1. Mais para além do óbvio: ao contrário do que possa parecer e daquilo que é normalmente escrito, desta campanha eleitoral para a liderança do PSD sobressaem caminhos muito distintos entre os dois candidatos. Se de um lado temos a existência da função política centrada na sua dimensão ética e compromissória com as convenções internacionais, sobretudo no que à economia e finanças diz respeito, sem que daí se consiga extrair nenhuma ideia transformadora de relevo, do outro, Santana conseguiu, sem se desviar do óbvio, apresentar um conjunto de ideias que, no limite, nos obrigam a repensar o país, a forma como ele se estrutura e o desafio em que consiste a sua capacidade de resposta às necessidades coletivas tradicionais e emergentes. É assim, a título de exemplo, nos desafios do Estado pós-social que se prendem com um sistema de segurança social tendencialmente diferente do atual, mas capaz de chegar a todos, na economia social, nos desafios das funções tradicionais do Estado, como a segurança e a defesa, na saúde, na educação ou na perceção transformadora do nosso tecido económico, com relevo para os mercados de I&D.
2. Mudança: uma das maiores falácias que se instalou com o legado de Passos Coelho foi a de um PSD desviado para a direita. É com base nela que um dos candidatos acentua a sua tónica de mudança. Na vontade de um PSD do “centro” sem, em boa verdade, sabermos bem qual o significado dessa expressão. Reduzir o legado do PSD e a sua dimensão de influência na sociedade e no Estado a esta expressão é tão indesejável quanto perigoso. Por uma razão simples. Os tempos mudaram e não vivemos mais reféns dos epítetos ideológicos de há 40 anos. Claro que a configuração política governativa assente na extrema-esquerda não pode fazer com que o PSD queira ser ideologicamente igual ao PS. Até porque nunca foi. Santana oferece-nos a ideia de um PSD aberto e correspondente às necessidades do país. De um país com gente de esquerda e de direita, com gente indiferente, com gente oscilante entre PS e PSD, mas sobretudo com gente nova que procura partidos que vão para além dos circunstancialismos tradicionais e lhe ofereçam modelos de organização social mais justos nos recursos e nas oportunidades.
3. Transparência: não apenas no sentido da ação pública, mas naquilo que se é. Na condição de vida, nos erros e arrependimentos que todos temos e na capacidade de os reconhecer e seguir em frente. Na forma como caímos, porque todos caímos algum dia, mas sobretudo na forma como nos levantamos. Chamar “trapalhão” a Santana como se a “trapalhada” não tivesse sido a demissão de um governo com apoio parlamentar maioritário, que deu origem a um governo maioritário socialista que depois acabou como sabemos, não é ser transparente. Não pode ser e não podemos agir como se fosse.
4. Lealdade: não há pior deslealdade político-partidária do que publicamente agirmos contra companheiros de partido que se candidatam a eleições. São coisas que marcam percursos para a vida e que nos dizem muito sobre quem as faz. Quer isto dizer que não há lugar num partido plural como o PSD para a discordância? Pelo contrário. Quer dizer que há alturas em que as inimizades pessoais, a tática, a convicção ou até a mera dignidade pessoal nos obrigam momentaneamente ao silêncio.
5. Clareza: se há coisa que fica clara nesta disputa de liderança é a relação com o Partido Socialista e os tão afamados “pactos de regime”. Se de um lado não sabemos bem o que esperar ou se esta circunstância pode entrar na equação, do outro, ela é rejeitada. E bem. Com este partido socialista que vê no PSD uma muleta suplente para quando as coisas com a frente esquerda não correrem bem não há lugar a entendimentos. O PSD é um partido liderante e demasiadamente importante para ser um mal menor. Se o PS quer entendimentos com o PSD, então confrontemo-nos nas urnas primeiro, clarifiquem o seu modelo politico para Portugal e digam, com verdade, ao que vêm. Sem jogadas e sem taticismos.
Vice-presidente do grupo parlamentar do PSD. Docente universitário, Escreve à segunda-feira