Sim ao exército europeu


Se olharmos para o mundo que nos rodeia, o perigo real espreita de todos os lados


Já dizia Napoleão Bonaparte que “o tempo é o único bem totalmente irrecuperável. Recupera-se uma posição, um exército e até um país, mas o tempo perdido, jamais”. Pois bem, atualmente, em matéria militar, e pela chegada de uma nova era em que a escalada dos conflitos internacionais parece agudizar-se em várias frentes, a Europa, não querendo acordar para o “novo mundo”, está também ela, irreparavelmente, a perder tempo. O tempo necessário para modernizar e garantir a sua própria defesa, avançando para a criação de um exército comum capaz de a sustentar. É certo que falar de rearmamento, ainda para mais nesta dimensão, é, nalguns círculos, pouco cómodo.

É compreensível até que os cidadãos, que não são insensíveis às guerras já vividas no território, bem como às recordações de destruição que ainda perduram, só de imaginar tal possibilidade têm medo, resultando desse mesmo medo a não aceitação desta possibilidade. Mas é hora de os governantes, pela fragilidade dos tempos que vivemos, explicarem às pessoas que este passo tem de ser dado. Não para atacar ninguém. Não para qualquer objetivo capaz de violar o direito internacional, prejudicando os cidadãos de um qualquer país. Mas sim para a defesa de todos nós. Sobretudo quando, a somar à volatilidade dos tempos, já se sabe de antemão que os EUA renunciaram à sua missão de defensores do Velho Continente.

Eventualmente, até bem e legitimamente. Se olharmos para o mundo que nos rodeia, o perigo real espreita de todos os lados. É a insegurança na península da Coreia; a indefinição da China numa posição concreta face ao problema; é a Rússia, cujos reais objetivos ninguém sabe quais são; a Síria, cada vez mais a ferro e fogo; no conflito israelo- -palestiniano não se estimam melhoras; a questão curda na Turquia e o próprio Iraque continuam que nem barris de pólvora; em África persistem vários problemas sem aparente solução e, claro, até mesmo os episódios de terrorismo interno, que ultimamente, por terem acontecido menos, parece terem caído no esquecimento. Até que alguém volte a morrer.

Começam a ser demasiadas as incertezas políticas e militares do mundo atual. Começa a sentir-se hoje, tal como, segundo a História, se sentiu um pouco antes da Guerra Fria, que a paz pode, numa ou duas décadas, ser mesmo posta à prova. Ora, há que prevenir. Deve ser criado um exército europeu. Um exército devidamente preparado, formado e a qualquer momento acionável quer humana quer materialmente, contribuindo para ele cada país com uma percentagem financeira devidamente estipulada para a sua manutenção. Até porque, não sendo o objetivo deste artigo contribuir para alarmismos ou cenários apocalípticos, em consciência, se qualquer pessoa observar o que hoje se vive no globo, dificilmente acredita que teremos nos próximos 50 anos a paz dos 50 que passaram.

O uso da força é sempre a medida de ultima ratio para resolver qualquer problema. Mas ainda assim, nem que seja por desconfiança ou prevenção, há que tê-la e dela, se necessário, poder dispor.

 

Escreve à sexta-feira