A quatro dias de terminar o prazo para as rescisões por justa causa, com limite até quinta-feira, data em que se cumprem 30 dias após as agressões ocorridas na Academia de Alcochete, mais quatro jogadores do Sporting decidiram avançar com a rescisão dos respetivos contratos com o clube leonino.
Esta segunda-feira foi a vez de Bruno Fernandes, William Carvalho, Gelson Martins e Bas Dost fazerem chegar este desejo comum, embora apresentado de forma individual, à Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Liga de Clubes e Sindicato. De resto, a decisão tomada agora pelo trio português que se encontra ao serviço da Seleção nacional na Rússia [ver coluna ao lado] e pelo holandês acontece num momento em que se contam precisamente 10 dias desde que o guarda-redes Rui Patrício e o extremo Daniel Podence optaram pela mesma via.
Fernando Correia, porta-voz do presidente Bruno de Carvalho, confirmou durante a tarde que o clube verde-e-branco recebeu ontem, por volta das 17 horas, as cartas que visam a rescisão contratual dos três internacionais portugueses.
Entretanto, a SAD do Sporting já comunicou a receção das três rescisões dos atletas portugueses à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), dando conta que foram recebidas “por e-mail” e que os jogadores invocaram “justa causa”.
Já ao início da noite, foi pelo próprio Bruno de Carvalho, que se apresentou em conferência de imprensa para reagir ao cenário de debandada, que ficou confirmada a rescisão do ponta de lança holandês.
No seu discurso, o líder máximo dos leões apresentou ainda o único caminho que o pode levar à demissão imediata. Num ultimato aos jogadores, BdC fez saber que o Conselho Diretivo que lidera deixa as suas funções: 1) se os seis jogadores (até ao momento) que apresentaram as rescisões voltarem atrás nessa decisão, sendo que isso implica representar o Sporting Clube de Portugal na próxima época e 2) continuar a jogar no Sporting Clube de Portugal caso BdC se recandidate e for de novo eleito.
O presidente desmentiu ainda a comunicação social nas notícias que dão conta de que os jogadores admitiam voltar atrás caso o Conselho Diretivo deixasse as suas funções e prometeu que se os atletas seguirem os dois passos acima referidos abandona “de imediato” a direção. O discurso de BdC levanta desde logo algumas dúvidas tendo em conta a situação do guarda-redes Rui Patrício e do extremo Daniel Podence, já que em ambos os casos o prazo legal de sete dias para voltar atrás já expirou, uma vez que as duas cartas com os respetivos pedidos de rescisão deram entrada no primeiro dia do mês de junho.
Saída de quatro dos principais ativos Depois da desvinculação de Rui Patrício e de Daniel Podence, o Sporting está muito perto de perder quatro dos seus principais ativos.
Ora, vejamos: William Carvalho, a par de Patrício um dos capitães do clube, tinha uma cláusula de rescisão de 45 milhões de euros. Além disso, o médio, que está no clube desde 2007 e tinha contrato válido com os leões até junho de 2020 depois de ter renovado no ano de 2016, tinha um valor de mercado de cerca de 25 milhões de euros. Por sua vez, Bruno Fernandes, médio por quem o clube verde-e-branco pagou 8,5 milhões de euros aos italianos do Sampdoria, aterrou no emblema de Alvalade há um ano (julho de 2017) e estava blindado com uma cláusula de rescisão de 100 milhões de euros. O portuense de 23 anos tinha assinado um contrato válido por três épocas, até 2020, e um valor de mercado atual de 20 milhões de euros. Já o extremo Gelson Martins, que fez parte da sua formação no Sporting, tinha uma cláusula de rescisão de 60 milhões de euros e contrato com os leões até 2021, sendo que o seu valor de mercado andaria nos 30 milhões de euros.
Na origem da decisão do extremo deverão estar, à semelhança do que aconteceu com Rui Patrício, as dificuldades criadas pelo clube à sua saída. De acordo com a imprensa nacional desportiva, o Sporting voltou a recusar uma proposta do Arsenal pelo passe do jogador. Ao que tudo indica, os 30 milhões de euros oferecidos pelos ingleses não foram suficientes para o clube lisboeta libertar o jovem jogador. Recorde-se que também o guardião apresentou a sua carta com o pedido de rescisão momentos depois de ver a sua transferência para os ingleses do Wolverhampton cair por terra, com os leões a recusarem os 18 milhões de euros oferecidos pelos ‘wolves’, clube que esta época subiu à Premier League e que é orientado pelo português Nuno Espiríto Santo.
Por último, Bas Dost. O holandês chegou aos leões em 2016 e rapidamente se tornou numa peça-chave da equipa sendo o principal goleador do conjunto verde-e-branco (na última época responsável por 40% dos golos dos leões), mas a decisão do ponta de lança é facilmente compreendida tendo em conta que Dost foi dos mais visados no ataque à Academia, tendo sido atingido na cabeça.
Bruno ajudou à festa Na origem da decisão levada a cabo esta segunda-feira pelos três jogadores está também a mensagem deixada pelo líder leonino nas redes sociais.
Num post publicado no sábado, no Facebook, BdC disse que as rescisões apresentadas representam um “crime gravíssimo de difamação e calúnia que não vai ser deixado em claro” e garantiu que os jogadores, que seguiram ou os que pensam seguir por esta via, podem enfrentar “processo crime pelas acusações inacreditáveis que fizeram”.
“Farto de chantagens de alguns advogados e agentes. O Sporting CP, enquanto eu for Presidente, não vai negociar nenhuma renovação ou vendas – a não ser as já previstas – até 15 de Junho, por isso se querem chantagear com rescisões, rescindam já, pois nunca vos será dada razão e eu não cederei a chantagens. Se é para fazer, façam já, e em termos legais cá estaremos para defender a verdade e o Sporting Clube de Portugal. Se não é isso que querem mandem parar os vossos advogados e agentes”, pode ler-se na mesma publicação, uma mensagem que não foi, de resto, bem recebida entre o plantel, grupo que continua, aliás, a mostrar a sua indignação perante a maneira de agir do presidente.
Depois da decisão formalizada por Bruno Fernandes, William Carvalho, Gelson Martins e Bas Dost, os principais ativos agora em risco são o francês Jérémy Mathieu, os argentinos Battaglia e Acuña e o italiano Piccini, que viu muito recentemente o Sporting rejeitar uma proposta do Inter pelo seu passe. A chuva de rescisões promete continuar, como adiantou o próprio Bruno de Carvalho, até quinta-feira.