Luís Montenegro, aquele que já é na prática, o challenger de Rui Rio dentro do PSD – e valha a verdade que Montenegro assumiu esse papel às claras no congresso que elegeu a equipa de Rui Rio -, disse ontem em entrevista à SIC Notícias que não faria das eleições europeias uma “sondagem” sobre as legislativas. Aliás, o antigo líder parlamentar do PSD invocou o ano de 2009, quando o partido então liderado por Manuela Ferreira Leite conseguiu ganhar as europeias e, poucos meses depois, era derrotado pelo PS de José Sócrates nas legislativas. É verdade que acontecem coisas extraordinárias na política – e toda a gente sabe que a formação da geringonça foi uma delas. Mas, em 85% das vezes, as coisas são previsíveis, demasiadamente previsíveis.
Falta menos de um ano para as eleições europeias e, tal como em 2009, elas vão acontecer pouco tempo antes das eleições legislativas. E são, na realidade, um teste poderoso – António José Seguro foi obrigado a abdicar da liderança do PS por António Costa depois de ter conseguido 31% dos votos e vencido a coligação PSD/CDS, que só conseguiu 27%. O problema, aqui, não é Rui Rio conseguir mais do que 27%. É que, infelizmente para Rui Rio, esses 27% correspondem mais coisa menos coisa àquilo que as sondagens dão ao PSD neste momento em futuras eleições legislativas.
Rui Rio está convencido – tal como António Costa – de que as eleições legislativas se ganham ao centro. E isso, em parte, é verdade, e os casos de Cavaco Silva e José Sócrates estão aí para o demonstrar. O problema é que, até agora, Rui Rio ainda não se conseguiu diferenciar do centrismo de Costa – antes pelo contrário, tem dias em que parecem líderes geminados.
A geminação aproveita a Costa, não a Rio. A falta de ambição com que o PSD parte para este ciclo eleitoral – demasiado semelhante à falta de ambição que era apontada a Seguro - ameaça ser catastrófica para os sociais-democratas. Em maio de 2019 e em outubro de 2019.