo do favoritismo Os dados foram lançados pelo i, e agora cabe aos responsáveis vila-condenses estudar o caso. Em todo o caso, na antevisão ao encontro, José Gomes considerou que o favoritismo está repartido entre os dois conjuntos. “Diria que é um jogo de 50/50. Este adversário tem a força de ter uma equipa de continuidade, mas não nos podemos escudar atrás dessa realidade e dizer que temos menos possibilidades. Vamos bater-nos cara a cara para tentar vencer e, apesar de saber que vamos disputar apenas a primeira parte da eliminatória, não podemos ficar à espera de resolver as coisas na segunda”, prometeu o treinador do Rio Ave, garantindo que as qualidades da equipa polaca estão bem identificadas: “É uma equipa muito forte nas transições defensivas e ofensivas, que tira partido do seu poderio físico, com jogadores altos, robustos e agressivos na disputa da bola. Assentam o seu jogo pelos corredores, com muita dinâmica, mas estudámos bem o adversário e sabemos o que fazer.”
Do outro lado, também se afasta a ideia de haver um favorito. “Será um encontro difícil, mas estamos preparados para isso. Apesar de não sermos favoritos, o nosso objetivo é vencer”, disse o técnico Ireneusz Mamrot, considerando o Rio Ave uma equipa de filosofia semelhante à do seu conjunto, “com boa organização do jogo defensivo e com alta qualidade individual para criar jogo e ter posse de bola”. “Sabemos que tipo de jogadores vamos enfrentar. Há muitos jovens emprestados dos maiores clubes portugueses e também podemos esperar quatro ou cinco bons brasileiros. Apesar de muitas mudanças, esta equipa parece ser boa em termos de organização do jogo”, frisou.
Resta dizer que, caso passe o Jagiellonia, o Rio Ave irá enfrentar os belgas do Gent na terceira pré-eliminatória, onde também já entrará o Braga (defronta os ucranianos do Zorya). Mas isso fica para outras núpcias.