Manuel Pinho é, por estes dias, o nome mais destacado do nosso país, adensando o mau cheiro que ainda hoje paira no ar proveniente do período de governação socrática. Tenho pena. É que, em nome da verdade, devo dizer que, pessoalmente, nutria uma certa simpatia pela sua figura. Afinal, num país em que os políticos são pouco genuínos, este foi o único que, na real tourada que por vezes é o nosso parlamento, teve a coragem de em direto interpretar um par de cornos. Que ninguém seja hipócrita. Foi daqueles momentos que, passe lá o tempo que passar, e pondo de parte a deselegância do sucedido, será sempre relembrado com particular divertimento.
Porém, alegadamente, além desta sua facilidade na arte da representação terrena, parece poder-se considerar que Pinho terá tido até uma relação estreita com o divino Espírito Santo. Há homens de sorte. Uns dizem ter amigos que a troco de nada lhes emprestam milhões. Já Pinho, sem se saber se é homem de fé, parece ainda assim ter tido a vida patrocinada pela divina providência. Talvez o defeito não seja dos mencionados, e, sim, meu. Amigos que me dessem dinheiro nunca os tive e rezas para ganhar dinheiro sem trabalhar nunca me surtiram efeito. Nem 15 cêntimos, quanto mais 15 mil euros. Bom, mas trocadilhos à parte, quando parecem ser impossíveis novos e caricatos desenvolvimentos nos processos que envolvem nomes como Sócrates ou o BES, a realidade acaba sempre por demonstrar-se maior que qualquer hipotética ficção. É que a confirmarem-se as suspeitas existentes, como é possível que um ministro tenha sido avençado por um banco? É realmente assustadora a negra e promíscua conduta dos “tempos Sócrates”. Sim, já sei que alguns vão dizer: “Então e nos outros governos não houve a mesma bandalheira, queres ver?” Não sei se houve se não houve. Até pode ter havido.
gora que, tanto quanto cada dia parece demonstrar, este período foi um verdadeiro deboche, lá isso não restam dúvidas de que foi. É por isso que são de lamentar declarações como as que proferiram altas individualidades socialistas como Carlos César e Arons de Carvalho, considerando que seria um erro o congresso do PS discutir estes acontecimentos. Os partidos não podem garantir que qualquer pessoa não os possa arrastar para o descrédito, mas já têm culpa de nele se quererem manter. Claro que aqui entra em cena o “pai” António Costa. É capaz de não ser boa ideia o seu PS discutir condutas dúbias de governos onde o próprio também foi figura destacada. É compreensível. Triste, mas compreensível. Mas para que não se diga que isto é um verdadeiro exercício de “malhar no PS”, resta endereçar uma palavra de genuíno apreço por Ana Gomes. Num partido em que tudo parece valer para governar, incluindo esse tudo alguns fazerem dos outros e de si próprios parvos, Ana Gomes foi a única pessoa capaz de colocar o dedo na ferida e dizer umas verdades. Talvez seja por estar lá fora mas, ainda assim, é caso para dizer “volta, Ana, estás perdoada”!
Escreve à sexta-feira