Serei só eu a achar que a existência de um grupo de países do sul da União Europeia (UE) é um claro sinal de que se caminha cada vez mais contra uma Europa unida? Nos últimos dias, os líderes de Portugal, Espanha, França, Itália, Grécia, Chipre e Malta voltaram a reunir-se, desta vez em Roma, para discutir questões como a união financeira e as migrações, e o primeiro-ministro português voltou a defender que se trata de um “conjunto de países que se reúnem pelas suas afinidades, não para dividir a UE, mas para ajudar a fortalecer a UE”.
O discurso oficial dos líderes destes países tem sido sempre esse. Mas eu pergunto: qual a afinidade que temos com Malta, com Chipre ou com a Grécia? Serão assim tão mais próximos culturalmente do que a Alemanha, a Roménia ou a Holanda?
Não me faz sentido que este grupo possa existir com algum propósito que não seja o de ver na divisão uma força acrescida na definição dos destinos da União. Também não deixa de ser interessante que, no encontro de há uma semana, o primeiro-ministro de Itália, Paolo Gentiloni, tenha assegurado que necessitamos de “uma União Europeia mais coesa, na qual as diferenças entre norte, sul, oriente e ocidente sejam reduzidas”.
A propósito das suas palavras, lembrei-me da célebre entrevista de Mike Wallace ao ator norte-americano Morgan Freeman em que este, questionado sobre como acabar com as diferenças entre brancos e pretos, e com o racismo em geral, responde ao entrevistador que não seria com mais segregação, com semanas dedicadas à consciência negra: “[Vamos acabar com o racismo] parando de falar sobre isso. Eu vou parar de tratá-lo por branco e o que peço é que deixe de me chamar negro.”
A criação de um grupo de países do sul da União Europeia só serve para abrir mais o fosso das nossas diferenças, criando clivagens que não existiam e semelhanças que nunca tiveram lugar na nossa história. Se queremos que o sul, o norte, o oriente e o ocidente sejam menos diferentes, então que sentido faz criar um grupo dentro da UE por afinidades, marcando a posição do sul?
Tal como me insurjo quando algumas decisões são praticamente tomadas em reuniões do G6, o grupo que reúne os países mais populosos da UE, também não posso deixar de me questionar sobre o grupo do sul e o que decidem como opções comuns entre 7 países.
Com isto não defendo que não haja assuntos que, pontualmente, levem um grupo menos alargado de países da UE a reunirem-se, por posições comuns, por afinidades ou por geografia. Aliás, em algum momento teria feito ou vai fazer sentido estes sete países reunirem-se. Mas duvido muito da relevância de um grupo fixo como o dos países do sul. Duvido da sua eficácia, mas tenho a certeza de uma coisa: só nos distancia dos outros blocos, começando logo pelo facto de este grupo assumir que há blocos – pelo menos, o do sul.
Jornalista