Construção e reparação naval, uma arte também portuguesa


Portugal, para o seu desenvolvimento industrial e tecnológico, precisa de uma atividade económica de reparação e construção naval forte, dinâmica e apoiada, consistente com as responsabilidades territoriais do mar português


Portugal é um dos países marítimos com longa tradição na construção e reparação de navios. A nossa história encontra-se pejada de elementos que nos identificam como um dos países que mais têm contribuído para a concepção dos equipamentos necessários à navegação marítima (barcos, navios, etc.), seja ela destinada ao comércio, à segurança ou ao lazer.

Conhecido que é o nosso saber na reparação e construção naval, a pergunta que se coloca a todos nós é como é que deixámos e continuamos a deixar degradar e quase destruir um setor gerador de emprego e de mais-valias económicas essenciais para o desenvolvimento presente e futuro do país?

As ações de política pública para a proteção e desenvolvimento desta atividade económica foram, ao longo das últimas décadas, desastrosas e ou inexistentes. Abandonou-se praticamente um setor económico prioritário para o desenvolvimento e afirmação de uma qualquer estratégia nacional para o mar.

E seria expetável e desejável, com o surgimento da estratégia nacional para o mar, verificar um conjunto de ações de política pública que fossem um sinal de manifesto vislumbre positivo para o reanimar e potenciar esta atividade económica, tradicional e com um saber nacional acumulado e de grandes capacidades em inovar e criar novos produtos para a navegação marítima.

No entanto, e apesar do envelhecimento da nossa frota marítima (comercial, pescas, defesa e segurança e até recreio), o que fizemos foi votar à sorte dos mercados e ou acompanhar de ânimo leve a destruição dos nossos estaleiros navais e, em muitos casos, inclusive ostracizando-os.

É sabido que os nossos estaleiros, os que ainda perduram, podem contribuir significativamente para o de-senvolvimento da economia portuguesa e do mar em particular. Para tal, basta apoiá-los de forma determinante e com substância, através de encomendas de trabalho públicas e ou privadas, na diversificação da sua atividade, na renovação do licenciamento dos espaços onde se encontram sediados, na renovação e alteração de equipamentos a fim de responderem a novos desafios, sejam eles para construção de novos equipamentos associados ao mar (ex.: robôs marítimos, torres eólicas, etc.), para manutenção ou na participação em projetos articulados com outras atividades de mar.

Portugal precisa, para o seu desenvolvimento industrial e tecnológico, de uma atividade económica de reparação e construção naval forte, dinâmica e apoiada, pois a montante ela é indutora de crescimento da indústria metalomecânica e de siderurgia, e, a jusante, o suporte necessário para assegurar uma frota de marinha mercante, de passageiros, de segurança e vigilância e de investigação oceanográfica consistente com as responsabilidades territoriais do mar português.

É por tudo isto importante revitalizar os nossos estaleiros navais.

 

Gestor e analista de políticas públicas

Escreve quinzenalmente à sexta-feira