Ninguém nos fará “descarrilar”, escreveu Theresa May num artigo de opinião publicado este domingo no “Sunday Telegraph” para assinalar o fim da primeira fase de negociações com a União Europeia a propósito da saída do Reino Unido.
“No meio de tanto ruído, continuamos o nosso trabalho. Perante aqueles que querem deitar abaixo o Reino Unido, estamos a garantir o melhor e mais ambicioso acordo do Brexit para todo o país. E a minha mensagem de hoje é clara: não nos farão descarrilar deste dever fundamental de cumprir a vontade democrática do povo britânico”, diz a primeira-ministra.
A mensagem é clara para todos aqueles, como Tony Blair, que vieram afirmar nas últimas semanas que o executivo ainda está a tempo de inverter o processo e manter o Reino Unido na UE. “Os últimos 10 dias foram um marco nas nossas negociações para deixar a UE”, definiu a líder do governo britânico.
Depois de uma semana em que acabou derrotada na Câmara dos Comuns, numa humilhação alimentada por uma dúzia de deputados conservadores que resolveram votar ao lado da oposição, obrigando no futuro o governo a submeter o acordo do Brexit à votação, o artigo é uma clara afirmação de princípios por parte de Theresa May. A sua intenção é conseguir o melhor acordo de saída da Europa comum e não um braço-de-ferro para alcançar melhores condições para o Reino Unido permanecer.
Só que a semana não será fácil, pelo menos a julgar pela mensagem que lhe deixou o seu ministro dos Negócios Estrangeiros e um dos rostos da campanha para a saída da UE. Disse Boris Johnson ao “Sunday Times”, “aquilo que precisamos é fazer alguma coisa nova e ambiciosa, que nos permita comércio sem taxas alfandegárias e sem atrito, mas que, ao mesmo tempo, nos permita ter a importante liberdade de decidir o nosso quadro regulador, as nossas leis e fazer as coisas de forma distinta no futuro”.
Não foi o único a querer deixar a sua marca de desafio, também o deputado Jacob Rees-Mogg aproveitou para afirmar, citado pelo “Sun on Sunday”, que Theresa May não pode aceitar as exigências de Bruxelas em relação à liberdade de movimentos e aos ditames do Tribunal Europeu.
“Não podemos ser uma colónia da UE durante dois anos, de 2019 a 2021, aceitando novas leis, feitas sem que o povo, o parlamento e o governo britânico tenham alguma coisa a dizer sobre o assunto”, afirmou.
Sondagem favorável Se é certo que conseguir o voto favorável de todos os outros 27 membros da UE à continuação das negociações para a segunda fase permitiram terminar a semana num tom positivo, a sondagem publicada este domingo no “Sun on Sunday” terá deixado May com um sorriso.
Se em agosto havia apenas 29% de pessoas que defendiam a sua continuação na liderança do governo, agora esse número saltou para uns importantes 61%, enquanto 54% confiam nela para levar as negociações do Brexit a bom porto. Há até 35% que prefere que ela se mantenha como primeira-ministra e que vá a votos nas próximas eleições, contra 23% que defende a sua saída já.
Porém, nem tudo são rosas na sondagem do “Sun on Sunday”, já que os Trabalhistas de Jeremy Corbyn surgem à frente na intenção de voto. Margem mínima, é certo (42% contra 41%), mesmo assim suficiente para umas horas de angústia política entre os conservadores.