A tensão continua a intensificar-se em torno da Comissão de Trabalhadores (CT) da Autoeuropa e já levou à saída de dois elementos desta estrutura – Armando Lacerda e Henrique Batista, que apresentaram a sua demissão. Esta saída ocorre depois de o SOL ter avançado na semana passada que um grupo de trabalhadores estava a reunir assinaturas para um abaixo-assinado que visa destituir a Comissão de Trabalhadores liderada por Fernando Gonçalves. O documento será entregue nos recursos humanos da fábrica de Palmela, que deverá convocar depois um referendo. Segundo o comunicado, «prevalece um profundo descontentamento no seio dos trabalhadores pela situação atual vivida na empresa e da qual não se pode desresponsabilizar a administração pela imposição que, lamentavelmente, decidiu aplicar», diz o documento a que o SOL teve acesso.
A entidade liderada por Fernando Gonçalves já reagiu, afirmando que «todos os processos negociais exigem tempo» e prometeu continuar a negociar o caderno para 2018 independentemente do abaixo-assinado difundido entre os trabalhadores a reclamar a sua destituição. «Temos de continuar a trabalhar para perseguir os nossos objetivos e não é este tipo de coisas que nos demove». Afastou assim uma saída por vontade própria.
Em causa estará a ineficácia da Comissão de Trabalhadores para encontrar um ponto de equilíbrio entre as reivindicações dos trabalhadores, a posição da administração e ao mesmo tempo garantir as encomendas do novo modelo T-Roc.
Uma responsabilidade que é afastada pela CT, com Fernando Gonçalves a garantir que a atual situação vivida na empresa «é fruto de anos de más negociações da anterior Comissão de Trabalhadores», apontando ainda o dedo ao ex-líder histórico desta estrutura, António Chora. «Apercebeu-se que este conflito ia dar no que deu e o primeiro passo que deu foi saltar do barco», acusa Gonçalves, garantindo que Chora se reformou quatro meses antes do previsto, fugindo da empresa quando começaram os problemas com a administração.
Rutura de stock
Entretanto a linha de montagem da Autoeuropa vai voltar a parar na próxima segunda-feira devido a uma quebra no fornecimento de escapes, que impossibilita o normal fluxo de produção. Para o Site-Sul, um dos sindicatos do setor, esta nova paralisação revela precipitação por parte da administração ao implementar os novos turnos. A produção será retomada dois dias depois. «A Volkswagen planificou mal a produção do novo carro, e os fornecedores não estão preparados para este volume de produção», diz o sindicato.
Também as negociações entre a administração e a estrutura liderada por Fernando Gonçalves continuam, mas ainda não houve um acordo em relação aos aumentos salariais. Em cima da mesa continuam as reivindicações de um aumento salarial de 6,5%, com um incremento mínimo de 50 euros por trabalhador, valor superior à proposta inicial da administração, que terá sido de um aumento de 2% e 3% para os próximos dois anos – acima da inflação, de qualquer modo.
Também por resolver está a questão dos novos horários de trabalho a partir de agosto, altura em que a Autoeuropa deverá aumentar a produção de forma significativa para responder ao volume de encomendas do T-Roc, para o que terá de implementar os turnos contínuos.