Macedónia de nomes até encontrar o norte


Desde o fim da Jugoslávia que se negoceia um nome de batismo para a Macedónia que possa ser aceite por Skopje e Atenas


A secessão da Jugoslávia e a proclamação da independência da Macedónia suscitaram manifestações multitudinárias na Grécia, com os nacionalistas locais a protestarem contra a apropriação da história grega pelos vizinhos eslavos, o opróbrio ao império de Alexandre (da Macedónia et pour cause), e a temerem uma improvável conquista do território grego a partir do vizinho do norte. De caminho, Atenas bloqueou a adesão da Macedónia à NATO, tendo entretanto aderido a esta organização os não menos balcânicos Bulgária, Eslovénia, Croácia e Montenegro. Também as negociações para a adesão de Skopje à União Europeia foram atrasadas, e muito, pela menor boa vontade grega. A adesão à ONU seria mais difícil de bloquear por Atenas na medida em que depende da decisão da maioria dos membros do Conselho de Segurança (e da ausência de veto por parte dos membros permanentes), seguida de um voto por maioria simples na Assembleia-Geral. Mas, mesmo na ONU, o talento da diplomacia grega obrigou a uma interpretação sinuosa do nome provisório e referencial encontrado para a Macedónia: Former Yugoslav Republic of Macedonia (FYROM). Seguindo a ordem alfabética, a FYROM corria o risco de se sentar a contragosto na vizinhança da Grécia. E a Grécia nunca aceitaria que na ONU a FYROM se sentasse, alfabeticamente, no lugar que caberia à Macedónia. Passou-se à objectificação da Macedónia como “the FYROM”, que foi sentada entre a Tailândia e Timor-Leste.

A arte da negociação tem como temas obrigados a compreensão da posição do oponente, a descoberta da palavra certa no momento adequado e a capacidade de atrair as partes desavindas para uma solução de compromisso. Psicologia, poesia, sedução e ousadia. E tudo com muito, mas muito trabalho. Não se julgue que não foram tentadas inúmeras fórmulas. Das que vieram a público vale a pena recordar a Nova República da Macedónia, a República da Nova Macedónia e, claro, a República Nova da Macedónia, a República da Macedónia Setentrional, a República da Macedónia do Norte, a Eslavo-Macedónia e a República da Macedónia-Skopje. Um negociador defende interesses e tenta ter amigos. Mas tem sempre um melhor amigo: o dicionário. Há que tentar todos os sinónimos, todos os qualificativos e advérbios que possam adornar uma palavra e torná–la aceitável à volta da mesa. A ambiguidade construtiva e o menor conhecimento pelas partes desavindas da língua em que decorrem as negociações ou em que é formalizado o acordo permitiram, ao longo dos séculos, encontrar acordos, por vezes duradouros, para soluções complicadas. 

Esta semana parece ter sido encontrada, entre Atenas e Skopje, a boa solução para um litígio que remonta a Setembro de 1991, aquando da independência da Macedónia. O nome da coisa passará a ser República da Macedónia do Norte.
Antes que o leitor amigo considere que teria chegado a um resultado parecido em muito menos tempo (sempre foram 27 anos de ásperas negociações com uma passagem pelo Tribunal Internacional de Justiça) e com muito menor dispêndio de recursos e de talentos diplomáticos, deixe-me dar nota da condicionalidade da solução. O acordo sobre a denominação foi obtido entre os primeiros-ministros dos dois países. Nem Alexis Tsipras nem o seu homólogo Zoran Zaev são praticantes do nacionalismo bafiento. Por eles, o acordo está feito. Mas o presidente da Macedónia já ameaçou vetar o acordo e o ministro dos Negócios Estrangeiros grego, líder do junior partner da coligação, já ameaçou demitir-se.

Escreve à sexta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990


Macedónia de nomes até encontrar o norte


Desde o fim da Jugoslávia que se negoceia um nome de batismo para a Macedónia que possa ser aceite por Skopje e Atenas


A secessão da Jugoslávia e a proclamação da independência da Macedónia suscitaram manifestações multitudinárias na Grécia, com os nacionalistas locais a protestarem contra a apropriação da história grega pelos vizinhos eslavos, o opróbrio ao império de Alexandre (da Macedónia et pour cause), e a temerem uma improvável conquista do território grego a partir do vizinho do norte. De caminho, Atenas bloqueou a adesão da Macedónia à NATO, tendo entretanto aderido a esta organização os não menos balcânicos Bulgária, Eslovénia, Croácia e Montenegro. Também as negociações para a adesão de Skopje à União Europeia foram atrasadas, e muito, pela menor boa vontade grega. A adesão à ONU seria mais difícil de bloquear por Atenas na medida em que depende da decisão da maioria dos membros do Conselho de Segurança (e da ausência de veto por parte dos membros permanentes), seguida de um voto por maioria simples na Assembleia-Geral. Mas, mesmo na ONU, o talento da diplomacia grega obrigou a uma interpretação sinuosa do nome provisório e referencial encontrado para a Macedónia: Former Yugoslav Republic of Macedonia (FYROM). Seguindo a ordem alfabética, a FYROM corria o risco de se sentar a contragosto na vizinhança da Grécia. E a Grécia nunca aceitaria que na ONU a FYROM se sentasse, alfabeticamente, no lugar que caberia à Macedónia. Passou-se à objectificação da Macedónia como “the FYROM”, que foi sentada entre a Tailândia e Timor-Leste.

A arte da negociação tem como temas obrigados a compreensão da posição do oponente, a descoberta da palavra certa no momento adequado e a capacidade de atrair as partes desavindas para uma solução de compromisso. Psicologia, poesia, sedução e ousadia. E tudo com muito, mas muito trabalho. Não se julgue que não foram tentadas inúmeras fórmulas. Das que vieram a público vale a pena recordar a Nova República da Macedónia, a República da Nova Macedónia e, claro, a República Nova da Macedónia, a República da Macedónia Setentrional, a República da Macedónia do Norte, a Eslavo-Macedónia e a República da Macedónia-Skopje. Um negociador defende interesses e tenta ter amigos. Mas tem sempre um melhor amigo: o dicionário. Há que tentar todos os sinónimos, todos os qualificativos e advérbios que possam adornar uma palavra e torná–la aceitável à volta da mesa. A ambiguidade construtiva e o menor conhecimento pelas partes desavindas da língua em que decorrem as negociações ou em que é formalizado o acordo permitiram, ao longo dos séculos, encontrar acordos, por vezes duradouros, para soluções complicadas. 

Esta semana parece ter sido encontrada, entre Atenas e Skopje, a boa solução para um litígio que remonta a Setembro de 1991, aquando da independência da Macedónia. O nome da coisa passará a ser República da Macedónia do Norte.
Antes que o leitor amigo considere que teria chegado a um resultado parecido em muito menos tempo (sempre foram 27 anos de ásperas negociações com uma passagem pelo Tribunal Internacional de Justiça) e com muito menor dispêndio de recursos e de talentos diplomáticos, deixe-me dar nota da condicionalidade da solução. O acordo sobre a denominação foi obtido entre os primeiros-ministros dos dois países. Nem Alexis Tsipras nem o seu homólogo Zoran Zaev são praticantes do nacionalismo bafiento. Por eles, o acordo está feito. Mas o presidente da Macedónia já ameaçou vetar o acordo e o ministro dos Negócios Estrangeiros grego, líder do junior partner da coligação, já ameaçou demitir-se.

Escreve à sexta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990