Parcerias políticas de Marcelo


O Presidente transformou o Palácio de Belém em central de intoxicação e de intriga política. As várias parcerias que Marcelo estabelece não abonam nada a favor de um Chefe de Estado


Quem conheça bem as muitas e admiráveis prosas do “carioca” Nelson Rodrigues (1912-1980), certamente se lembrará da figura da “grã-fina com narinas de cadáver”, assim uma espécie de figura que por cá se poderia equiparar à “dondoca com ar de quem lhe cheira a merda”, sendo admissível que tal expressão também se aplique ao género masculino, embora com as devidas adaptações.

Vem isto a propósito do nojo e repulsa que causam a certos jornalistas as críticas que lhes são dirigidas por causa de prosas que escrevem ou de comentários que fazem. Depende muito dos jornais em que debitam prosa ou, de um modo mais abrangente, dos órgão de comunicação social em que peroram como “doutores da mula russa” omniscientes e omnipotentes a “armar ao pingarelho”.

Manipulador exímio, o actual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, vai explorando essa debilidade psicológica de alguns jornalistas ansiosos por terem, se não “o rei”, pelo menos “o presidente na barriga”, transformando-os, sem eles darem por isso, em “correias de transmissão” devidamente “amestradas” por “fontes de Belém” não identificadas, que debitam nas suas cabecinhas o que convém ao Presidente, mas, na maioria dos casos, sem a subtileza que mais lhe conviria.

Um dos exemplos mais flagrantes dessa falta de tacto, tino ou habilidade discursiva (é como preferirem) terá sido sem dúvida o texto publicado na página 3 do semanário “Expresso” de 10 de Março, intitulado “Marcelo dá prazo a Rio”, que também poderia chamar-se, visto o seu conteúdo, “Marcelo dá prazo a Costa”. De facto, a coisa vai mesmo ao ponto de escarrapachar no texto este fragmento de prosa nada subtil: “Com o crescimento e o emprego a correr bem e a sorte a proteger Costa em três frentes potencialmente problemáticas – seca, fogos e media -, o Presidente acha arriscado o líder da oposição não passar rapidamente ao ataque”. Mais: “Marcelo tem-se referido ao péssimo tempo dos últimos dias como ‘chuva divina’ para o PM”. Lê-se e não se acredita, mas toda esta conversa, e não só, foi “partilhada com o Expresso” – como confessa, sem a menor hesitação, a “correia de transmissão”!

Ouso dizer que a grande esperança de alguma direita – política e jornalística – é que a tragédia dos incêndios de 2017 venha a repetir-se em 2018, dando pretexto ao PR para acabar com a malfadada experiência – até agora tão bem sucedida – de um Governo sustentado por uma maioria de Esquerda na Assembleia da República. Ora, mais fogo e mais mortes seriam como uma cereja no topo de um bolo de noiva, permitindo ao PR dissolver o Parlamento, para gáudio da sua tão amada direita.

Sabe-se como, perante o terrível incêndio de Pedrógão Grande, Marcelo começou por declarar publicamente: “Foi feito tudo o que era possível”, mas depressa mudou de opinião ao perceber que aquela era a grande oportunidade para demonstrar à direita que ele estava com ela, não a tinha esquecido, e abominava a experiência governativa de esquerda, em curso pela primeira vez desde a aprovação da Constituição de 1976. Vai daí,  fez outra parceria com uma senhora luso-brasileira de Pedrógão que já tinha sido malcriada e provocadora em relação ao PM António Costa.

Essa senhora – manipulada ou manipuladora, isso não sei – não hesitou em andar de braço dado (metaforicamente, claro!) com Marcelo naquelas “incursões do PR no terreno até aqui viradas para somar popularidade” (como está escrito no texto do “Expresso” de 10 de Março de 2018, acima citado), batendo ambos forte e feio, ele no Estado (isto é, no Governo) e ela no Governo (sem passar pelo Estado).

A ambição de protagonismo mediático e político da senhora luso-brasileira pareceu a muita gente – e a mim também – uma evidência, mas ela rejeitou sempre a ideia de estar a iniciar um percurso ou mesmo uma carreira políticos. Todavia, já com vários apoiantes a afastarem-se dela (e, provavelmente, também o PR), a senhora aceitou agora colaborar com o CDS, um direito que ninguém lhe nega mas que contradiz a neutralidade que ela proclamou urbi et orbi quando acompanhava o PR nas tais “incursões viradas para somar popularidade” (“Expresso” dixit). E quem, como eu, se atreveu a apontar essa óbvia contradição da senhora de Pedrógão, acompanhante do PR nas tais “incursões no terreno”, já foi mimoseado, na “Fisga” da Revista do “Expresso” de 17 de Março, com um epíteto muito mal cheiroso: “um esterco”. Bem me parecia que também há jornalistas “com ar de quem lhes cheira a merda”…

As várias parcerias que o PR estabelece – com o “Expresso”, com a senhora de Pedrógão, com inimigos de Rui Rio dentro do PPD/PSD e, sabe-se lá se também, com inimigos de Costa dentro do PS – não abonam mesmo nada a favor de um Chefe do Estado capaz de se distanciar da intriga político-partidária e, sobretudo, dos “tiques” de comentador perverso que praticou a malvadez política durante várias décadas, em jornais como o “Expresso” e o defunto “Semanário”, ou num canal de televisão privado.

Por isso, nada melhor do que rematar este texto com a abertura triunfante da “correia de transmissão”, no já citado “Expresso” de 10 de Março: “Se o PSD não se começar (sic) a afirmar nas sondagens até ao verão e António Costa chegar à rentrée (a um ano das legislativas) a crescer rumo a uma maioria absoluta, o Presidente da República admite ter de entrar mais em cena e voltar a chamar a si momentos de alerta para o que corre pior no país acentuando a demarcação do Governo” e, assim, “preenchendo os vazios de oposição”. Objectivo: mandar para o galheiro a maioria de Esquerda!

Atenção, por isso, ao “imperativo de consciência” (?!) que Marcelo já invocou para se recandidatar e prolongar por mais cinco anos (5) a sua estadia no Palácio de Belém, já transformado em autêntica central de intoxicação e intrigas políticas…


Parcerias políticas de Marcelo


O Presidente transformou o Palácio de Belém em central de intoxicação e de intriga política. As várias parcerias que Marcelo estabelece não abonam nada a favor de um Chefe de Estado


Quem conheça bem as muitas e admiráveis prosas do “carioca” Nelson Rodrigues (1912-1980), certamente se lembrará da figura da “grã-fina com narinas de cadáver”, assim uma espécie de figura que por cá se poderia equiparar à “dondoca com ar de quem lhe cheira a merda”, sendo admissível que tal expressão também se aplique ao género masculino, embora com as devidas adaptações.

Vem isto a propósito do nojo e repulsa que causam a certos jornalistas as críticas que lhes são dirigidas por causa de prosas que escrevem ou de comentários que fazem. Depende muito dos jornais em que debitam prosa ou, de um modo mais abrangente, dos órgão de comunicação social em que peroram como “doutores da mula russa” omniscientes e omnipotentes a “armar ao pingarelho”.

Manipulador exímio, o actual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, vai explorando essa debilidade psicológica de alguns jornalistas ansiosos por terem, se não “o rei”, pelo menos “o presidente na barriga”, transformando-os, sem eles darem por isso, em “correias de transmissão” devidamente “amestradas” por “fontes de Belém” não identificadas, que debitam nas suas cabecinhas o que convém ao Presidente, mas, na maioria dos casos, sem a subtileza que mais lhe conviria.

Um dos exemplos mais flagrantes dessa falta de tacto, tino ou habilidade discursiva (é como preferirem) terá sido sem dúvida o texto publicado na página 3 do semanário “Expresso” de 10 de Março, intitulado “Marcelo dá prazo a Rio”, que também poderia chamar-se, visto o seu conteúdo, “Marcelo dá prazo a Costa”. De facto, a coisa vai mesmo ao ponto de escarrapachar no texto este fragmento de prosa nada subtil: “Com o crescimento e o emprego a correr bem e a sorte a proteger Costa em três frentes potencialmente problemáticas – seca, fogos e media -, o Presidente acha arriscado o líder da oposição não passar rapidamente ao ataque”. Mais: “Marcelo tem-se referido ao péssimo tempo dos últimos dias como ‘chuva divina’ para o PM”. Lê-se e não se acredita, mas toda esta conversa, e não só, foi “partilhada com o Expresso” – como confessa, sem a menor hesitação, a “correia de transmissão”!

Ouso dizer que a grande esperança de alguma direita – política e jornalística – é que a tragédia dos incêndios de 2017 venha a repetir-se em 2018, dando pretexto ao PR para acabar com a malfadada experiência – até agora tão bem sucedida – de um Governo sustentado por uma maioria de Esquerda na Assembleia da República. Ora, mais fogo e mais mortes seriam como uma cereja no topo de um bolo de noiva, permitindo ao PR dissolver o Parlamento, para gáudio da sua tão amada direita.

Sabe-se como, perante o terrível incêndio de Pedrógão Grande, Marcelo começou por declarar publicamente: “Foi feito tudo o que era possível”, mas depressa mudou de opinião ao perceber que aquela era a grande oportunidade para demonstrar à direita que ele estava com ela, não a tinha esquecido, e abominava a experiência governativa de esquerda, em curso pela primeira vez desde a aprovação da Constituição de 1976. Vai daí,  fez outra parceria com uma senhora luso-brasileira de Pedrógão que já tinha sido malcriada e provocadora em relação ao PM António Costa.

Essa senhora – manipulada ou manipuladora, isso não sei – não hesitou em andar de braço dado (metaforicamente, claro!) com Marcelo naquelas “incursões do PR no terreno até aqui viradas para somar popularidade” (como está escrito no texto do “Expresso” de 10 de Março de 2018, acima citado), batendo ambos forte e feio, ele no Estado (isto é, no Governo) e ela no Governo (sem passar pelo Estado).

A ambição de protagonismo mediático e político da senhora luso-brasileira pareceu a muita gente – e a mim também – uma evidência, mas ela rejeitou sempre a ideia de estar a iniciar um percurso ou mesmo uma carreira políticos. Todavia, já com vários apoiantes a afastarem-se dela (e, provavelmente, também o PR), a senhora aceitou agora colaborar com o CDS, um direito que ninguém lhe nega mas que contradiz a neutralidade que ela proclamou urbi et orbi quando acompanhava o PR nas tais “incursões viradas para somar popularidade” (“Expresso” dixit). E quem, como eu, se atreveu a apontar essa óbvia contradição da senhora de Pedrógão, acompanhante do PR nas tais “incursões no terreno”, já foi mimoseado, na “Fisga” da Revista do “Expresso” de 17 de Março, com um epíteto muito mal cheiroso: “um esterco”. Bem me parecia que também há jornalistas “com ar de quem lhes cheira a merda”…

As várias parcerias que o PR estabelece – com o “Expresso”, com a senhora de Pedrógão, com inimigos de Rui Rio dentro do PPD/PSD e, sabe-se lá se também, com inimigos de Costa dentro do PS – não abonam mesmo nada a favor de um Chefe do Estado capaz de se distanciar da intriga político-partidária e, sobretudo, dos “tiques” de comentador perverso que praticou a malvadez política durante várias décadas, em jornais como o “Expresso” e o defunto “Semanário”, ou num canal de televisão privado.

Por isso, nada melhor do que rematar este texto com a abertura triunfante da “correia de transmissão”, no já citado “Expresso” de 10 de Março: “Se o PSD não se começar (sic) a afirmar nas sondagens até ao verão e António Costa chegar à rentrée (a um ano das legislativas) a crescer rumo a uma maioria absoluta, o Presidente da República admite ter de entrar mais em cena e voltar a chamar a si momentos de alerta para o que corre pior no país acentuando a demarcação do Governo” e, assim, “preenchendo os vazios de oposição”. Objectivo: mandar para o galheiro a maioria de Esquerda!

Atenção, por isso, ao “imperativo de consciência” (?!) que Marcelo já invocou para se recandidatar e prolongar por mais cinco anos (5) a sua estadia no Palácio de Belém, já transformado em autêntica central de intoxicação e intrigas políticas…