Por favor, não estupidifiquem a sociedade!


Não é novidade que 2017 trouxe consigo um exponencial aumento de impostos, sobretudo os que incidem sobre os produtos


Falhar ou errar nunca é agradável. Admitir os erros ou essas mesmas falhas é, atualmente, paradigma quase extinto. Porém, uma coisa é um cidadão particular errar e não admitir o erro ou simplesmente desculpá-lo. Já outra, bem diferente, são os governantes, entidades ou pessoas gestoras da “coisa pública” ou consumistas do dinheiro do erário também público, perante erros, falhas ou imprecisões, dizerem à sociedade que tudo é normal e que bate tudo certo. É a este fenómeno que hoje me dirijo e é um tema que não é novo, nem sequer específico. Mas, quer dizer, chega de fazerem os portugueses parvos. É indecente.

Vejamos três exemplos claros desta triste realidade. Primeiro, o que sucede no nosso país com a carga fiscal. Não é novidade que 2017 trouxe consigo um exponencial aumento de impostos, sobretudo os que incidem sobre os produtos. Alguns deles, puras invenções artísticas. Ora esta semana, perante o incontrariável, porque todos o sentimos, o ministro das Finanças veio dizer que não havia acontecido qualquer aumento do esforço fiscal dos cidadãos. Curiosamente disse, contudo, depois em “economês” que, e cita-se: “Num quociente, quando o numerador cresce a um ritmo superior ao do denominador, o valor da fração aumenta” e que “isso explica que as receitas fiscais e contributivas possam ter contribuído para a subida do indicador carga fiscal.” Se isto não é fazer dos portugueses parvos, então não sei o que será! Em segundo lugar, o défice. Obter 0,9 de défice público seria histórico – um historicismo assente em cativações e outras martingalas de retenção de pagamentos prementes mas, ainda assim, um historicismo que para Bruxelas serviria. Porém, com a recapitalização da CGD, o valor disparou para os 3%, ficando na fronteira do permitido pelas instâncias europeias. Perante isto, qual foi uma vez mais a estratégia do executivo? Dizer que a Europa não percebe nada disto, que estas operações não podem ser indexadas à contabilização do défice e, como tal, tudo continua maravilhoso e a estratégia seguida é o messias da economia e fiscalidade.

Desculpe o caro leitor a expressão quase brejeira, mas que raio! Não há ninguém no executivo com a integridade necessária para se dirigir ao país e dizer: “Baixámos o défice, mas ainda assim não correu tão bem como andámos a apregoar.” Ou: “Portugueses, tenhamos os pés no chão e chega de hipocrisias porque, no essencial, o país continua hoje, estruturalmente, pouco melhor face a alguns anos atrás.” Basta! Excessivo voluntarismo sem consistência enjoa. Por último, o hoje e sempre malfadado Novo Banco.

Muito se tem escrito sobre o tema e, nesse sentido, não vale a pena repisar demasiado o assunto, até pela falta de originalidade que tal seria. Mas, uma vez mais, chega. Todos nós temos o direito de saber para onde está a ir realmente o nosso dinheiro. É que o dinheiro usado para salvar bancos podia ser usado para salvar vidas, com novos hospitais, ou na educação, com melhores universidades. Não façam as pessoas de estúpidas e, com verdade, expliquem o que há a explicar.

 

Escreve à sexta-feira