Dentro de uma semana, os militantes do PSD (com as quotas em dia…) escolhem o próximo governo, uns votando por dele fazerem parte, outros por esperarem pelo xxiii.
O amor ao próximo governo, o xxii da série constitucional, une os dois candidatos a presidente da comissão política nacional, o título burocrático que corresponde ao de líder do PSD, a escolher nas eleições directas de 13 de Janeiro e a entronizar no 36.o congresso, agendado para os dias 16 a 18 de Fevereiro. Santana Lopes declara o seu amor ao xxii governo considerando que o PSD o deve integrar em função de uma vitória nas eleições legislativas de 2019. Rui Rio não afasta tal possibilidade, mas vai referindo o seu não menor carinho pelos consensos entre os dois maiores partidos políticos, numa linguagem cifrada que o seu oponente traduz como uma declaração de amor ao bloco central. Os militantes do PSD, unidos pelo desejo do regresso ao poder, estão divididos quanto à escolha do método: a solo e mais tarde, ou mais cedo e em comunhão more uxorio com o PS?
Tanta disponibilidade para o afecto joga a favor da Carochinha do Largo do Rato, que dá por garantida a consumação de um xxii governo com o Bloco de Esquerda. Os votos do Bloco são, à luz das actuais sondagens, os suficientes para uma maioria absoluta com o PS e o Bloco não disfarça o apetite por integrar um futuro governo.
Nem o PS vai anunciar previamente uma intenção de trazer o Bloco para o governo nem o PSD, mesmo com Rio a líder, irá anunciar em campanha que se coligará com o PS. Do ponto de vista da clarificação do jogo político, as eleições de 2019 manterão a (má) tradição portuguesa de não pré-anunciar coligações pós-eleitorais.
Do ponto de vista da margem de manobra política, a posição do PS é confortável, ao obrigar a ofertas por parte do Bloco e do PSD para a formação de um futuro governo. Mas tal margem de manobra, de tão evidente, também assusta potenciais eleitores que não sabem, no momento do voto, o que virá a acontecer no dia seguinte. Não é indiferente para o eleitorado flutuante à esquerda e à direita do PS que o xxii Governo Constitucional junte PS e Bloco ou PS e PSD.
A margem de manobra do futuro líder do PSD, confrontado com uma vitória do PS, varia entre a morte política e a tentativa de fuga a essa morte. E a disponibilidade para integrar um bloco central é uma forma de imediata sobrevivência política.
Aceitam-se apostas sobre o efeito no junior partner do abraço de urso. Qual dos abraços, o dado ao Bloco ou o dado ao PSD, trará mais benefícios ao PS, findo o xxii Governo Constitucional? Num primeiro momento, a decisão de integrar o bloco central poderá alimentar uma cisão no PSD, mas será uma cisão muito diferente da que, em 1979, deu origem à ASDI, já que os deputados da próxima legislatura serão escolhidos pelo líder eleito no dia 13 de Janeiro. O tradicional apetite do PSD pelo poder também não é de molde a alimentar frondas quando está sentado à mesa do Orçamento do Estado. Não será desta que o sonho de um partido liberal português se concretizará a partir de uma cisão no PSD.
Claro que um bloco central encabeçado pelo PS minará a liderança do PSD e deixará margem para um espontâneo que queira recriar o mito cavaquista da rodagem do Citroën.
Até lá, caro e paciente leitor, convido–o a percorrer as “moções de estratégia global” dos dois candidatos a líder do PSD, ambas irmanadas no limite das 55 páginas, e a concretizar a façanha que não realizei: ler nas entrelinhas o futuro do xxii Governo Constitucional.
Escreve à sexta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990