Alguém sabe dizer-me se Catarina Martins é juíza? E o próprio José Sócrates, alguém me informa se é jurista? Bom, no decorrer da passada e da corrente semana têm sido legítimas estas questões. Mas vamos primeiro por partes para que este artigo não acabe como as intervenções dos mencionados – entenda-se, uma salganhada. No abstrato, a possibilidade de qualquer pessoa poder manifestar-se sobre qualquer assunto é juridicamente, e bem, exigível. Talvez seja este o maior reflexo da liberdade democrática, ainda que muitas vezes a liberdade de expressão e de opinião vire rapidamente libertinagem.
Porém, há circunstâncias e pessoas que, pelos cargos que desempenham, pela preponderância social que têm ou pelas instituições que representam, devem ainda assim compreender que, para dizerem disparates, talvez o melhor seja fecharem a matraca. Até porque os disparates muitas vezes ditos, mais que lesarem-nos a eles, lesam o país. Mas vamos então aos acima mencionados. Catarina Martins vive o seu momento de glória política. Afinal, não é todos os dias que alguém que manifestamente nada percebe de política, nem demonstra saber sequer o que é uma ideologia política, chega onde esta chegou – entenda-se, a garante do governo agora em funções.
Porém, aquilo de que Catarina Martins não se pode esquecer é que uma coisa é pensar que tem uma dimensão política que já lhe permite nadar para fora de pé, e outra bem diferente é ser politicamente insolente. Foi o que esta semana aconteceu, a propósito do processo de Lula da Silva, tendo dito a própria que, e cita-se, “A prisão de Lula não tem nada a ver com luta contra a corrupção”, “Sabemos, por isso, que o que se está a passar no PT é um golpe contra a democracia, sabemos que é um golpe da direita reacionária, racista, fascista, a mesma que destituiu Dilma” e “E aqui sabemos de que lado estamos, com todos aqueles que não desistem da democracia, a solidariedade à esquerda tem de ser sempre solidária”.
Talvez tenhamos todos de agradecer a Deus existir Catarina Martins. É que perante um processo tão megalómano como o que envolve Lula da Silva, e onde a justiça se vê a braços com as mais manifestas condutas passíveis de preencherem ilicitudes dos mais distintos tipos, cá no burgo, alguém profere alarvidades destas.
Poderá um político português pôr em causa um sistema jurídico alheio desta forma? Crê-se que não! Por fim, mais uma palavra a José Sócrates. Mas então um telejornal nacional faz uma rubrica de apreciação ao que se está a passar no Brasil e o orador convidado é José Sócrates? Mas então um homem que está a ser investigado pelo que este está a ser é convidado a comentar processos jurídicos cuja natureza e matéria são similares? Quem é José Sócrates para vir tecer esclarecimentos jurídicos sobre o que quer que seja? É que, de facto, o grande público não se apercebeu, mas tudo quanto este disse no campo jurídico foi apenas e só errado! Não disse uma certa, como seria de esperar! Será que Catarina Martins e Sócrates sabem sambar? É que se sambam ao ritmo com que proferem blasfémias, ainda partem uma perna.
Escreve à sexta-feira