Há temas na nossa sociedade que são fraturantes, precisamente pelo facto de partirem a sociedade em dois grandes blocos: aqueles que defendem determinada causa e aqueles que são absolutamente contra essa causa. Durante muitos anos, a esquerda e, principalmente, a extrema-esquerda fizeram-se valer desses temas para os colocar na agenda política e mediática e, dessa forma, crescer eleitoralmente junto de um eleitorado mais progressista.
Embora seja um eleitor de direita, existem vários temas ditos fraturantes com os quais tendo a concordar: a liberalização das drogas leves, a regulamentação da prostituição e a eutanásia são alguns deles. Infelizmente, sei que estou um pouco afastado dos políticos em que regularmente voto, mas, felizmente, sei também que há cada vez mais políticos de direita a concordar comigo.
A minha opinião sobre estes temas parte de uma visão puramente liberal que tenho da política, em que entendo que o Estado não tem o direito de decidir por nós em questões que dizem respeito pura e simplesmente à nossa vontade individual. Por outras palavras, tendo a não acreditar que um Estado castrador e que se acha nosso paizinho tem alguma legitimidade moral para penalizar escolhas que apenas dizem respeito à consciência individual de cada um.
Um dos únicos temas fraturantes em que adoto uma postura mais conservadora é a questão da interrupção voluntária da gravidez. Mas, aqui, a minha posição também é bastante fácil de explicar: acredito que, neste caso, deve ser defendido o direito da criança que está na barriga da mãe e que nunca foi chamada a opinar sobre o facto de querer ou não nascer. Por outras palavras, os direitos do bebé devem prevalecer sobre os direitos da própria mãe que voluntariamente engravidou.
A questão da eutanásia, como é fácil de perceber, é radicalmente diferente do tema da IVG, visto existir uma vontade expressa de alguém de pôr cobro à sua própria vida de forma a evitar um sofrimento que o próprio interpreta como desnecessário. É algo simples de perceber: se existe uma vontade expressa do doente, qual é a legitimidade do Estado para o proibir de decidir sobre o futuro da sua própria vida?
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