Migrações. Minicimeira deu a perceber a profundidade das divisões

Migrações. Minicimeira deu a perceber a profundidade das divisões


Primeiro-ministro italiano levou um plano de dez pontos ao encontro de trabalho de emergência. Líder espanhol fala em “ponto de partida”


Enquanto os chefes de governo de 16 Estados-membros da UniãoEuropeia se reuniam de emergência em Bruxelas para tentarem encontrar uma solução para a crise da migração, um barco carregado de imigrantes sem documentos navegava no Mediterrâneo à procura de um porto de abrigo onde atracar. O barco da ONG alemã Lifeline está há mais de três dias no Mediterrâneo, com 230 migrantes a bordo e falta de víveres, à espera de autorização para desembarcar.
O governo italiano, que recusou mais uma vez o aportamento de um barco de refugiados, levou ontem a Bruxelas um plano de dez pontos para resolver o impasse europeu em relação à questão da imigração. Giuseppe Conte disse aos seus pares que o futuro da livre circulação no espaço da UE está em causa se não se resolver a questão.
Sem a presença dos países do Grupo de Visegrado (Hungria,Polónia, República Checa e Eslováquia), que se recusaram a participar, a reunião de Bruxelas mostrou as divisões existentes entre os Estados-membros em relação a uma questão de charneira que põe em causa o futuro da Europa sem fronteiras.
“Se não tivermos uma solução genuína na questão da migração, Schengen estará morto”, afirmou uma fonte diplomática ao “Guardian”. Enquanto Emmanuel Macron apelava à defesa dos valores dos direitos humanos, Conte mostrava-se “satisfeito” por ter “conduzido o debate atualmente em curso na direção certa”, e o líder do Movimento 5 Estrelas, e vice-presidente do governo em Itália apontava no Facebook o dedo à falta de solidariedade da França: “A emergência imigrante continua em Itália em parte porque a França continua a recusar pessoas na fronteira.” 
Os dez pontos do executivo populista italiano, que tem tomado uma posição radical em relação à chegada de imigrantes à sua costa desde que chegou ao poder, reciclam algumas ideias já antes defendidas por Roma, como a partilha da responsabilidade pelos imigrantes recolhidos no mar e o bloqueio de fundos dos países que recusem essa partilha.
Pedro Sánchez, o novo líder do governo espanhol, mostrou-se, no entanto, otimista: “Descobrimos mais pontos em comum do que discrepâncias”, afirmou Pedro Sánchez, citado pela agência Efe, acrescentando que a proposta do eixo franco-alemão--espanhol de criar centros fechados de desembarque de refugiados em solo europeu é um “ponto de partida” para se tentar chegar a um acordo entre os Estados-membros.
O otimismo de Sánchez, no entanto, esbarrava no tom de diminuição das expetativas adotado pela chanceler alemã. “O Conselho Europeu não conseguirá uma solução global para o problema da imigração”, afirmou Angela Merkel.
“Sempre que possível, queremos soluções europeias; onde não for possível, estamos dispostos a encontrar uma estrutura comum com aqueles que o quiserem”, acrescentou a líder do governo alemão, como sejam “acordos bilaterais ou trilaterais para benefício mútuo.”
A ideia foi secundada por Macron: a solução será europeia “através da cooperação entre os 28 ou entre alguns países que decidam avançar juntos”.