Coimbra, Sócrates e a pouca-vergonha em que se tornou Portugal


Tecnicamente, José Sócrates, a partir do segundo ano do seu primeiro governo, transformou-se no pior primeiro-ministro que Portugal já viu


Antes de mais, caro leitor, permita-me uma declaração de intenções inicial para dizer que farei este artigo na primeira pessoa, pois foi nela que, como português, me senti verdadeiramente ultrajado pela presença de Sócrates, esta semana, na Universidade de Coimbra. Se é uma verdade indiscutível que falar deste individuo é, já por si, dar-lhe uma importância e atenção que não merece, há, no entanto, circunstâncias e momentos em que alguém tem de colocar o dedo na ferida. Como cidadão e para todos os efeitos, ainda como jovem que recorda bem o que é o ensino universitário, as universidades têm de ser um pilar fundamental dos valores de um povo, do ensino e, por conseguinte, da própria cidadania. Ora, mesmo com todo o respeito e sincera admiração que tenho pela Universidade de Coimbra, instituição secular a que Portugal deve alguns dos seus melhores quadros, foi doloroso, incompreensível e inaceitável até ver José Sócrates como orador nesta conferência. Primeiro porque, tecnicamente, José Sócrates, a partir do segundo ano do seu primeiro governo, se transformou no pior primeiro-ministro que Portugal já viu. Em segundo lugar, porque colocar um homem que mergulhou o país numa crise profunda e na falência a falar sobre a Europa e o pós-crise é uma verdadeira anedota (daquelas sem piada). Em terceiro porque, ainda que para todos os efeitos, juridicamente, Sócrates seja inocente, não é admissível que um homem que está a braços com a justiça como este está, com a dimensão e a gravidade com que está, seja considerado idóneo para ir a uma qualquer universidade ensinar o que quer que seja aos seus alunos. Deve apelar-se ao bom senso e à racionalidade. Deve pelo menos respeitar-se o período de nojo, durante o qual ainda decorra o processo em causa. De certeza que num país com tanta gente séria e competente não haveria alguém melhor para esta conferência que o indivíduo que lá foi? Deixo aqui a questão, quem quiser que responda. Quanto a José Sócrates, francamente. Já não há palavras capazes de traduzir o enfado, a maçada, o agastamento, o fastio, a arrenegação, a quase flagelação até em que se tornou a sua presença e o seu falar. Deixar aqui algo bem claro: o ponto fundamental deste artigo não se prende com um juízo prévio de culpabilidade face ao processo em que Sócrates está envolvido. Juridicamente é, para todos os efeitos, inocente. Da manutenção ou alteração dessa condição tratarão os tribunais, e até que isso aconteça, se é que acontecerá, é inocente. Agora, fora isso, já vai sendo o momento de este indivíduo ter vergonha do teor das suas intervenções e de continuar a obrigar o país a aturá-lo num registo de chico-esperto ofendido, não reconhecendo o ridículo das suas aparições. Dúvidas houvessem quanto à sua visão política quase lunática, estas se dissiparam no momento em que, depois de ter falido o país, ainda assim foi para Coimbra continuar a defender a construção do TGV. Este indivíduo até se pode achar um homem inteligente, o que não pode é achar que todos os outros são parvos!

 

Escreve à sexta-feira