Com 18 meses de mandato, Trump estás prestes a voltar à Europa, aquele sítio estranho e cuja “capital” dificilmente conseguirá apontar num mapa. Virá a Bruxelas para a sacramental cimeira da NATO, a decorrer na quarta e quinta-feira, e seguirá para Helsínquia para um encontro com Putin.
Na cimeira da NATO só haverá um protagonista (Trump) e um único tema (os gastos de cada aliado no sector da defesa). Trump considera a NATO uma fonte de despesa para o contribuinte dos EUA, cujo orçamento representa dois terços dos orçamentos de defesa dos 29 aliados. A contabilidade é ainda mais pesada se pensarmos que os EUA gastam em investigação e em aquisição de novas capacidades, ao passo que os orçamentos de defesa dos restantes aliados são consumidos com salários, pensões, reformas e “soldados de papel” que só existem no orçamento e não podem ser deslocados para cenários de combate. Trump deu-se ao trabalho de escrever a todos os chefes de Estado e de governo (21 em 29) cujos orçamentos não cumprem o compromisso de gastar 2% do PIB com a defesa. As excepções são a potência militar sobrante na Europa (Reino Unido), os beligerantes por vizinhança (a Grécia e, até há pouco tempo, a Turquia), os assustados por proximidade (Polónia, Roménia, Estónia, Letónia e Lituânia) e, claro, a hiperpotência que gasta com a defesa 3,61% do PIB (o serviço mais valioso que os EUA exportam e que lhes permite vender dívida pública em dólares para financiar uma balança comercial cronicamente deficitária). Desta lista de oito aliados cumpridores, os recém-chegados ao quadro de honra são os quatro lestianos, muito assustados com a invasão da Crimeia e a guerra civil na Ucrânia. O grande responsável pela nova vida da NATO e pelo crescimento dos orçamentos da defesa responde pelo nome de Putin. Para dar maior efeito à sua ameaça de abandonar a NATO caso os aliados não alarguem os cordões à bolsa, Trump voa de Bruxelas para Helsínquia para um encontro com Putin.
Podemos não gostar do método, mas Trump limita-se a fazer, com ameaças gritadas de abandono da NATO, o mesmo que tentaram fazer os seus predecessores: burden sharing. Ainda que com a ajuda de Putin, está a obter resultados. E estes resultados são necessários: a Europa tem de gastar mais com a defesa e tem de ser capaz de gerar segurança.
E o que trará a cimeira de Bruxelas para Portugal? Uma repetição do discurso tradicional sobre os valiosos contributos nacionais para outras organizações internacionais (ONU, UE), a mais-valia da nossa cooperação militar bilateral (desde logo com os PALOP) e as limitações das métricas que quantificam a despesa com a defesa. Resumindo: ganhar tempo, empurrar com a barriga e esperar que Trump se vá embora. Seria mais útil promover uma avaliação quantificada do que Portugal tem de fazer face ao fim da vida contabilisticamente útil dos F-16 e das Meko (ou seja, o momento em que o investimento em manutenção já não se justifica face à perda comparativa de capacidades com equipamentos mais recentes). Mas estas são decisões com implicações a 30 anos, difíceis de ancorar num programa nacional de desenvolvimento que inclua valor acrescentado para a indústria nacional. Todos sabemos que os políticos contemporâneos se contentam em chegar a sexta-feira (e já não se publica “O Independente”…) ou, no caso dos mais ambiciosos, ao fim do Verão. Os verdadeiramente geniais são capazes de delinear um plano para sobreviverem às eleições de 2019.
Escreve à sexta-feira, sem adopção
das regras do acordo ortográfico de 1990