BAFTA. Preto, protestos e três cartazes

BAFTA. Preto, protestos e três cartazes


Em tempo #MeToo, foi um filme que parte de uma história de violação o grande vencedor dos BAFTA. Cinco, ao todo, para “Três Cartazes à Beira da Estrada”, de Martin McDonagh.


Melhor filme, melhor atriz (Frances McDormand), melhor argumento original, melhor ator secundário (Sam Rockwell) e ainda melhor filme britânico. Premiado cinco vezes, “Três Cartazes à Beira da Estrada”, de Martin McDonagh, foi o grande vencedor da 71.ª edição dos BAFTA, os prémios da Academia Britânica de Artes do Cinema e Televisão, que decorreu na noite deste domingo no Royal Albert Hall, em Londres.

A par do filme de McDonagh, lideravam as nomeações “A Forma da Água”, de Guillermo del Toro (de resto, o filme mais nomeado para os Óscares, que serão entregues no início de março) e “A Hora Mais Negra”, Joe Wright, protagonizado por Gary Oldman como Winston Churchill para o BAFTA de Melhor Ator. 

Fora isso, ambos ficaram aquém do que as nomeações faziam prever para os prémios. Nomeado em nove categorias, tantas quanto “Três Cartazes à Beira da Estrada”, “A Hora Mais Negra” venceu apenas em duas: Melhor Ator e Melhor Maquilhagem/Cabelos. Para mais BAFTAS ainda, 12, estava nomeado “A Forma da Água”, para terminar a noite com apenas três: Melhor Realizador para Guillermo del Toro, Melhor Banda Sonora Original e Melhor Direção de Arte. 

E mais preto – ou nem tanto

Em tempo de Time’s Up, tanto assunto como prémios, vencedores e vencidos, terá a cor dos vestidos, pretos, ou nem por isso. Acima da necessidade de explicações estará Kate Middleton – o protocolo não permite aos membros da família real britânica fazerem statements políticos. E apesar de ter sido notícia o vestido verde escuro com que a duquesa de Cambridge chegou à cerimónia na noite de domingo, houve também quem tivesse visto no apontamento de uma fita preta na cintura um sinal de solidariedade para com o movimento contra o assédio e a agressão sexual. A que, de resto, o príncipe William fez alusão numa nota em que dizia que se tratou de “um ano em que muitas pessoas corajosas denunciaram bullying, assédio e abusos”.

Não por questões protocolares, mas também não por falta de solidariedade, à parte do movimento dos vestidos pretos decidiu ficar Frances McDormand, vencedora do BAFTA de Melhor Atriz pelo papel de uma mãe à procura de justiça depois da morte da sua filha, às mãos de um violador, em “Três Cartazes à Beira da Estrada” – recordista de prémios perfeito para tempos de #MeToo. E foi a própria que no discurso de agradecimento do prémio (para o qual tinha já estado nomeada uma vez por “Fargo”, em 1997, e outras duas na categoria de melhor atriz secundária) fez questão de expressar a sua “solidariedade total” para com as vítimas de assédio e todos os que se vestiram de preto em apoio ao movimento Time’s Up. 

“Como o Martin [McDonagh] disse, tenho um pequeno problema com a conformidade”, explicou sobre a escolha de um vestido com um padrão de lábios vermelhos. “Mas quero que saibam que estou em plena solidariedade com minhas irmãs de preto esta noite.”

Para lá da cerimónia, este ano conduzida pela atriz britânica Joanna Lumley, foi o que se passou antes, lá fora, quando as Sisters Uncut, grupo feminista criado em 2014 em protesto contra os cortes nos apoios estatais nos apoios às vítimas de violência doméstica, invadiram a passadeira vermelha.