A margem de manobra do presidente Donald Trump no Senado dos Estados Unidos transformou-se de mera cefaleia em enxaqueca. A derrota do republicano Roy Moore na eleição do Alabama (destinada a encontrar o substituto de Jeff Sessions, escolhido para procurador-geral) deixou a maioria do Partido Republicano no Senado reduzida a um 50-49.
Trump, que se apressou a dar os parabéns ao democrata Doug Jones – que é eleito para um cargo político pela primeira vez – através do Twitter, aproveitou para, através do seu meio favorito, deixar um “eu não disse?” face ao resultado, salientando que Luther Strange, o adversário de Moore nas primárias republicanas, era melhor candidato.
“A razão pela qual dei originalmente o meu apoio a Luther Strange (e os seus números subiram vertiginosamente) é porque tinha dito que Roy Moore não poderia ganhar a eleição geral. Estava certo!”, escreveu o presidente dos Estados Unidos.
Congratulations to Doug Jones on a hard fought victory. The write-in votes played a very big factor, but a win is a win. The people of Alabama are great, and the Republicans will have another shot at this seat in a very short period of time. It never ends!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 13 de dezembro de 2017
Este desfecho no Alabama seria uma surpresa e, mesmo depois de todas as acusações contra Moore durante a campanha (de assédio sexual a menores), ainda parecia improvável até ao dia da eleição, na terça-feira. A vitória de Jones, com 49,9%, contra 48,4% de Moore, ficou bem acima da margem de 0,5% que automaticamente levaria a uma recontagem. Mesmo assim, Moore recusou-se a aceitar a derrota, mas a liderança republicana do Alabama já fez ver ao candidato que a “corrida acabou”, como afirmou Terry Lathan, presidente estadual do partido.
A mudança no Senado não vai acontecer para já, devendo o substituto interino de Sessions, Luther Strange – o mesmo que tinha o apoio de Trump -, permanecer até ao final de janeiro no cargo, o que permitirá aos republicanos negociar o seu corte nos impostos com o atual equilíbrio partidário.
The reason I originally endorsed Luther Strange (and his numbers went up mightily), is that I said Roy Moore will not be able to win the General Election. I was right! Roy worked hard but the deck was stacked against him!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 13 de dezembro de 2017
Tudo se tornará mais difícil para o próximo ano, com a maioria presa por um senador. E se é certo que, em caso de empate, o vice-presidente Mike Pence pode sempre desempatar a favor dos republicanos, não é menos certo que manter as fileiras cerradas em torno de leis importantes implica muito jogo de cintura política para o qual uma margem de um só senador não deixa muito espaço.
Além disso, “a perda deste assento seguro na magra maioria [republicana] no Senado será extremamente dolorosa e Trump será visto como parte do problema”, escrevia o analista Julian Zelizer no site da CNN.