Sob um título que desarma ideias feitas e destitui as formas preguiçosas de pensar, reúnem-se 24 ensaios que investem contra as mitificações retrospectivas e as etiquetas em que são pródigos os arrumadores da literatura. Contemporâneos são todos aqueles que chamamos ao nosso convívio. É esta a abordagem literária de Helder Macedo, que segue aqui a mais alta linha de cumes da nossa literatura, de D. Dinis a Herberto Helder. A capacidade articuladora da reflexão, a naturalidade exemplar do seu estilo fluente, sem receio de ferir a nota coloquial, a generosidade intelectual contam-se entre as boas qualidades que recomendam este volume, donde Camões nunca se ausenta.
“O Camões de que vos quero falar é um Camões bem brasileiro, é o boémio da “malandragem”, mais Macunaíma do que herói épico com uma coroa de louros na cabeça. Até porque a malandragem, como bem ensinou Antonio Candido, é uma coisa muito séria. […] Poucos poetas mereciam menos o destino póstumo de monumento nacional que Camões. Fixá-lo numa imagem de grandeza estereotipada é neutralizar a grandeza real de quem preferiu ao conforto das ideias recebidas a precária demanda de experiências ainda sem nome.”