Israel torna o apartheid constitucional


Quando o racismo e o ódio ao outro disparam na Europa – lembrando perigosamente o ódio ao judeu dos anos 30 –, que seja Israel a proclamar o segregacionismo é doloroso de ver.


Nelson Mandela foi comemorado esta semana um pouco por todo o lado – se fosse vivo, o grande combatente do regime racista da África do Sul faria 100 anos. Os mais novos não se lembram, mas até Portugal – à conta de na África do Sul existir uma grande comunidade portuguesa – chegou a abster-se quando se votaram nas Nações Unidas sanções à África do Sul. O que hoje nos parece asqueroso – um regime de apartheid com os brancos cidadãos de primeira e os negros cidadãos de segunda – vigorou até 1994, ano em que Nelson Mandela, depois de longos anos na prisão por combater o regime racista, foi eleito presidente da África do Sul e mudou a Constituição.

Esse apartheid regressa agora em Israel, só que agora, em vez da separação de direitos entre brancos e negros, o segregacionismo é entre judeus e não judeus. Um quinto da população israelita é de origem árabe, há deputados árabes no Knesset, que agora passam a cidadãos de segunda. O que diz a lei, além de impedir a língua árabe de ser utilizada pelas instituições israelitas? “Israel é a pátria histórica do povo judeu, que tem o direito exclusivo à sua autodeterminação.”

A maioria do parlamento – 62 deputados – votou a favor da lei mas, mostrando que o tema não é consensual em Israel, 55 deputados votaram contra – naturalmente, entre os que votaram contra estão os deputados de origem árabe. O rabi Rick Jacobs, presidente da associação que representa a maior parte dos judeus americanos, disse que a aprovação da nova lei “é um triste e desnecessário momento para a democracia israelita”. “O prejuízo que esta nova lei do Estado-nação vai trazer para a legitimidade da visão sionista e para os valores do Estado de Israel enquanto nação judia e democrática é enorme.”

Quando o racismo e o ódio ao outro disparam na Europa – lembrando perigosamente o ódio ao judeu dos anos 30 –, que seja Israel a proclamar o segregacionismo é doloroso de ver.