O forte de Santo António do Estoril, onde em 1968 António de Oliveira Salazar caiu de uma cadeira que o impossibilitaria de continuar a ser presidente do Conselho, vai voltar a abrir ao público no dia 25 de abril, depois das obras levadas a cabo pela Câmara Municipal de Cascais.
Em março, o município assinou um acordo com o Ministério da Defesa, que visa a cedência por um ano do monumento de modo a travar o processo de degradação do forte. As obras urgentes realizadas custaram à Câmara cerca de 600 mil euros já contabilizados e mais uns 200 mil euros que ainda devem entrar nas contas, como diz ao SOL o presidente do município, Carlos Carreiras.
Afirma o autarca que o primeiro-ministro, na altura da reunião com as áreas metropolitanas chegou a manifestar desejo de estar presente na cerimónia de quarta-feira, caso lhe permitisse a agenda. Carreiras ainda enviou o convite, mas António Costa, afinal, não irá comparecer por falta de tempo, num dia de aniversário da Revolução dos Cravos que é de calendário apertado.
Na lógica de abrir o forte ao público o mais depressa possível, Carlos Carreiras assumiu a escolha da data por uma questão de fazer «com que as coisas acontecessem» com uma data definida a priori, e a data «tinha a sua piada, porque o 25 de Abril, a queda do regime, começou ali».
Sobre a possibilidade de escolha da data simbólica da revolução levantar polémica, por ser o forte onde Salazar passava habitualmente férias e que muitos ainda conhecem pelo seu nome, o presidente da Câmara mostra-se «indiferente» ao que a esquerda possa pensar em relação ao tema.
«Quer o 25 de Abril, quer os valores que se celebram no 25 de Abril, a democracia e a liberdade, não têm donos, porque se tivessem donos não eram nem democracia, nem liberdade», referiu Carlos Carreiras, para quem «a história do forte é muito mais forte e muito mais interessante».
O autarca do PSD refere que as equipas que laboraram na recuperação do forte e dos terrenos à volta trabalharam tão bem que até partes dos painéis de azulejos, que foram vandalizados durante o desleixo a que o forte foi deixado durante os dois anos, poderão ser recuperados a tempo desta reabertura. A fábrica de cerâmica Viúva Lamego ainda tinha os moldes dos azulejos originais e conseguiu produzi-los.
«Ainda não é a intervenção que o forte terá de ter no futuro», refere Carreiras, esta foi «para travar a degradação e para colocar o forte com o mínimo de dignidade». Até porque a edilidade pretende que a gestão do monumento lhe seja transferida por muito mais tempo que o ano deste acordo temporário. Só assim a autarquia poderá rentabilizar os seis milhões de euros que tem previstos para gastar.
«Estamos a fazer o levantamento do forte, vamos lançar um concurso para a sua recuperação, estabilizando quais são as funções que terá no futuro, para podermos chegar ao Governo e negociar a transferência por um período mais alargado», refere.
A Câmara de Cascais tem um ano para fazer isto, mas Carreira espera não gastar todo esse tempo para ter o dossier pronto para o apresentar ao Executivo.
«Já foram abertas conversas com o Governo central, nomeadamente com a Direção-Geral do Património do Estado, em que estão em cima da mesa todos os assuntos de património entre a Câmara de Cascais e o Governo central e tudo isso está ser equacionado para fecharmos o processo global», acrescenta.
No pacote, há outros fortes, que a Câmara de Cascais também quer negociar com o Governo, para que lhe seja cedida a gestão, como o da Cadaveira, o forte Velho e o do Guincho, também chamado de forte das Velas, na praia do Abano.