Não será com o aval dos seus apoiantes que Pedro Santana Lopes vai sair do PSD. A decisão, seis meses depois de se candidatar à liderança do partido, apanhou todos de surpresa e ninguém arrisca incentivar a criação de um novo partido político. “Santana pode sair do PSD, mas o PSD nunca vai sair dele”, afirma, em declarações ao i, o deputado social-democrata Manuel Frexes.
Apoiante e amigo de Santana Lopes desde os tempos da faculdade, o presidente da distrital de Castelo Branco admite que lhe “custa muito” imaginar Pedro Santana Lopes fora do partido. “É uma ideia, para mim, inconcebível. É uma pessoa que faz parte da história do partido com um percurso decisivo e marcante.”. Frexes compreende, porém, a “mágoa” do amigo que esteve na primeira linha em momentos difíceis e foi “muito mal-amado” dentro do PSD.
Santana ainda não se desfiliou e alguns dos que o apoiaram estão na expectativa do que virá a seguir. Preferem, por isso, não fazer comentários. Barreto Xavier, ex-secretário de Estado da Cultura, não esperou que Santana formalizasse a saída para confessar que está arrependido de o ter apoiado. “Nas eleições internas do PSD de janeiro deste ano, sendo a escolha entre ti e o Rui Rio, eu votei em ti (…) Hoje, sinto-me defraudado. Nunca teria votado em ti se soubesse que agora tomarias esta atitude”, escreve, numa carta aberta a Pedro Santana Lopes publicada no jornal “Público”.
Barreto Xavier defende que seria “mais produtivo” ficar no PSD para lutar pelas propostas da candidatura e “estabelecer laços com a atual direção”.
O candidato derrotado chegou a fazer um acordo com Rui Rio, mas acabou por se distanciar da atual direção pouco tempo depois. Os avanços e recuos de Santana deixaram alguns apoiantes desiludidos. “Isto não faz sentido nenhum. Parece que está a olhar mais para o umbigo do que para aquilo que o partido precisa e deu uma facada na hipótese de voltar a ser um político credível”, diz um dos apoiantes que se envolveu na campanha interna.
Na entrevista à revista “Visão” em que anunciou que a relação com o PSD acabou, Santana admitiu a criação de um novo partido. Dificilmente levará alguém consigo. “Sou incapaz de sair do PSD. Foi ali que eu cresci. Mas continuarei a ser amigo dele, seja qual for a decisão”, diz Manuel Frexes.
Pedro Pinto, outro dos apoiantes incondicionais, foi o primeiro a garantir que não vai acompanhar o amigo. João Montenegro, diretor de campanha de Santana nas eleições diretas, também já esclareceu, em declarações ao “Expresso”, que será sempre do PSD.
O percurso de Santana dentro do PSD tem sido atribulado. O momento mais alto da sua carreira política foi quando chegou a primeiro-ministro, em 2004. Durão Barroso trocou o governo por Bruxelas e Santana foi primeiro-ministro durante seis meses. Não lhe correu bem. O Presidente da República Jorge Sampaio dissolveu o parlamento com o argumento de que “sucessivos incidentes e declarações, contradições e descoordenações contribuíram para o desprestígio do governo e das instituições em geral”. Disputou as eleições legislativas com José Sócrates, em 2005, mas o resultado foi trágico e os socialistas conseguiram, pela primeira vez, atingir a maioria absoluta.
Foi depois dessa derrota que, no congresso do PSD, em Pombal, prometeu “andar por aí”. Prometeu e cumpriu. Depois disso candidatou-se à liderança do partido mais duas vezes. Em 2008, ficou em terceiro lugar com quase 30% dos votos. Venceu essa eleição Manuela Ferreira Leite e Passos Coelho ficou em segundo. No ano seguinte, Santana disputou as eleições para a Câmara Municipal de Lisboa, mas foi derrotado por António Costa.
Ainda ponderou candidatar-se à presidência da República, em 2015, mas não avançou devido aos “deveres enquanto provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa”. Foi pressionado pelo PSD para voltar a ser candidato em Lisboa contra Fernando Medina, em 2016, mas resistiu à tentação e não avançou.
As derrotas no país e no partido não travaram aquele que pode ter sido o seu último combate dentro do PSD. Com a saída de Passos Coelho abriu-se a disputa pela liderança. As desistências de Luís Montenegro e Paulo Rangel foram decisivas para mais um regresso ao combate político depois de ter sido provedor da Santa Casa de Lisboa durante seis anos.
Na apresentação da candidatura prometeu um PSD “cada vez mais PPD” e “cada vez mais popular”. Voltou a perder, mas promete continuar a andar por aí. Só que desta vez fora do PSD.