Nisto de ganhar dinheiro, os ex-presidentes Democratas parecem ser aqueles com mais mercado no circuito das conferências. Se Barack Obama cobrou 400 mil dólares por cada uma das duas grandes conferências que deu desde que deixou a presidência dos Estados Unidos em 2017, Bill Clinton, o anterior presidente do Partido Democrata, cobrava 500 mil dólares em 2001, logo a seguir a deixar a Casa Branca, um valor astronómico que atualizado com a inflação daria hoje qualquer coisa como 700 mil dólares, segundo o “Los Angeles Times”. E com sucesso, porque apesar do preço, Clinton conseguiu amealhar 65 milhões de dólares só em conferências depois da presidência. Se lhe juntarmos mais 15 milhões de dólares das suas memórias, percebemos que havia muita gente disposta a abrir os cordões à bolsa para o ouvir o que tinha a dizer.
Obama está ainda a dar os primeiros passos pós-presidenciais neste circuito milionário das conferências pelo mundo. Para falar de alterações climáticas na Climate Change Leadership Porto 2018, que se realiza no dia 6 de julho, o ex-presidente dos EUA deverá receber cerca de 500 mil euros, de acordo com a notícia avançada pelo semanário “Expresso” no sábado. A sua participação equivale a 50% dos custos orçamentados da conferência: 1 milhão de euros para levar ao Porto oradores como Irina Bokova – antiga diretora-geral da UNESCO que chegou a disputar o cargo de secretário-geral da ONU com António Guterres – e o Nobel da Paz Mohan Munasinghe, físico e economista do Sri Lanka especialista em desenvolvimento sustentável.
A organização da conferência é da Advanced Leadership Foundation, uma fundação norte-americana que pretende criar uma rede global de futuros líderes, atraindo mentes brilhantes em todo o mundo e colocando-os a estudar com bolsas nos EUA em contacto com empresas norte-americanas.
O ano passado, organizou a Cimeira Verde na Argentina, em colaboração com o governo provincial de Córdoba que contou, também, com a participação de Obama, também num 6 de julho. Nessa altura, o ex-presidente norte-americano fez um discurso que não deve andar longe da intervenção que fará este verão no Porto: “Não há contradição entre um bom meio ambiente e um bom crescimento económico. Nos EUA criamos três milhões de empregos ligados ao setor da energia limpa, há mais trabalho no setor da energia solar que na produção de carvão”, um discurso que contrasta com o do seu sucessor na Casa Branca, que chegou ao poder a defender o regresso ao carvão.
“Neste momento temos um governo com uma visão distinta da nossa, mas os EUA vão alcançar os objetivos propostos, porque muito do que fizemos está embebido na nossa economia, na nossa cultura e os nossos Estados, universidades e maiores empresas mostraram claramente que vão continuar a avançar” neste domínio, disse então Obama.
Tal como aconteceu na cidade argentina de Córdoba há um ano, também no Porto Obama permanecerá apenas algumas horas, não dará entrevistas e deverá ser um transtorno para o trânsito na cidade nessa sexta-feira de julho. O ex-presidente mantém um dispositivo de segurança apertado, como todos os ex-líderes da Casa Branca, garantido pelos serviços secretos dos EUA (ver texto ao lado).
Além da segurança própria, em 2017, a presença de Obama na Argentina obrigou ao acionar de um dispositivo de segurança próprio por parte das autoridades nacionais argentinas e provinciais de Córdoba que envolveu duas centenas de efetivos.
Há dez anos, Bill Clinton passou por Portugal para dar uma conferência. Nessa altura, se calhar porque a sua presidência tinha terminado há sete anos, a segurança foi discreta e como o ex-presidente proibiu registos de som e de imagem, mais facilitada. O acesso a esta conferência de Obama no Porto só será permitida por convite, o que poderá diminuir o seu impacto, mas apenas um ano depois de deixar a Casa Branca e ainda fresco no circuito de conferências, haverá muita gente com vontade de ouvir de perto o que tem a dizer. Em 2008, Clinton veio a convite da EDP e da Cunha Vaz e Associados e, dizia o “DN” na altura, a troco de 300 mil dólares, valor de que o próprio jornalista duvidava tendo em conta os preços praticados então.