Faltam correr apenas mais duas cortinas para fechar o palco do Campeonato do Mundo de 2018. Em Sampetesburgo, a França bateu a Bélgica por 1-0 e fica à espera do que se vai passar esta noite, em Moscovo.
Exactamente dois anos após ter perdido a final do seu Europeu contra Portugal na inacreditável final de Saint-Denis, a França sentiu que não havia mais oportunidades a desperdiçar em tão pouco tempo. Mostrou-se firme nessa convicção mesmo quando sofreu a maior fase de pressão dos belgas. Pode muito bem dizer o seu treinador que já esqueceu o drama de Paris em 2016. Qual quê? A memória está bem presente na forma muito mais controlada como dispõe as suas pedras no relvado.
É forte a rivalidade entre belgas e franceses. Conta o meu amigo João Sena que tem um camarada belga que se refere sempre à França como “ce petit pays au sud de la Bégique”. Reconheça-se que é requintado, o bicho. E que se arrisca sempre a atirar-se para fora de pé. Mas esta Bélgica que surgiu na Rússia, não enganou ninguém e mostrou cedo ao que vinha.
A maneira descarada como, durante longo tempo, meteu o Brasil no bolso ficará como um dos momentos marcantes do Mundial. Podemos dizer sem medo das palavras que estivemos sempre perante aquele grande país que fica a norte da França. E fez-lhe frente como um igual, a despeito de raramente vermos os belgas em fases tão adiantadas das competições internacionais. A última foi em 1996, mas Maradona era demais.
É Hoje! Pelas 21 horas de Moscovo, em Moscovo, no Estádio Luzhniki. Croácia e Inglaterra na decisão do finalista que falta.
Depois de tudo o que sofreram frente à Rússia, em Sochi, os croatas terão, neste momento, uma visão menos romântica daquilo que estava a ser o seu Mundial. A forma como bateram a Argentina criou água na boca a muita gente, mas deu para perceber que estávamos perante uma Argentina menor com um Messi sem dinâmica e que muitas das virtudes dos rapazes do Adriático confundiram-se com fraquezas alheias. Ninguém lhes retira, por isso, o mínimo de brilho, atenção! Sobretudo quando têm um dos dois, para mim, claro, em opinião puramente pessoal, melhores jogadores deste Campeonato do Mundo: Modric (o outro é Hazard). Mas percebeu-se que fisicamente a equipa quebrou muito no prolongamento e deixou-se levar ao engano de um entusiasmo contrário que foi ganhando o volume de vagas insuperáveis até ao momento das grandes penalidades.
Por seu lado, a Inglaterra, que vive um dos momentos mais brilhantes do seu futebol tão, tão, tão antigo que se perde na noite dos temposs – foi campeão do Mundo de sub-20 e de sub-17 -, pode estar à beira de fazer contas com a História. É de estranhar, de facto, a pouca consistência de todas as equipas inglesas que têm, como diz o povo, de Ois da Ribeira a Chão de Meninos, dado com os burrinhos na água sempre que se apresentam na fase final de grandes competições, Europeus incluídos.
Tirando aquele ano de 1966 e o único título conquistado não sem alguma dose de contestação – tanto por parte dos portugueses, obrigados a deslocarem-se a Wembley para a meia-final em vez de jogarem na sua “casa” de Liverpool, como de parte dos alemães, que ainda hoje se queixam do golo-que-não-devia-ter-sido naquele pontapé de Hurst que nunca se saberá se ultrapassou ou não a linha de baliza – a Inglaterra tem falhado por hábito todos os verdadeiros momentos.
Uma única final (Mundiais e Europeus), e essa vitória sem segunda, deixam-na muito longe do poderio de selecções como a Itália, como a Alemanha ou como o Brasil, só para citar os três maiores, e ainda mais longe da soberba com que se costumam sempre revestir de cada vez que o viril jogo bretão (na tão caricata expressão brasileira) vem à tona das discussões.
A Inglaterra deve bem mais a si própria e ao mundo do que aquilo que fez até hoje. De tal forma que vive em festa com uma presença na meia-final ao fim de nada menos de 28 anos. Chega para que a considere favorita? Até certo ponto. Mas o favoritismo que lhe atribuo prende-se bem mais com as transformações que tem feito à sua forma de jogar, que surgiram com Sven-Göran Eriksson nos últimos anos e foram, após a sua saída, durante muito tempo postas na gaveta com a insistência em seleccionadores sem dúvida respeitáveis mas que ainda estão presos a uma pseudo superiorade que o tempo tratou de eclipsar.