Ou não estamos nós em consonância com o tempo. É um dos grandes dramas da humanidade que tanto nos marca enquanto pessoas como destrói países e civilizações. Quando os portugueses entraram pela primeira vez no Índico, em 1488, encontram-no relativamente vazio porque a China se isolara do exterior. A coincidência temporal destes dois acontecimentos permitiu a supremacia portuguesa no séc. xvi, apesar de os portugueses serem pouco mais de um milhão e de o nosso país se encontrar do outro lado do planeta.
Por vezes, os povos não estão conectados com o tempo e perdem com isso. Perdeu a China no séc. xvi como pode perder a Europa no séc. xxi. Quando chegou à chefia do governo da Alemanha, Gerhard Schröder encetou uma série de reformas sociais, entre elas no sistema de saúde, nas pensões e na segurança social, reformou a lei laboral e baixou alguns impostos. Em 1998, ano que o SPD ganhou as eleições, a economia crescia 0,2% do PIB e o desemprego atingia os 10%. A Alemanha estava estagnada. Depois das reformas de Schröder, o cenário mudou por completo e o sucesso alemão é conhecido de todos.
Desde então, a Alemanha tem chamado a atenção dos demais Estados da União Europeia para encetarem reformas semelhantes. Os problemas existentes em Portugal e França são, de certa forma, semelhantes aos dos alemães no final do século passado. Infelizmente, poucos foram os que prestaram atenção aos avisos de Berlim. O tempo era de reformas, de preparação para os desafios que se vislumbravam, mas foram vários os governos, como o francês, que não quiseram fazer. Fechar os olhos fazendo de conta que nada se passa é um erro muito comum.
Agora que a França tem um presidente disposto a levar a cabo reformas semelhantes às de Schröder na Alemanha, são os alemães que se podem ter cansado de esperar. A sintonia entre estes dois países, tão necessária para a União Europeia, pode estar uma vez mais desfasada no tempo. Podemos concluir que é azar, mas não é. Foi negligência dos governantes, incúria e um certo desleixo próprio dos que nada fizeram para terem o que têm. E a França do início do séc. xxi pouco tinha feito para usufruir da riqueza e bem-estar que lhe caíram no colo.
Este ano de 2018 pode ser aquele em que nos damos conta que é tarde demais. Nada é certo, não haja dúvidas disso, e tudo pode acontecer, mesmo para nosso bem. Não é a esperança a última a morrer? Quanto ao futuro, não o conhecemos. Mas, como dizia Bernardo Soares no “Livro do Desassossego”, este pesa-nos como a possibilidade de tudo. Talvez, como ele, não devamos ter esperanças nem saudades. Porque também o nosso passado é tudo quanto não conseguimos ser.
Advogado
Escreve à quinta-feira