PSD: um partido com o seu líder


É inútil, e desonesto, fazer à direção de Rui Rio aquilo que alguns dos seus apoiantes fizeram à direção (e ao governo) de Pedro Passos Coelho. Esse não é seguramente o caminho para a afirmação do PSD


Com os votos contados e o congresso fechado, o tempo da divergência e da disputa interna acabou. O candidato de alguns passa a ser o líder de todos. As críticas da minoria diluem-se na legitimidade da vontade maioritária. As eleições não perpetuam as campanhas. Fecham-nas. Para que quem ganha, governe. Para que quem governe seja escrutinado e avaliado no exercício pleno das suas funções.

Em grandes partidos há sempre muita gente interessada em dar opinião. O PSD não é exceção. É inútil, e desonesto, fazer à direção de Rui Rio aquilo que alguns dos seus apoiantes fizeram à direção (e ao governo) de Pedro Passos Coelho. Esse não é seguramente o caminho para a afirmação do PSD. 

Todas as vozes divergentes que se quiserem fazer ouvir do congresso em diante estarão a prestar um excelente serviço ao PS. Todos os protagonistas com responsabilidades neste novo ciclo que pretendam excluir, em vez de unir, estarão a prestar um excelente serviço ao PS. E, desculpem-me, ajudar o PS não é propriamente uma vocação social-democrata.  

Tenhamos em mente que um importante ciclo eleitoral se abre em menos de ano e meio – regionais da Madeira, europeias e legislativas. 

Como os militantes ambicionam e a história do partido o exige, essas eleições são para merecer ganhar. 
Espanta-me muito que tenhamos passado mais tempo nas diretas a discutir cenários sobre o que faremos depois de 2019, do que a debater o caminho para lá chegar em condições de disputar uma maioria. Houve quem colocasse a tática à frente da estratégia. Isso é um erro que o partido não pode voltar a cometer.

O tempo, agora, é o da estratégia programática. O PSD tem a obrigação de apresentar aos portugueses um projeto alternativo ao da frente de esquerda.

Deixemos, de vez, a conversa estéril sobre o posicionamento ideológico do partido. Ao contrário do que aconteceu com outros líderes de outros partidos, nenhuma das lideranças do PSD, mais ou menos recentes, pôs a social-democracia na gaveta. O PSD sempre foi social-democrata. E com Rui Rio continuará a ser social-democrata, reformista e personalista. 

Recordar o óbvio não significa que o partido não deva repensar e adequar o seu projeto.   

Há cinco ideias centrais de que a social-democracia precisa para se reafirmar junto do eleitorado.

Ideia número um: a sociedade boa. Deixámos de fazer as perguntas adequadas quando o lucro, o prejuízo e a eficiência substituíram o certo ou errado, o justo ou injusto. O PSD tem de reafirmar o conteúdo moral e não economicista da política. A sociedade boa está para além das relações económicas e perderemos para o capitalismo sempre que os termos da discussão forem a acumulação de bens materiais. A social-democracia tem de contrariar o espírito materialista que sustenta o individualismo e corrói a sociedade. Tem de adotar um discurso que valorize a felicidade individual, a autonomia, a comunidade e democratize as oportunidades.

Ideia número dois: combater as desigualdades económicas. A social-democracia é a principal responsável pela ligação da classe média às instituições democráticas. Em Portugal, foi com governos PSD que a classe média mais prosperou e alargou a sua base. Precisamos de políticas que refaçam a classe média e tirem da pobreza milhões de cidadãos. Portugal não terá futuro se 50% das famílias portuguesas continuarem a não pagar IRS – porque não geram rendimentos. Garantir que todos têm o suficiente para uma vida digna é um projeto para a social-democracia. Querer uma igualdade radical é uma utopia socialista que nivela todos na pobreza.

Ideia número três: promover a igualdade política. A desigualdade política surge se pessoas acreditarem que as regras não se aplicam a todos de igual modo. O discurso do “eles” e do “nós” em antagonismo é fatal para a democracia. É crucial dar às pessoas a oportunidade de moldar a sociedade através de novos mecanismos de participação cívica. Precisamos de uma democracia política mas também social e económica. 

Ideia número quatro: o papel e a ideia do Estado. O tempo do Estado Interventivo, que vai a todas, partiu para não mais voltar. O Estado Preventivo, que garante a todos uma rede de proteção abaixo da qual ninguém cai, é o adequado à realidade demográfica e geopolítica da Europa. Isto não é um Estado mínimo. Pelo contrário, é um estado que está onde os privados não estão, que é um árbitro exigente da atividade económica, que labora pela igualdade de partida (e não pela igualdade à chegada) e que fornece serviços públicos de qualidade. Quanto mais despolitizado for o Estado e as suas principais instituições, melhor.     

Ideia número cinco: uma economia sustentável. A economia verde, a economia do mar e a economia das cidades são ‘novas’ economias onde o país pode dar cartas internacionalmente e criar postos de trabalho e prosperidade para o maior número. Importante manter como referencia um projeto de “economia da felicidade” em que a organização do trabalho seja obrigatoriamente compatibilizada com projetos de família e com tempo livre para os cidadãos investirem na cultura e lazer.  

Num tempo extraordinariamente hostil à liberdade individual, à democracia e ao primado da Lei, esta é a altura para o PSD reafirmar o seu projeto político. O PSD é o partido que compatibiliza economia de mercado com a coesão social; que compagina as reformas estruturais com uma ideia de justiça social; e, sobretudo, que defende um Estado Social forte, feito por cidadãos livres, por oposição a um modelo de socialismo de Estado, de cidadãos dependentes, que se tem ensaiado em Portugal.    

Portugal precisa de um PSD grande e forte. 

Foi em Rui Rio que o PSD confiou e confia. A confiança do país virá logo a seguir. 

Escreve à quarta-feira


PSD: um partido com o seu líder


É inútil, e desonesto, fazer à direção de Rui Rio aquilo que alguns dos seus apoiantes fizeram à direção (e ao governo) de Pedro Passos Coelho. Esse não é seguramente o caminho para a afirmação do PSD


Com os votos contados e o congresso fechado, o tempo da divergência e da disputa interna acabou. O candidato de alguns passa a ser o líder de todos. As críticas da minoria diluem-se na legitimidade da vontade maioritária. As eleições não perpetuam as campanhas. Fecham-nas. Para que quem ganha, governe. Para que quem governe seja escrutinado e avaliado no exercício pleno das suas funções.

Em grandes partidos há sempre muita gente interessada em dar opinião. O PSD não é exceção. É inútil, e desonesto, fazer à direção de Rui Rio aquilo que alguns dos seus apoiantes fizeram à direção (e ao governo) de Pedro Passos Coelho. Esse não é seguramente o caminho para a afirmação do PSD. 

Todas as vozes divergentes que se quiserem fazer ouvir do congresso em diante estarão a prestar um excelente serviço ao PS. Todos os protagonistas com responsabilidades neste novo ciclo que pretendam excluir, em vez de unir, estarão a prestar um excelente serviço ao PS. E, desculpem-me, ajudar o PS não é propriamente uma vocação social-democrata.  

Tenhamos em mente que um importante ciclo eleitoral se abre em menos de ano e meio – regionais da Madeira, europeias e legislativas. 

Como os militantes ambicionam e a história do partido o exige, essas eleições são para merecer ganhar. 
Espanta-me muito que tenhamos passado mais tempo nas diretas a discutir cenários sobre o que faremos depois de 2019, do que a debater o caminho para lá chegar em condições de disputar uma maioria. Houve quem colocasse a tática à frente da estratégia. Isso é um erro que o partido não pode voltar a cometer.

O tempo, agora, é o da estratégia programática. O PSD tem a obrigação de apresentar aos portugueses um projeto alternativo ao da frente de esquerda.

Deixemos, de vez, a conversa estéril sobre o posicionamento ideológico do partido. Ao contrário do que aconteceu com outros líderes de outros partidos, nenhuma das lideranças do PSD, mais ou menos recentes, pôs a social-democracia na gaveta. O PSD sempre foi social-democrata. E com Rui Rio continuará a ser social-democrata, reformista e personalista. 

Recordar o óbvio não significa que o partido não deva repensar e adequar o seu projeto.   

Há cinco ideias centrais de que a social-democracia precisa para se reafirmar junto do eleitorado.

Ideia número um: a sociedade boa. Deixámos de fazer as perguntas adequadas quando o lucro, o prejuízo e a eficiência substituíram o certo ou errado, o justo ou injusto. O PSD tem de reafirmar o conteúdo moral e não economicista da política. A sociedade boa está para além das relações económicas e perderemos para o capitalismo sempre que os termos da discussão forem a acumulação de bens materiais. A social-democracia tem de contrariar o espírito materialista que sustenta o individualismo e corrói a sociedade. Tem de adotar um discurso que valorize a felicidade individual, a autonomia, a comunidade e democratize as oportunidades.

Ideia número dois: combater as desigualdades económicas. A social-democracia é a principal responsável pela ligação da classe média às instituições democráticas. Em Portugal, foi com governos PSD que a classe média mais prosperou e alargou a sua base. Precisamos de políticas que refaçam a classe média e tirem da pobreza milhões de cidadãos. Portugal não terá futuro se 50% das famílias portuguesas continuarem a não pagar IRS – porque não geram rendimentos. Garantir que todos têm o suficiente para uma vida digna é um projeto para a social-democracia. Querer uma igualdade radical é uma utopia socialista que nivela todos na pobreza.

Ideia número três: promover a igualdade política. A desigualdade política surge se pessoas acreditarem que as regras não se aplicam a todos de igual modo. O discurso do “eles” e do “nós” em antagonismo é fatal para a democracia. É crucial dar às pessoas a oportunidade de moldar a sociedade através de novos mecanismos de participação cívica. Precisamos de uma democracia política mas também social e económica. 

Ideia número quatro: o papel e a ideia do Estado. O tempo do Estado Interventivo, que vai a todas, partiu para não mais voltar. O Estado Preventivo, que garante a todos uma rede de proteção abaixo da qual ninguém cai, é o adequado à realidade demográfica e geopolítica da Europa. Isto não é um Estado mínimo. Pelo contrário, é um estado que está onde os privados não estão, que é um árbitro exigente da atividade económica, que labora pela igualdade de partida (e não pela igualdade à chegada) e que fornece serviços públicos de qualidade. Quanto mais despolitizado for o Estado e as suas principais instituições, melhor.     

Ideia número cinco: uma economia sustentável. A economia verde, a economia do mar e a economia das cidades são ‘novas’ economias onde o país pode dar cartas internacionalmente e criar postos de trabalho e prosperidade para o maior número. Importante manter como referencia um projeto de “economia da felicidade” em que a organização do trabalho seja obrigatoriamente compatibilizada com projetos de família e com tempo livre para os cidadãos investirem na cultura e lazer.  

Num tempo extraordinariamente hostil à liberdade individual, à democracia e ao primado da Lei, esta é a altura para o PSD reafirmar o seu projeto político. O PSD é o partido que compatibiliza economia de mercado com a coesão social; que compagina as reformas estruturais com uma ideia de justiça social; e, sobretudo, que defende um Estado Social forte, feito por cidadãos livres, por oposição a um modelo de socialismo de Estado, de cidadãos dependentes, que se tem ensaiado em Portugal.    

Portugal precisa de um PSD grande e forte. 

Foi em Rui Rio que o PSD confiou e confia. A confiança do país virá logo a seguir. 

Escreve à quarta-feira