Não há momento mais importante na vida interna do PSD do que o seu congresso. É lá que se põem a nu as virtudes, os defeitos, os amores e os desamores, mas, muito mais importante, os compromissos, as estratégias e os rumos que obrigam um partido de poder, como é o PSD, a conquistá-lo e a exercê-lo e, neste campo, são poucas as novidades e as diferenças daquilo que a campanha eleitoral para a liderança já havia descortinado.
Por muito que se proclame, a unidade não se faz em quinze dias. Claro que há unidade no objetivo primacial e comum a todos. Voltar a ganhar as eleições legislativas e, pelo meio, ganhar as eleições europeias. Mas é evidente que a forma para lá se chegar não recolhe o mesmo sintoma. Antes pelo contrário. Rejeitar-se um bloco central tende a unir, mas quando coloca no horizonte a possibilidade de acordos com o PS, com este PS, como meio de lá chegar o sentimento divide-se. Ainda para mais quando já se percebeu que pôr em cima da mesa conciliações pontuais com o PS é um exercício ilógico e sem correspondência. Basta estar atento às declarações insistentes dos dirigentes socialistas neste último fim de semana.
A unidade não comporta em tão curto espaço de tempo o afastamento de um líder parlamentar maioritariamente apoiado e desejado pelos seus pares sem que daí se tenham com evidência esgotado todas as possibilidades de entendimento e de concertação. A unidade, em tão curto tempo, dificilmente abraça uma vice-presidente que, independentemente das suas qualidades, não há tanto tempo quanto isso intentou queixa-crime contra o governo de Passos Coelho por atentado ao Estado de Direito a propósito da aprovação do mapa judiciário. A unidade dificilmente comporta que importantes distritos como o Porto, Viseu, Faro, Guarda se vissem praticamente excluídos da representatividade merecida dos órgãos nacionais ressurgindo a ideia de que há um PSD de primeira e um PSD de segunda linha e que os dirigentes locais não têm espaço na vanity fair do conclave laranja. Não fosse por isso terem surgido 8 listas ao Conselho Nacional, Rio não conquistasse a maioria do principal órgão do partido entre congressos e tivesse cerca de 40% votos brancos na sua Comissão Política. O que pode parecer inócuo, mas na realidade não será.
E isto, para os mais aguerridos, não é fazer oposição nem querer o falhanço do PSD. É antes de mais constatar factos, mas é sobretudo exercer o legítimo direito à discordância e à interrogação. Querer que o PSD ganhe não significa dizer que sim a tudo.
Mas o futuro também falou. E se durante semanas fomos massacrados com uma campanha promocional da comunicação social sobre os rostos que o marcariam, no congresso cedo se percebeu que não existem receitas que deem sempre certo. Com exceção do esperado (arriscaria dizer desejado) Luís Montenegro e da novidade de Pinto Luz, ainda que com registo mais moderado do que os dias que antecederam o congresso, não se vislumbra, em nenhum dos outros publicamente promovidos, rasgo, rumo, conteúdo e liderança. É algo que é explicável pelo sentimento do imperdoável frio do vazio da sala no momento das suas intervenções. É verdade que o caminho para 2019 deve ser de vitória. De um combate claro à governação socialista alicerçada na extrema esquerda. De uma vitória que não basta por si e que se obriga a ser claramente maioritária para que possamos voltar a governar. Mas também é verdade que no futuro, ainda que normalmente pertença a Deus, Montenegro e Pinto Luz terão uma palavra a dizer. Resta saber se juntos ou separados.
Vice-presidente do grupo parlamentar do PSD. Docente universitário
Escreve à segunda-feira