De congresso em congresso, assim vai a política nacional num ano que para além destas “festividades”, até ao momento, pouco teve de assinalável. Assim, depois de um congresso social-democrata que, pese embora com pouca história, sempre elegeu um novo líder, seguiu-se o do CDS, que a sua liderança apenas confirmou, sentindo-se ainda assim a mesma ausência de chama que tivera a reunião magna social-democrata. Chama para o país, pois partidariamente, a nível interno, honra seja feita, excetuando divergências salutares e desejáveis em política, sente-se um claro apoio à liderança e um remar de todos para o mesmo lado dentro do CDS.
Porém, Assunção Cristas, que é uma política claramente inteligente e sensível ao que os seus congressistas estavam desejosos em ouvir, deixou-se certamente levar pelo entusiasmo que estas circunstâncias sempre criam e, errada e precipitadamente, cometeu um pecado capital ao colocar o seu horizonte político como sendo a próxima primeira-ministra de Portugal, fasquia esta que, manifestamente, não acontecerá. Vamos por partes. Em primeiro lugar, numa ótica puramente partidária, compreende-se que o CDS queira colocar-se como o único partido capaz de representar o eleitorado de centro-direita/direita, tentando assim esvaziar o espetro político do PSD.
Verdade seja dita, aqui, a culpa até nem é do CDS. É do PSD, que verdadeiramente, como aconteceu, a exemplo, nas autárquicas em Lisboa, se deixou ultrapassar literalmente pela direita. Porém, esqueceu-se Assunção que, como sempre tem acontecido, mesmo com um PSD fraco, mais depressa precisará Assunção do PSD do que o PSD de Assunção. Não por causa da malfadada história das bengalas porque, a irmos por aí, bengalas têm ambos os partidos sido um do outro. É pela influência e importância vital que tem para o CDS o facto de estar próximo da esfera do poder. O PSD sabe conviver com o poder e com a sua ausência.
Ao CDS é difícil, até pela tal afirmação de alternativa que Assunção Cristas defende ser, manter-se fora da esfera do poder – leia-se da governação. Portanto, pouco sustentada e sustentável foi esta jogada. Mas mais. Num momento da política portuguesa em que tanto, e bem, se discute a postura dos líderes partidários, num balanço entre as fiéis expetativas que criam e onde verdadeiramente podem chegar e o que fazer, Assunção Cristas deu mais um tiro no pé. E deu um tiro no pé porque a própria acabava por ser, talvez, a líder partidária aparentemente mais coesa consigo e com os seus e, portanto, mais assertiva.
Dava a sensação de saber onde estava e exatamente para onde ia. Deixou de ser assim. Aquilo que Assunção Cristas fez a si própria, ao colocar o seu objetivo político numa eleição como primeira-ministra, foi pura e simplesmente suicídio político. Assunção nunca seria primeira-ministra de Portugal. Muito menos o será no atual contexto e, portanto, tudo o que seja abaixo disso, pela sua própria postura, representará uma derrota. Derrota esta imposta por si a si própria. Não se compreende e era completamente desnecessário.
Escreve à sexta-feira